quarta-feira, 16 de abril de 2014

JOVEM PARA SEMPRE

Vim... perguntando-me,
por que, não fiquei...  jovem para sempre.
Lembro-me, muito bem... a alma saltava dentro do peito,
a lucidez, atrevida... pulava os abismos da dúvida,
e os olhos sem sutileza... percorria todas as belezas,
e os braços... no abraço, afagava a todos sem muito jeito,
aventurava em delírios, e até com o vento queria... partir,
e meu ceticismo...
apenas, indagava quem é esse que arrasto por aí,
sem saber o tamanho da alma... a dimensão do caminho,
que teria... que seguir.
E hoje, já envelhecido... tudo não passou de uma ilusão,
e entre o que fui e o que hoje sou... só teve um entremear...
de acasos.
E depois de um exausto existir...  de uma quase sofreguidão,
só me foi possível... descobrir que este... que me habita,
este que existe aqui dentro:
Frágil, forte... às vezes ventania, às vezes... calmaria,
ficou clássico... nunca vai envelhecer.
Bem sei... que hoje, meus olhos são mais de águia,
como também a minha distancia... e a minha contemplação.
Bem sei... e como sei...
que hoje, meus braços só têm o tamanho do meu afeto,
e é tão imenso... que virou vastidão.
Vim... perguntando-me,
por que, não fiquei... jovem para sempre, sem saber da solidão.
E então... vivi todas as vicissitudes...
envelheci sem ficar preso ao tempo, verdade é, que sou... o agora,
e fugaz é minha passagem, efêmero a minha viagem...
antes de ir embora.
E sei que envelhecer, é enveredar dentro de si mesmo, e mudar,
de rua, de paradigma, e todos os dias... se restaurar,
desvendando os medos, aclarando as incertezas,
e se redesenhando sem demora.
Vim... descobrindo-me, e o tempo amarrotando a minha pele.
Vim... tingindo a alma com as cores das estações,
tremi, não sei se foi de frio... desesperei-me, não sei se foi de calor,
mais consegui mensurar as conquistas... e as fraquezas,
e descobri que o melhor... não são as coisas:
são os sentimentos, nossas pequenezas,
o encantamento de ter entendido as emoções do amor.
Vim... perguntando-me,
por que, não fiquei... jovem para sempre... até o fim.
Esperei por um tempo... e ninguém respondeu,
e como, tudo está aqui dentro...
continuei sonhando... como um menino, como um poeta,
mudo sempre de sintonia, procuro sempre me descobrir.
Visível é, a presença do meu “anjo” que me olha, me guarda,
e assim... busco na verdade...
a espiritualização de mim.

Ari Mota

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O ENCANTAMENTO DE MORRER... E TER QUE VOLTAR

Olhe... com desvelo,
esse nada… esse vazio... esse vão,
que anda permeando o peito, fustigando a alma.
Essa sensação de que, te esqueceram aqui,
esse olhar de procura, de abandono,
esse desprazer em ressurgir... depois do descair,
esse desgosto... pelo gosto do atrevimento,
esse melindre com os tombos, com o relento,
com essa sinestesia... do desassossego e da solidão.
Talvez tudo isso... seja o que anda assombrando,
os loucos e os homens que só eram brutos...
por desconhecerem a poesia,
e que assustados, hoje temem a hipocrisia,
e vivem carregando esse descabido... descontentamento.
Sabido é... que, este modelo de homem que aí desfila,
mais parece um protótipo, que não deu certo,
perdeu-se na evolução, e no seu intento.
Mas... talvez, o que nos esteja faltando...
é de um socorro das estrelas, de uma espécie mais evoluída,
para nos... devolver o "encantamento,"
fomos acometidos pela incerteza do afeto, do cansaço,
pela dúvida do sonho... pela ausência do centro,
já não mais percebemos o fluído dos anjos,
estamos com tanta pressa... que só lemos textos rápidos,
estamos com tantos amigos... e não conhecemos ninguém,
já não percebemos... que efêmero ficou o abraço,
e que vitimizamo-nos , quando nos pedem coragem,
abatemo-nos , quando é hora dos vôos da descoberta,
apequenamo-nos, quando inda é possível reinventar o afeto,
aviltamos o próprio talento, quando pedem o nosso espetáculo,
e arriscamos buscar lá fora... a força que está... aqui dentro.
Olhe... com desvelo,
inda é possível romper o que nos reveste... o que nos prende a alma,
faça a vida começar todos os dias... com calma,
e que... quando formos embora... das lembranças, levemos doçura,
e que possamos deixar as futilidades... as dúvidas em amargura,
e o uso que fizemos da vida...
seja o encantamento de ter sido... o que fomos:
sereno em todas as batalhas... as que vencemos, as que perdemos,
e em resiliência... saber reinventar o amor em encantamento,
e só levar as emoções, sem as coisas carregar,
e que em todas as outras vidas... que ainda virão,
possamos vivê-las... sem muita solidão,
morrer é ... ter que voltar.

Ari Mota