domingo, 29 de setembro de 2024

FUGIR DE SI MESMO


 










Acaso... esse olhar para dentro,
dentro do peito,
for uma descoberta absurda,
do próprio vazio,
e isso lhe fizer andar a esmo,
e esse medo que anda tatuado na alma,
for pelo tamanho da estrada,
pela distancia do sonho,
pela lonjura do amor,
pelo abismo do afeto,
pelo tempo da solidão,
talvez tudo isso... seja apenas,
- porque andas fugindo de si mesmo.
 
Acaso tudo for dúvida... talvez você,
não se aceitou... assim como és,
espelha... tanto nos outros,
que não se achou ainda,
e foste capturado por essa ilusão,
e ela nunca lhe permitiu partir.
E tudo não passou de uma fuga,
de uma procura ensandecida...
de si mesmo,
e não se encontrou em lugar nenhum,
vaga perdido,
sem mensurar o quão grandioso é viver,
e belo... suportar as intempéries do existir.
 
Acaso... essa dúvida que te devora,
nessa escassez de tempo que te consome,
na busca de delicadeza,
que te apequena,
e te cala em noite de desespero,
e sem querer... te silencia,
fazer você não conseguir se encontrar,
- talvez seja apenas porque você fugiu de si mesmo,
não conseguiu se doar a um grande amor,
não conseguiu povoar os seus desertos,
escrever os seus poemas,
ouvir os bem-te-vis,
e o fez se perder ao meio dessa imensa insensatez,
não lhe permitindo... levar a vida com mais leveza.
 
E, se ainda procuras respostas,
e acaso ainda se lembre...
daqueles detalhes que foram ficando,
elas estão todas ali, miúdas e imensas,
a sua espera, a espera do seu olhar.
Mas... procures não mais fugir de si mesmo,
basta... reaprender a se amar.


Ari Mota