quinta-feira, 2 de agosto de 2012

É NA ALMA QUE SE REFUGIA O SONHO

O tempo agiu com ironia comigo, roubou-me coisas,
e sei que também envelhece o meu corpo... sem o meu consentimento,
agarra na minha pele, enruga a minha face, e a mim fica afeito,
e tem... subtraído os meus amores, os meus abraços, e deixa... vazios e saudade.
Hoje mais pareço um mago em descompasso, e antes que desapareça a lucidez,
e tudo se evapore, ou acabe em solidão ou perca-se no tempo... em voracidade,
vivo intensamente o que me resta, o tudo que ainda me cabe, e ainda me pertence.
Sou insistência, persistência... uma tamanha resignação.
Tenho que cuidar da alma que jamais me traiu, e está aqui alojada dentro do peito.
Não sou este espectro que se apresenta, sou o interior que ninguém vê e não conhece.
E assim... sou sentimentos, mais alma,
e a apalpo, tateio vez por outra para sentir sua maciez, o afável do seu existir.
Não a deixo endurecer com as pancadas do cotidiano, nem enrijecer com a desilusão,
a guardo em noites de temporais, a escondo em madrugadas de vendavais...
Não permito a sua aspereza, nem a deixo petrificar... espero tudo passar.
Faço, às vezes um retiro, parece até que desisti... e que tudo vou abandonar.
Mas... tudo não passa de uma estratégia, manha de quem sabe esperar.
Preciso de silencio, tapar-me das ventanias.
Preciso de brandura, para não se perder ao meio das agonias.
Obvio é... que engulo as lagrimas com os meus sorrisos,
e faço o que for preciso... para sempre continuar.
Viver é sempre assim... dar mais um passo, como se nunca fosse o último.
Cuido da minha alma como um jardineiro da sua flor,
a rego em noites de desespero, a adubo em dias de sol escaldante.
trocamos caricias... ela é minha calma, e eu o seu calmante,
ela não me abandona... nem eu a ela, como estamos de passagem,
ela me causa deleite, me sacode por dentro e me dá coragem,
mas de todas as qualidades que carregas: uma das mais bonitas é a verdade.
Perdi coisas, e achei assustador. Perdi a juventude, e achei muito.
Como não me permiti perder tudo, fiz dela:
um refúgio dos meus sonhos,
e do meu amor.

Ari Mota

Nenhum comentário: