quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

DESISTIRAM DE MIM

Quiseram colocar uma moldura na minha face,
enfileirar-me aos demais... fazer-me, mais um.
Quiseram... distorcer o meu semblante, enquadrar a minha cara,
e quase... fui pego pela sordidez do acaso, quase fiquei comum...
Bom mesmo... é que podemos nos resgatar vez em quando,
revolver o passado, juntar os pedaços, e realinhar o sonho.
E foi aí... que destoei da multidão...
Como saltei sobre os abismos... de mim mesmo,
e sem medo não segui trilha de ninguém,
olham-me... tentando inventar o tamanho da minha solidão,
sem saber, que de sozinho... nada tenho.
Quem me olha... percebe-me, apenas de outro ângulo,
eu... sou uma, outra perspectiva... tenho uma, outra grandeza,
sem ser mais, sem ser menos.
Só não conseguiram... regrar-me para viver somente o agora,
nem me modelaram como coisa de consumo,
não vou desaparecer pelo uso, nem evaporar como brisa,
nem tão pouco, existir em desespero, ou ser um vento banal,
não serei desassossego, nem efêmera será minha caminhada,
os passos serão lentos, cadenciados, firmes,
se um dia me perder... retomo novamente a estrada,
tomo uma vez mais... todas as poeiras que tomei,
e se preciso, tropeço em todas as pedras que pelo caminho encontrei,
esbarro ali, caio mais adiante, ergo-me outras tantas vezes,
vou lento, no compasso da minha coragem, encarar o meu final.
Não vou passar como uma ventania,
só que... não vim para ser assim... tão conciso,
aqui estou... para ficar e para sempre.
Custou-me, quase uma vida... mais consegui libertar a emoção,
amo descomedidamente... aos que assim comigo agem,
os tenho com ternura, os guardo na alma com brandura,
não sei se são poucos, ou muitos... mas são... os que tenho,
e a eles tudo faço, ofereço colo, beijos e abraço.
E assim... vou descortinando-me ao afeto, ao sentimento, ao agrado,
e antes de ir embora, em minha alma... os deixo perpetuado.
Quero ficar em suas lembranças, e se possível, um dia...
povoar os seus vazios, se eu não os esquecer, jamais me esquecerão.
Na verdade... busco eternizar-me, além dos meus versos,
além da delicadeza e da transcendência da minha poesia.
Vou desfrutar do que mais necessito... silêncio e ousadia.
Ao calar-me... torno-me contemplação.
Ao ousar... mudo, altero-me, equilibro-me... sou mansidão.
Quiseram... tirar de mim a coragem para ser feliz, e ali nada pôr,
nem riso, nem amor.
Desistiram...

Ari Mota

Um comentário:

Denise disse...

"Destoar da multidão"é fazer-se único, uno, especial, distinto...e permanecer assim na alma de quem convive...amar sobre todas as coisas, eternizar-se no afeto e lembranças boas...

Que bom que vc não desistiu de si mesmo!!

Inaugurou o ano com profundidade, Ari, como é de teu feitio. Isso é um presente pra nós, um convite à sempre reflexão. Obrigada!

Bom 2013!
Abraços!