domingo, 27 de março de 2011

VIVER OU FILOSOFAR


Um dia, meio que perdido nas esquinas do tempo,
um velho sábio mostrou-me dois caminhos:
Viver ou filosofar.
O destino já conhecia as minhas escolhas...
só ficou no caminho a me esperar.
E assim... como desconhecia a arte dos vocábulos,
só detinha o saber da luta, a solidão das batalhas,
fui viver.
E de tão intenso, de tão amargo... nunca terminou,
virou rotina, um hábito, acostumei ao desconforto,
mas... resisto às madrugadas de insônia,
rompo as noites de vigília, esperando o sol,
enxugo o suor que vem da alma, aqueço o tremor do corpo,
refaço todos os sonhos... eu me ilumino, sou um farol,
adapto-me as ventanias.
E hoje envelhecido... estou no melhor do meu tempo,
tempo de calmaria.
Faço musica com os meus soluços, virei poeta,
fiz da minha alma poesia, serena... quieta.
Transformo lagrimas em brisa...
como se fossem aragem no meu existir,
no meio da solidão... planto flores,
cuido de borboletas azuis, de amores,
na descoberta aprendi o que é o amor... amar,
hoje além de viver,
passei a filosofar.

Ari Mota

terça-feira, 22 de março de 2011

O DIA QUE ME ENCONTREI


Um dia entrei em casa e o destino estava a me esperar,
as malas prontas, os documentos na mesa... tive que partir,
como cresci olhando o caminho, observando a longa estrada,
segui sem muito recear a caminhada,
segui sem paradigmas, sem saber se um dia eu ia voltar.
Muitos passaram por mim, fiquei perdido em nuvens de poeira,
pedi carona, companhia, sem rumo e sem saber aonde ir.
Resiliente não me senti em desalento, fui seguindo o vento,
sem confrontar as diferenças... fui solidão, ausência,
uns perderam-se nas marginais de sua essência,
e outros tantos voltaram sem sentir o sabor da dúvida,
e o medo de se perder em meio a sua jornada.
E assim, lancei meus pés na via do meu percorrer,
fui escolta de mim mesmo, não receie perder,
tropecei, cai, levantei,
tive que transcender as quedas.
Encarei o que uns a chamam de vida, eu a concebo como existir,
fui combate, insisti, repeti muitas vezes,
fui quase à exaustão, desabei, fui emoção,
nunca desisti.
Mas... houve um dia... que abandonei todas referencias,
e passei a construir a minha história.
Só assim, consegui caminhar livre, voar em devaneios,
passei a ser personagem de mim mesmo, passei a ser eu,
até que um dia eu me encontrei.
Hoje escolho os meus caminhos, meus jardins,
minhas borboletas, minhas flores.
Fiquei tão seletivo, que só ando comigo,
e com meus amores.

Ari Mota

quinta-feira, 17 de março de 2011

TERREMOTOS DA ALMA


Não se esqueça de aperceber estes sismos vindos de dentro,
estes abalos que sacodem sem destruir,
estas vibrações que implodem a alma,
sem agredir.
Somos acometidos destes terremotos imaginários,
destas ondas em revolta, destes tsunamis vestidos de agonia,
destes pingos de lágrimas que dilaceram, sufocam feito maresia,
destes desamparos em noites de solidão, destas madrugadas frias,
em manhãs de aflição.
Mas... não se desespere... entre em estado de resiliência.
Como já não possuímos mais os caminhos, nem estradas para andar,
nem pistas para decolar.
Saia sem destino, sem hora e nem aonde chegar.
Há um talvez lhe esperando ali no horizonte,
um abraço escondido além do por do sol,
um amor em desejo aquém dos seus beijos,
um... outro vento, uma brisa diferente, uma ponte.
Só não desista de ser feliz.
Nem que custe, nem que doa,
nem que o faça caminhar sozinho,
nem que o medo venha lhe fazer companhia,
e em desassossego ser seu vizinho.
Insista...
Às vezes estes sismos vindos de dentro, estes abalos existenciais,
são nossas almas... reclamando carinho,
somos nós mesmos,
querendo amor.

Ari Mota

domingo, 13 de março de 2011

A FLORESTA DE ÁRVORES MORTAS


Despertei sem estar em fúria... levantei como ativista,
em devaneios fui cuidar do meu Bonsai.
Vê... que ouso um soluço de solidão,
e barulhos de lagrimas estatelando ao chão,
como chuvisco ao vento, como lamento,
lástima que se esvai,
mera ilusão do destino, acaso das circunstâncias,
fez-me olhar desavisadamente em minhas rosas vermelhas,
e vi... entristecida, encolhida, agarrada em uma das pétalas,
uma abelha em pranto chorava copiosamente em desespero,
perdida.
Tremia... não era de frio... era de medo, e era de mim.
Fugiu, e em disparada perdeu-se no horizonte.
E fiquei só... não consegui amparar suas magoas,
ouvir sua aflição, nem sequer tocar sua alma,
nem ver sua fronte,
e partiu.
Eu me senti o último dos predadores, máquina de matar.
Elas dão equilíbrio ao ecossistema, polinizam, fecundam a flor,
são protagonistas de toda a reprodução das plantas,
passam de florzinha em florzinha distribuindo amor,
e reconstruindo a cada instante a cadeia alimentar.
Vi que sou parte de uma sociedade egoísta,
de homens que com arma letal,
produzem o colapso da desordem das colônias,
afugentam-nas, fazem perder o rumo, o prumo,
e se transformam em seu único inimigo natural.
Estamos cultivando florestas de árvores mortas.

Ari Mota

terça-feira, 8 de março de 2011

MULHERES


Elas resistem ao desconforto da ausência,
dos adeuses nas partidas, das dores ao parir,
das lagrimas do partir, e esperam toda uma vida,
em resiliência.
São desprovidas de medo,
não fazem segredo, quando pedem amor.
Suportam temporais, marés altas em noite de tempestade,
só não aceitam dizer a idade,
são graciosas, gostosas, enfeitam-se antes de sair,
convertem-se em perfume... são belezas do existir,
são mais que rosas, são teimosas... uma flor.
São nossos alicerces quando chega à solidão,
sustentam-nos na decisão, nos consolam na emoção,
são estímulos nas conquistas, são altruístas,
amam em demasia, são versos... poesia,
são atrevidas... meninas... mulher,
intensas, imensa inspiração.
Fingem brandura, esboçam doçura,
são... meigas, pertinaz, capaz, forte, e dominantes,
lindas amantes... carecem de ternura,
e às vezes nos levam a loucura.
Elas resistem à rudeza do cotidiano,
e em resiliência, fazem do amor efervescência
e da vida perfeição,
seduz nossas almas, coloca beleza na escuridão.
São nossas rosas vermelhas... formosura,
tornam-se nossas loucas bailarinas,
borboletas bebericando a flor,
indefinível ventura,
amor.

Ari Mota

quinta-feira, 3 de março de 2011

AS MÁSCARAS DA ALEGRIA


Se numa dessas casualidades esbarrarem com a alegria,
aperceba se tudo não é um efêmero disfarce, uma fantasia,
um convide fugaz, um relâmpago do destino, um desatino,
um capricho do caminho, ou somente uma breve folia.
Se irromper no seu quarto, como quem rouba dos lábios um beijo,
e atirar-se em seus braços como uma colombina em desejo,
ou te olhar em risos, com a pureza sínica de um arlequim,
ou declarar-se um pierrô apaixonado, em charme, sem fim.
E depois... em desvario convidar para dançar,
sambar até morrer...
podes até por seu bloco na rua,
desfilar até o alvorecer,
ou o minguar da lua.
Mas, não se esqueça que alegria é uma síntese da felicidade,
tropeçamos com ela, em todos os lugares,
em todas as camas, em todos os copos, em todos os bares.
Ponha... seu bloco na rua, caia na folia,
brinque de alegria, usem todas as mascaras,
dance em magia.
Mas... na quarta feira quando tudo terminar,
bata novamente na porta da sua alma... pede para entrar,
ali mora a felicidade... eterna e sempre a te esperar.
Ponha... seu bloco na rua,
mas não abandone sua alma, não a deixe em solidão,
a alegria é como ventania... como máscaras,
felicidade é vida... sem ela podes ficar
sem chão.

Ari Mota