segunda-feira, 1 de agosto de 2016

A BELEZA... DE DENTRO

Fugaz... foi quase tudo.
E como uma ventania... quase tudo passou,
quase que soçobrei em estreiteza,
quase... que o existir, me... apequenou.
Mas, depois de tantos temporais,
da imensidão de todas as renuncias,
de todos os desesperos... que tive,
de todos os sacrifícios que fiz,
depois... de muita teimosia,
inda... procurava vestígios de beleza.
Fugaz... foi quase tudo.
Mas, não importei com a dureza da travessia,
a alma ávida em chegar... nunca pensou em desistir,
relutante... destemia a incerteza,
dobrava todas as esquinas... em busca de todas as dúvidas,
ofegante... teimava mais um tanto, sem se ferir,
o que era desalento... transmudou-se para coragem,
o que era aflição se revestiu de calmaria,
e inda... procurava resquícios de beleza.
Fugaz... foi quase tudo.
Corri todos os riscos, sem conhecer a solidão.
Poucos... foram os meus amores,
mas... todos intensos... imensos... maior que eu,
edificaram... toda a minha lucidez,
aquietaram... a minha alma,
e fui me desgrudando das coisas,
das que não poderei levar,
e tudo me foi um disparate, uma infinita emoção.
Fugaz... foi quase tudo.
Mas... inda consegui encontrar beleza,
em tudo que vivi, e passei,
e sei... que hoje pareço mais um mago em descompasso,
um poeta em alucinação,
enlouqueci diversas vezes... sem ninguém saber,
e em delírios... cometi desatinos... amei,
excedi-me... na entrega,
e em descomunal cortesia me... dei.
E hoje... envelhecido... vejo que não foi tão fugaz... assim,
levei uma vida para celebrar o que... tenho de invisível,
das vezes que solene... consenti todas as minhas escolhas,
e aprendi... a não mais sofrer de ausência,
nem tão pouco de lonjuras,
permiti em desvario... até o tempo me vencer,
acreditando em... recomeços,  e nunca no fim.
E hoje, quase não saio...  fiz-me silêncio,
quando busco quietação... vou alma adentro,
busco profundezas... cansei das aparências,
e eu que... inda... procurava beleza,
a encontrei... dançando... aqui dentro.

Ari Mota