segunda-feira, 14 de setembro de 2020

O QUE PERDEMOS PELO CAMINHO


 












O tempo foi complacente com a minha inocência,
demorei a perceber a distancia abissal entre perder e deixar.
Até dias desses, achava que estava perdendo coisas pelo caminho,
tive que deixar até alguns “eus” pela estrada,
alguns beijos, algumas camas, suspiros, risos,
olhares, ninharias e intimidades,
e intentava voltar para trazer de volta... o que foi ficando,
e olha, olhei por diversas vezes para trás,
que vazio incomensurável nascia aqui dentro, que deserto.
Tardei a ver que era uma trapaça do existir,
eram ciclos para ultrapassar.
O tempo não foi perverso com a minha insensatez,
por que pactuei comigo mesmo, fingir que ele não existia.
E com isso, deu tempo para perceber que nada eu perdia,
estava sutilmente deixando,
descartando os meus excessos,
e foi o maior dos acontecimentos da minha alma:
- e não era vazio, nem deserto, nem solidão o que sentia,
era a minha sutil excentricidade de despertar,
alterar a frequência,
preencher-se de emoção,
e deixa-la livre:
- para cuidar com mais intensidade dos meus amores,
e nunca perder a ânsia de preparar-se para novos tempos,
nem a resiliência de sempre continuar.
O tempo sempre foi compassivo com os meus sonhos,
esperou sentado na esquina do meu destino,
reconheceu os meus limites, e as minhas dúvidas,
olhava-me ternamente em noites de desespero,
e ajudou-me a inundar a alma de singeleza,
entender que muitas das vezes, nada se perde,
deixa-se pelas margens do caminho,
tudo que nos importuna,
machuca, constrange, e desgasta.
O tempo pode ter sido até inexorável na velocidade,
mas consegui entender que nada perdi pelo caminho,
só fui deixando as minhas sobras,
e tudo me foi espetacular,
surpreendi-me... com o que a vida me ofereceu,
e o quanto consegui amar.

 ARI MOTA


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