terça-feira, 1 de dezembro de 2020

SÓ SOBRARAM OS OLHOS













Primeiro foi a distancia...
E veio o desespero em ficar sem o abraço,
- e nasceu um vazio descomedido,
e um encontro abrupto com os nossos desertos.
Depois foi o toque...
Brotou um abismo entre o calor dos corpos,
- um nada, que nos aparta,
um separar que nos apavora.
E como se não bastasse... e, em disfarce,
pregaram-nos uma máscara na cara,
e extraíram... o riso,
arrancaram... dos lábios o beijo,
asfixiaram... a alma,
- E tudo, nublou, sufocou a expressão,
mutilou a linguagem corporal,
e por pouco não intimidou o nosso amor,
inibiu o nosso afeto,
desconstruiu os nossos sonhos,
ofertando-nos, a solidão.
 
De repente… só nos sobrou os olhos,
que a muito perdera o brilho,
e quase apagou,
entorpeceu-se de tanto ouvir a boca balbuciar tolices,
palavrear vazios,
e com ludíbrio nada dizer.
 
De repente... só nos sobrou os olhos,
é hora de redimensionar o olhar,
fazê-lo ressurgir.
Por tempos...
toda a comunicação da alma emergia dele,
toda a manifestação de amor exalava dele,
o seu silencio tinha voz,
seu luzir provocava mansidão.
 
De repente... só nos sobrou os olhos,
e nossos ancestrais já diziam:
Olhos não mentem, nem enganam,
resplandecem... quando felizes,
murcham... quando magoados,
ficam sombrios... quando sozinhos,
e em estase... quando amam.
Como só... sobraram-nos os olhos,
que ele nos revele tocar com a alma,
outra alma,
e nos ensine a contemplar com gratidão.
 
Ari Mota 


Nenhum comentário: