terça-feira, 29 de julho de 2014

VIVER ATÉ O ÚLTIMO INSTANTE

Há... dias,
que o fardo pesa descomedido e fica... difícil de suportar:
Paro... respiro, até o fundo de mim mesmo,
arranco do peito todas as certezas,
e cada vez, coloco menos... coisas para carregar,
menos coisas... que não são minhas, e sem nenhum desatino,
saio novamente... parece que sem destino.
Vou jogando fora todos os guardados,
e busco lá no fundo... os mais profundos,
- esses sentimentos que machucam, ferem sem sangrar,
e vou curando a minha alma dessas dores... do interior,
viro silêncio, falta de vento... e sigo, sem me apiedar,
atrás da minha essência: amor.
Há... noites,
que a insônia se instala revestida de solidão,
inibindo-me de extasiar com a perspectiva de ser feliz,
salto na minha profundez, no que escondo e não sei,
e agarro com afinco um resto de mágoa, e a atiro fora,
e em vão, nada mais encontro... nem arrependimento,
nem remorso, das coisas que fiz... que passei,
e hoje... fiquei pequeno diante da própria... imensidão.
Há... dias,
que o fardo provoca escaras na pele... como brasas,
resiliente... reinicio-me... como se fosse um menino,
faço uma assepsia no local... e ali planto... asas,
e nas minhas decolagens... todo e qualquer medo... elimino.
Hoje, envelhecido... fiquei... meio estranho,
amo tudo que me provoca... que me aumenta,
deixa-me feliz, me renova... não diminui o meu tamanho.
Como já não posso escalar muito alto, e para não morrer,
meus vôos... são rasantes nas pequenezas do existir,
olho em demasia... parece isolamento... mas é: amplitude,
ando sozinho... parece abandono... mas é: quietude,
é que no insucesso... cresci, avolumei... sem ninguém agredir.
E hoje...
virei contemplação... cuido de orquídeas, bem-te-vi,
vivo com uma bailarina louca, duas borboletas e um colibri,
gosto de tempestade...  estrondo de relâmpago... ventania,
Albinone... arte... doidice... rock and roll… e poesia.
E todas as vezes que penso no fim...
e das vezes que achei que estava sem destino,
ou das vezes que me perdi... sem querer...descobri
- que estava dentro de mim.
Mas, que o meu último instante... antes de partir,
seja só para agradecer... da vida que levei,
e que em vez de chorar,
eu possa... rir.

ARI MOTA

3 comentários:

Nádia Santos disse...

Ari, meus aplausos, simplesmente maravilhoso. E eu como sempre, me identifico com teus versos.
Um bj

Roselia Bezerra disse...

Olá, Ari
Hoje também estou na gratidão e fiz uma 'poesia' postada sobre isso...
Gostei de ler em prosa o mesmo: Deus é maior do que tudo que nos acontece...
Abraços fraternos de paz e bem

Anônimo disse...

Que texto lindo
bom viver com essa leveza, parabéns!