terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A MINHA RENÚNCIA

Desistir, nunca me foi um tema em pauta... como... sei,
nem tão pouco uma expressão usual... nunca a carreguei no colo,
nem a tive como companhia, nem ao meu lado desfilou,
jamais em seus braços abriguei-me, nem em desculpas... a usei.
Mas, a vida foi me espremendo, apertou-me diversas vezes,
pressionou os sonhos, tiranizou os vôos, estreitou o caminho,
amarrotou o olhar e quase me deixou em desalinho,
e depois, foi instalando-se sorrateiramente na alma... como solidão,
e como se não bastasse, invariavelmente quis... retirar-me a ilusão,
fez-me achar, que tinha que sair... levando coisas, carregando sentimentos,
e abster-me da ousadia de ser eu.
E assim, chegou o tempo das escolhas, de renovar.
E constrangia-me a impetuosidade do desistir,
machucava-me... abandonar o velho pelo novo, o não pelo sim,
eu precisava viver... além do somente... existir.
Tive que amenizar a expressão, e passei daquele dia em diante...
em vez de desistir... passei na verdade... a renunciar.
Estava cansado dos outros olhares... da escassez de mim.
Renunciei...
A tudo que não me agregava valentia,
a tudo que me afinava... inibia...a coragem para ser feliz,
ao convívio em descompasso, a relação tomada de torpeza,
o julgo vil, e a sentença descabida...
a ausência de respeito para com o meu destino, e a minha vida.
Renunciei...
Aos que tentam ofuscar o equilíbrio que cultivo na alma,
e aos que querem assombrar a minha luz, a natureza do meu espírito,
a minha busca pela lucidez, o meu eu, a minha calma.
Visível, foi que tive que fazer uma reengenharia dos meus sonhos,
virei até poeta... aprendiz de escritor,
mas, confesso... encontrei também a fugacidade do riso,
e a doidice de viver... de modo intenso, o amor.
Se por ventura... esbarrar comigo nas curvas do tempo,
o tempo que ainda me resta... e me ver sorrindo... sem motivo algum,
há... resolvi ser feliz.
Renunciei... a tudo que me murcha, que me faz perder... o vigor.
Enfim...
Só não renunciei de... mim.

Ari Mota