terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A MINHA PRECE

Quando o brilho da juventude cintilava em meus olhos,
tudo era eterno... eu semeava estrelas em fantasia,
trazia candura no olhar, ouvia os homens sem nenhum desfavor.
Mas... um dia, o tempo foi me escapando, indo embora sem me convidar,
sua fugacidade mais parecia uma ventania,
e eu tive a impressão... que na verdade... ele queria me abandonar,
fugir, evadir-se... como um desertor.
Mas... descabido temor... ele confiou-me o acaso,
compassivo com o meu assombro... inda me permitiu a última reflexão.
Passei a entender a insensatez dos homens e seus desatinos,
e desmereceram a minha reverência, já não ouço os seus discursos vazios,
á eles... distancia... para eles... só contemplação.
Como estou com escassez de tempo... e só me resta talvez um instante,
vou transmudar o que ainda me resta em... prece.
Aclamar... aplaudir a minha alma, que sobreviveu a tudo isso,
e que desesperadamente combate a estupidez... para não se apequenar.
E que eu... mantenha esta chama, e que saiba resistir aos temporais,
e continue até ao final dos tempos suplicando menos... agradecendo mais,
retribuindo em alegria... estar aqui... evoluir sem odiar,
e assim convenço-me... o que sai de mim é vida... gratidão,
consegui perceber a delicadeza de uma melodia, a sutileza de uma poesia,
a grandeza do meu jequitibá, a pureza do canto... do sabiá,
e a sabedoria de vibrar com o florescer das outras almas,
e não desabar... por não mais encontrar o caminho,
ou chegar ao fim do dia e não mais ver a estrada... e ter que seguir sozinho.
Bom mesmo... que me foi permitido respirar a minha alma, sonhar.
E coexistir com os recomeços de mim mesmo... sem desesperar.
E em êxtase oferecer o meu afago ao esplendor do dia,
ao sol que me desperta, ao bem-te-vi que me acorda,
ao vento que brinca com os meus cabelos,
ao meu deslumbramento em provocar a minha lucidez,
ao meu encanto em contemplar o céu azul, a montanha ao longe... o mar.
Delicio-me ao sabor do existir, das pequenas coisas... rir,
extasio-me com as minhas dúvidas, sem abandonar a beleza dos jardins,
da delicadeza das rosas vermelhas, o flutuar do beija-flor.
A minha prece... é por ter nascido com uma luz na alma,
e a coragem de mantê-la acesa, fazê-la...
arder de amor.

Ari Mota

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