terça-feira, 26 de março de 2024

UM AMOR VISCERAL














Não se importe...
Se toda a sua emoção,
estiver guardada na timidez da sua alma,
e embrulhada no silencio...
da sua solidão.
 
Não se importe...
Se... só você sabe da sua dor,
da sua loucura,
da sua poesia,
desse seu amor.
 
O que vale...
É você saber quem jamais,
largou das suas mãos,
e ficou ao seu lado... nas ventanias,
quando a vida lhe presenteou os nãos.
 
O que fica...
É quem fica... por dentro,
e sussurra... vem morar em mim.
É quem te provoca a continuar,
e vibra em silencio com suas conquistas,
e vai ficando... como se não houve fim.
 
Não se importe...
Se, doeu viver,
se, depois de tamanha busca,
você tem... quem te ame,
e voa com você sem medo do vazio,
e conhece os seus desertos... sem se perder.
 
Não se importe...
Se não conhecem da sua resiliência,
se tem alguém... que sabe da sua verdade,
o seu tamanho, e o quão é imperfeito,
e por conhecer a lonjura do amanhã, te ama hoje,
é tão você... que se misturou à sua essência.
 
O que vale...
É que o amor... que aí reside,
é atemporal,
e foge ao estereótipo contemporâneo,
é desses que não existem mais...
desses que saíram de moda,
mas...continuam visceral .
 
Ari Mota

  

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

PAREI DE CONTAR O TEMPO


 









Não sei mais...
Se, foi fácil ou não, chegar até aqui.
Lembro-me bem quanto... intrépido fui,
ao fazer as minhas escolhas.
E talvez eu tenha só perdido,
a imensidão do caminho,
ou na interseção do destino,
quando com delicadeza
atravessei os meus desertos,
a procura de um amor, e de sonhos,
que de tanto, tudo se perdeu na lembrança,
e o fiz... só para não seguir sozinho.
 
Só sei que...
faria do mesmo jeito,
até a mesma estrada utilizaria,
e enfrentaria todos os temporais,
que enfrentei.
Não editaria nenhuma das paginas,
que escrevi.
E ratificaria todas as histórias,
que vivi.
Amaria as mesmas pessoas,
que amei
E beijaria a mesma boca,
que beijei.
Só sei que tudo me foi...
Resiliência... e emoção,
e o que me restou foi arrastar,
tudo para dentro da alma,
e de mim... fiz contemplação.
E continuo assim, ávido pela vida,
ouvindo pelas manhãs o bem-te-vi,
rock and roll, blues,
Albinoni, silêncio e ventania,
e no por do sol escrevendo a minha poesia.
E assim venho negociando com o existir,
até pactuei distancia com a solidão.
 
Também pudera...
Quatro dos melhores humanos,
orbita em mim.
E eu os nomeio como:
Uma bailarina louca e três borboletas.
E assim eu vivo e todos os dias me redesenho.
As borboletas amenizam a rudeza,
e a aridez da estrada.
E a bailarina com toda a sua lucidez e loucura,
ensina-me a não contar o tempo,
- só contar os sonhos, que ainda tenho.

Ari Mota

domingo, 28 de janeiro de 2024

O QUE PRECISAS


 








O que precisas...
É manter essa sua versão diferente,
estão todos iguais,
se enchendo de nadas,
materializando a solidão.
 
O que precisas...
É partir para o encontro,
de pele... de alma,
de cama e suor,
e reinventar a emoção.
 
O que precisas...
É sentir mais, se encantar,
com a vida e consigo mesmo,
e não seguir ninguém,
escolher a sua poesia e sua canção.
 
O que precisas...
É quebrar todos os paradigmas,
todas as cercas... todos os limites,
não permitir a fragilidade fazer moradia,
e amar em demasia a vida.
 
O que precisas...
É que fique uma parte de alguém em você,
e você fique em alguém por inteiro,
e que sejam uma entrega infinita,
um seja o outro... sem medida.
 
O que precisas...
Ainda que tenham um ao outro,
é perceber o abismo que os separam,
e os dois se alimentarem da liberdade de cada um,
sem amarras invisíveis e olhares de censura.
 
O que precisas...
Ainda que não compreenda:
- É que a vida é um replantio,
e plantas o que quiseres,
mas, procure ao longo do existir, colher ternura.
 
O que precisas...
Ainda que não saiba:
- É que viver é esse tropeçar em todas as dúvidas.
Mas, só ame sem hesitar... e segue assim,
podes até vez por outra carregar lucidez...
mas, não esqueça de levar...um pouco de loucura.
 
Ari Mota


domingo, 26 de novembro de 2023

NÃO DEMORES MUITO


 








Que desinteligência é essa?
Só amanhã?
Amanhã é muito longe,
é uma eternidade descabida,
é um tempo distante, quase inalcançável.
Desvista dessa espera,
levante deste chão, e encare as ruas,
emerge desse ostracismo,
mergulhe na incerteza do existir,
e não demores muito...
vá realizar... todos os sonhos,
todas as fantasias... que são só suas.
Podes até pegar uma carona com o vento,
nem que seja preciso enamorar com a solidão,
e ter como companhia o medo:
Só não deixe nada para depois do por do sol,
e nem que tudo vire ilusão.
Sabe... aquela escolha,
que ficou enroscada na garganta,
e virou silencio.
Aquela taça de vinho que você não tomou,
naquela noite de desespero.
Aquele salto... que ficou estancado,
a beira de todos os abismos que encontrou.
Aquele amor adormecido,
que você deixou partir...
e nunca declarou.
Sabe... aquela cama que ficou cheia de vazios,
e aquele corpo desnudo que você não abraçou:
- Continuam por aí...
a cama continua fria, espelha-se nos invernos,
e aquele corpo vaga sozinho... com o desamor.
Mas, não demores muito...
Não permita a vida permanecer inacabada,
tudo é tão fugaz, maior que uma ventania.
Corra... há ainda tempo.
Sabe... aquelas dúvidas infantis,
esqueça-as em um canto qualquer,
abandone-as pelo caminho.
e não demore para espantar os seus fantasmas,
esses que te rondam dia e noite,
essas inverdades de te corrói,
essas pequenezas que te destrói.
Desperte... provoque a vida,
e a si mesmo.
Não demores muito para ser feliz.


 Ari Mota


domingo, 8 de outubro de 2023

RESQUÍCIOS DE ONTEM


 












Que saibamos concluir o ontem,
e não arrastar resquícios do que foi ficando,
margeando a estrada.
Que posamos encerrar cada dia,
como se fosse o último,
e com gratidão.
Que posamos desfazer de coisas,
principalmente as desnecessárias,
e colecionarmos sentimentos,
esses incomensuráveis,
esses que sustentam a alma,
e não nos deixa passear com a solidão.
 
Que todo o resquício de ontem,
esses que nos atormenta,
nos inquieta, assombra,
e desequilibra
fique pelo caminho.
Que possamos ter novos sonhos,
um novo amor ou revitalizar o que existe,
e fazê-lo um desatino,
um disparate,
vivê-lo como uma poesia,
para não morrer sozinho.
 
Que sobras de ontem...
não nos ofusque, nem sufoque,
somente seja, o que restou da luta,
e mostre o tamanho da nossa resiliência.
Que possamos...
preparar-nos... para outros desafios,
agora mais resolutos,
esses de desafiar a si mesmo,
e a própria existência.
 
Que nas sobras de ontem...
não fique nem o nosso grito,
e nem o nosso silêncio,
e que nesses restos,
fique somente o medo.
 
Ari Mota

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

SEM PERMISSÃO


 







De início...
Não se preocupe se já fruiu o tempo,
ou se já entardeceu o olhar,
tens é que redescobrir sonhos,
tens é que ter mais profundez,
inda há espaço para se redesenhar.
 
E se tiver que sentir medo,
ou enamorar com a solidão,
aprecie o caminho,
e mesmo sozinho,
torne-se imensidão,
e aproveite para se encontrar.
 
Só encontre o que te faz... sentir vivo,
e viva sem ter que ter permissão de alguém,
que o amor transite livre dentro da sua alma,
e saiba lidar melhor com suas imperfeiçoes,
e saiba que... nada aqui lhe pertence,
e nem... ninguém.
 
Viva sem ter que ter permissão,
para criar o seu mundo, colher a sua flor,
não permita que escolham...
a sua musica, o seu riso, ou defina a sua lágrima,
nem em qual boca ira deixar o seu beijo,
nem quem terá o seu amor.
 
Viva sem ter que ter permissão,
e tenha coragem para ser feliz,
e dance... enlouquecido pelo caminho,
pode até ser à beira de um abismo,
pode ser até com uma louca bailarina,
ou sozinho.
 
Viva sem ter que ter permissão,
experimente despregar essas etiquetas,
esses rótulos da pele... que vicia,
e conhecerás a leveza das coisas,
e o alivio de estar liberto dos outros,
que tanto asfixia.
 
Viva sem ter que ter permissão de alguém.
Que todas as escolhas sejam suas,
que conduza seus erros e acertos,
e nada lhe aprisione,
e que só do amor pela vida...
fique refém.
 
Ari Mota.


domingo, 16 de julho de 2023

REFUGIADO DE SI MESMO


 








Não esqueças...
o que abandonas pelo caminho,
às vezes vai ficando... se perdendo,
revestindo-se de desimportante,
e de tão imperceptível, nem sua alma,
sua maior cúmplice... te a avisa.
E de repente... foi um olhar,
um encontro, um desejo, um amor,
depois à distância,
e você... ao se olhar, se vê... sozinho.
 
Não esqueças...
o que abandonas.
Vez por outra isso, torna-se um hábito,
e passas a não notar:
o que te fere, o que te machuca,
nem do que de hostil te oferecem,
e vai ficando rastros de vazios.
E depois... bem depois, vai-se o sonho,
e essa empatia que tanto falam,
essa que dizem... ser para com os outros,
você já não as tem,
- nem com os seus sentimentos,
nem com suas emoções... seus desafios.
 
E aí, você desperta...
faltando-lhe o toque humano,
e em quase completo desnorte,
vê que... o que te assombra,
é que ao estar conectado no mundo virtual,
estava... tornando-se refugiado de si mesmo.
 
Cuide-se...
de tudo que em você habita.
Conheça o seus desertos,
mas, não faça ali o seu refúgio.
Tenhas os seus medos,
mas, os enfrente com destemor.
Quando a vida lhe provocar,
enfrente-a com o seu silêncio.
Não tenhas horas vazias, leia,
ousa musicas... pássaros,
cascatas, a própria alma,
e só ande com quem exale coragem.
- Faça- lhe... sobrar amor.
 
Ari Mota

quarta-feira, 31 de maio de 2023

O QUE EU PRECISO...









O que eu quero...
e a mim mesmo proponho,
não é a juventude de volta.
Só preciso...
que ela não escape da minha alma,
- que a pele desbote... enrugue,
a visão turve...
as pernas entrelacem no andar,
mas não me deixe abster da estrada
nem deslembrar do sonho.
 
O que preciso...
é muito pouco,
ainda careço de horizonte,
e de lonjura,
vou lento, mas tenho ido em frente,
estou no tempo da vagareza,
e do silêncio.
Já não intento chegar primeiro,
quero mesmo é contemplar o caminho,
existir até aqui... já me bastou,
encontrei todos os meus amores,
já não estou mais... a procura.
 
O que preciso...
É que o tempo se alongue,
e a vida não anoiteça.
 
Ari Mota 

domingo, 30 de abril de 2023

QUANDO VOCÊ ME OLHA









Verdade foi que...
eu não me dei ainda,
com a sua imensidão.
Quando lhe vi... encantei-me,
quase enlouqueci,
com tanta ternura.
O seu olhar me tomou por dentro,
você me olhou com olhos de outras vidas:
Aquelas... que não tive tempo de despedir,
e fui embora.
Aquelas mal resolvidas,
aquelas que nos perdemos pelas circunstâncias,
aquelas esquecidas pelas distâncias,
aquelas... que me virou pelo avesso,
e me restou à solidão.
 
Confesso que...
eu não me dei ainda,
com a sua beleza,
nem com essa luz que brota dos seus olhos.
Você chegou arrastando estrelas,
querendo segredar-me o que foi vivido,
sem derramar os silêncios que teve,
as ausências que experimentou.
E ofereceu-me certeza,
e contentamento,
olhou-me... com olhos de amor,
extasiando-me... em noites de delicadeza.
 
Quando você me olhou...
eu não me dei ainda,
com o esplendor dos seus olhos,
nem que eles estavam falando comigo,
dentro desse seu... encarar que me humaniza.
- Só agora... esbarrando um no outro,
com a alma,
que percebi os sussurros,
que escapam desse terno olhar,
que ainda me reconhece, e quer o reencontro.
Quando você me olha...
eu não me dei ainda,
com a nitidez... do que é isso,
- Só sei que me... eterniza.
 
ARI MOTA


sexta-feira, 31 de março de 2023

ORGULHE-SE


 








Que essa magia do existir,
o faça transcender a si mesmo,
e o permita... desgarrar das pequenezas.
 
Orgulhe-se:
De ter suportado os adeuses,
esses passageiros,
ou aqueles que transfiguraram em sofreguidão.
De ter preenchido os vazios,
esses incomensuráveis...
- com sonhos que duram toda uma vida.
De ter entendido as ausências,
as necessárias,
ou as definitivas.
De ter atravessado,
os seus desertos,
sem se enamorar com solidão.
 
Orgulhe-se:
De estar aí...
insistindo,
descobrindo a aridez do caminho.
De entender que tudo é fugaz,
um relâmpago,
uma rajada de vento, uma ventania.
E que as dores que brotam na alma,
passam,
e tudo... transforma-se em leveza,
só dependerá da sua teimosia.
 
Orgulhe-se:
Daquele dia que sentado,
na solitude da estrada,
esbarrou na própria doidice,
e decidiu ser feliz.
 
Orgulhe-se:
Da sua exuberante vida,
e de tudo que viveu.
- que na última pagina da sua historia,
a última linha não tenha a palavra... fim.
Que você possa registrar:
- tudo VALEU.

Ari Mota


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

QUISERA










E se houvesse um lugar...
que não fosse tão longe assim.
Desses... que é só virar a curva.
Desses... que é só descer a rua,
e encontrar leveza.
 
E se houvesse um tempo...
que não demorasse tanto.
Desses... revestidos de recomeços.
Desses... que se parecem ventania,
transvestidos de delicadeza.
 
E se houvessem humanos melhores,
que não fossem tão hostis.
Esses... com coragem de dizer “eu te amo.”
Esses... que ainda cuidam da alma.
Esses... que ainda sonham sem ilusão.
 
E se houvessem aqueles...
que não tropeçassem em seus próprios vazios,
e soubessem enfrentar a si mesmo,
amenizando o seu desespero,
sem alimentar a sua solidão.
 
E se houvessem os que não tivessem tanta certeza,
Esses... que não morrem por dentro.
Esses... que se reinventam.
Esses... que vão se construindo vida afora,
e manifestam gratidão.
 
Como estou entardecendo...
e já não há duvidas que caibam em mim.
Quisera eu... por um descuido...
por um instante... “estar” nesse lugar e tempo,
e chama-lo de meu,
e leva-la para passear com o meu silêncio,
conhecer do meu amor,
da minha loucura,
sem se importar com o fim.
 
Ari Mota

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

A SENSATEZ DO TEMPO


Que sensatez foi-me... o tempo,
olha-me inofensivo e com ternura.
Às vezes me remete,
naquelas ruas desvestidas que vivi,
onde fluíam momentos invisíveis,
e ensejos de abandono.
Mas, foi lá... que cresci,
e hoje envelhecido,
sei que crescia para dentro e não sabia.
Foi lá... que distraído,
encontrei a minha resiliência,
o meu amor.
E nunca sofri de solidão,
nem de lonjura.
 
Que sensatez foi-me... o tempo,
rememora tudo que passei.
Ocupei-me, tanto em resistir,
que nem me lembro... se sofri.
E hoje o tempo... 
olha-me... como se eu fora um menino,
sussurra-me noite adentro,
como uma aragem descomprometida,
e confessa-me que sobrevivi aos vazios.
É que todas às vezes,
que eles atreveram-se a entrar,
invadir a minha alma...
encontrou despertando,
todos os sonhos que guardei.
 
Que sensatez foi-me... o tempo,
vivi tão intensamente,
que nenhuma espera me foi infinita,
tudo foi uma apoteose sem igual,
uma magia descabida,
e efêmero foi... existir.
Sacie-me de amores,
e envelheci amando,
carregando leveza, lucidez,
e silêncio.
Como, ainda tenho sonhos...
ando seduzindo o tempo:
- a estender o dia de partir.
 
Ari Mota


terça-feira, 13 de dezembro de 2022

OS MEUS AMORES


 









Eu de mim, nada sei...
ainda assim, continuo sendo eu,
nunca procurei ser outro,
fiz tudo o que coube em mim,
e a tudo amei.
E quando tudo for solidão...
nada mais, me será relevante,
existir me foi um assombro,
fui resiliente, fui silêncio,
convivi com quatro dos melhores humanos,
que conheci...
e tudo me foi um encanto... pura emoção.
 
Eu de mim, nada sei,
ainda assim, continuo sendo eu,
não aprendi a ser mais ninguém,
vivi todos os meus temores,
tive fome de estrada,
de destino,
sofri de vazios,
e os preenchi com os meus amores.
E quando tudo for tempestade,
nada mais, me será assustador,
nem relâmpagos, nem ventania,
já não terei mais sentimentos inferiores,
restará contemplar o que vivi,
por amor...
restará transcrever em poesia:
- o que ficou como saudade.
 
Eu de mim, nada sei...
ainda assim, continuarei sendo eu,
e nem quero me aprofundar tanto,
nem descobrir tantas vidas que vivi,
essa me foi o bastante,
foi nessa que eu... os conheci.
 
Ari Mota




domingo, 23 de outubro de 2022

APLAUSOS


 








Como foi bom não saberem...
onde guardastes o sonho,
escondestes o medo,
secastes o pranto.
 
Como foi bom não saberem...
que se alimentou da própria substância,
que se valeu da inconexão com o desistir,
e continuar em silêncio foi seu maior encanto.
 
E que ao sonhar...
não encontrou paradigmas que não estivesse em ti,
tudo estava dentro,
e tudo foi um exagero, e a quase tudo renunciou.
 
Como foi bom não saberem...
da solidão que lhe fez companhia,
e das vezes que a quietude escondeu o grito,
e os desertos que atravessou.
 
Mas... se só, depois de 40 anos,
chegaram os primeiros aplausos,
mesmo assim, veja o tamanho,
o quanto imenso foi sua obstinação.
 
E o que valeu foi o duelo com si mesmo,
a exuberante batalha com a alma,
em lidar com as incertezas,
e das vezes que as engoliu em noites de solidão.
 
Como foi bom não saberem...
que tudo que lhe obstou o caminho,
desmistificou o perigo de viver, o fez voar,
o fez se olhar, se aplaudir.
 
Como foi bom não saberem...
que vagarosamente estava construindo pontes,
crescendo para dentro,
tornando-se maior, uma referência, antes de partir.
 
Que bom que ninguém soube...
que o destino... sem você saber, fez como o mar:
depositou na sua praia, aplausos que são seus,
veio lhe restituir.
 
Ari Mota

domingo, 11 de setembro de 2022

QUANDO FOI QUE TUDO MUDOU


 








Vez por outra...
A razão vem sondar a minha alma,
e com sutileza me indaga:
Quando foi que tudo mudou?
 
E às vezes me pergunto... quando?
Quando a cura emergiu de dentro,
como esse processo irrompeu em mim,
e aqui... aportou.
 
Talvez...
Foi quando me vi sozinho...
e tive que me fazer companhia,
e desnudei-me,
exibindo a minha fragilidade e força,
e deparei com esse que hoje sou.
Talvez...
Foi quando tive que me olhar...
sem estar no espelho,
e atravessar-me como se fora transparente,
e passei a me tratar com mais leveza.
Talvez...
Foi quando tive que me encontrar...
sem nunca estar perdido,
e tive que dimensionar a estrada,
e saber aonde chegar.
Talvez...
Quando tive que me amar... quando me faltou amor.
Quando tive que voar... quando acabou o caminho.
Quando tive que me reencontrar... recompor.
Talvez...
Foi quando deparei com as dores,
e tive que ter paciência com as minhas emoções,
que descem vez por outra dos olhos:
- Só de pensar em partir,
e não saber como despedir dos meus amores.
 
Mas, foi mesmo... quando tive que elevar-me,
e deparei com um universo em mim,
e tive que lidar com essa imensidão,
descobrir este que sou.
E saiba, pode até parecer que tudo foi efêmero,
um relâmpago ensandecido,
uma tempestade de verão,
mas, só eu sei o quanto demorou.
 
Mas... quando tudo mudou...foi:
Quando me amei.
 
Ari Mota



domingo, 31 de julho de 2022

GRATIDÃO



 







Envelhecer foi-me paradoxal...
em nada encontrei lógica.
Para crescer...
foi preciso esvaziar a alma.
Para enriquecer...
não foi preciso amealhar coisas,
e fiquei rico sem saber,
quase me sufoquei com tanta riqueza.
E ela veio de dentro,
estava escondida na minha alma,
e foi colossal.
 
Que disparate foi envelhecer...
eu que tinha certeza de tudo,
hoje nada sei.
Eu que estava aprisionado com a insensatez,
hoje ando esbarrando com a lucidez.
Que privilegio foi chegar até aqui,
foi tanta vida, tanta emoção,
é que... não me permitiram conhecer a solidão,
e tudo amei.
 
O tempo foi-me um desatino,
diversas vezes... pedi... vá mais devagar.
É que convivo com gente destemida,
que me permitem estar onde estou,
e entendem que eu... não iria brilhar em outro lugar,
senão com eles...e aqui.
E esses são... os três melhores humanos que conheci,
que olham nos meus olhos,
falam sem dizer uma palavra... que me ama,
e levantaram-me todas as vezes que caí.
 
O tempo... só ele... mais ninguém,
desconstruiu a minha pequenez,
fez-me silêncio... contemplação,
colocou leveza na minha alma,
ensinou-me a ter pela vida,
e por tudo que vivi:
GRATIDÃO.
 
Ari Mota.


terça-feira, 28 de junho de 2022

NUNCA DESEMBARQUE DE SI MESMO


 








Que... esta dinâmica de sempre recomeçar,
nunca acabe.
E saiba...
quem perde o caminho... já estava indo,
Já estava... enfrentando os seus próprios medos,
Já estava... afrontando os seus fantasmas.
E... é só refazer a trajetória,
e não há mais nada a fazer... senão ir,
viver a sua história.
 
Que... sua coragem seja revestida de metáforas,
reafirmando a força que te equilibra.
Que... nessas horas de tempestades,
em que a vida chega a lhe sacudir,
não o amedronte com as incertezas,
nem que o caminho o fizer dançar com a solidão.
Que... você possa abrandar o desespero,
e silenciar a aflição.
 
Mas...
Nunca desembarque de si mesmo,
não te abandones.
Não deixe suspenso o seu destino... Vá.
Podes até parar e se orientar para os voos,
mas, não permita que batam as suas asas.
Podes até pedir auxílio nas estradas,
mas, não permita que impeçam os seus passos,
nem altere suas coordenadas.
 
Nunca desembarque dos seus sonhos,
arraste-o... vida afora.
Obstine-se mais um tanto,
teime como se fora a primeira vez,
resista como se não tive outra escolha.
Remova da alma, toda a sua sinergia,
e tenha tempo para amar e ser feliz,
e que essa seja a ordem da ousadia.
 
Nunca desembarque de si mesmo,
desperte o que habita em ti.
Caminhe para dentro:
Há vazios a ser preenchidos,
há energias sem utilidades,
há desertos intactos, e sem divisória.
E, é lá... que existe uma força maior, incomum,
que vai embelezar a sua trajetória.
 
 ARI MOTA



terça-feira, 24 de maio de 2022

AS DORES QUE SENTI


 









Quando doeu-me... viver,
e me senti... à deriva,
você estava ali ao meu lado,
como um alívio ao meu desespero,
como uma porção lenitiva,
sem ninguém saber.
 
Quando doeu-me... existir,
e a vida me bateu,
você já estava dentro de mim,
como uma guardiã de outras vidas,
provocando o meu despertar,
atiçando o meu reagir.
 
Quando doeu-me... a solidão,
e a ausência quase me fez companhia,
já existíamos um para o outro,
e visceralmente éramos um só,
você já me fazia reviver por dentro,
já descontruía a minha aflição.
 
Quando doeu-me... o tempo da velhice,
e a minha pele amarrotou,
você compassiva... lembrava-me da lucidez,
do fascínio que tive em transpor os limites,
e a sedução em conseguir tudo em silêncio,
e me pedia que não me desiludisse.
 
Quando doeu-me... o medo,
e fiquei sozinho... sem estrada,
você foi embora comigo... sem destino,
ultrapassamos as divisas dos nossos desertos.
E você me... permitiu voar para dentro,
em busca do nosso segredo.
 
Quando tudo doeu...
Só o seu amor acalentou-me a alma.
E existir ao seu lado, foi-me... um espetáculo,
você atenuou todas as dores que senti:
- e espero você... em outras vidas,
você foi o meu refúgio... foi maior que eu.
 
Ari Mota


sábado, 30 de abril de 2022

O ÚLTIMO SENTIMENTO










Se... faltou-lhe na emoção escondida,
e no último dos sentimentos,
o abraço que você nunca deu.
Se... faltou-lhe no silêncio que arrastas,
e na frieza das palavras,
que você nunca disse:
estou aqui “esse sou eu”.
 
Cuidado... se em descuido,
perguntarem-lhe,
do riso e da leveza,
da vida que não lhe condiz,
e inadvertido dizer:
doeu-me a alma,
faltou-me... ser feliz.
 
Atente... para  a fugacidade do destino,
e o que carregas agarrado à pele,
- pode ser tão somente uma ânsia descabida.
Cuidado se esqueceu de enamorar a si mesmo,
e autômato colecionou vazios,
empilhou ressentimentos,
embruteceu o olhar, a vida.
 
E distraído permitiu escapar...
a última das emoções,
essa que encanta, extasia,
completa todos os nadas,
preenche todos os silêncios,
desconstrói qualquer solitude,
estremece... arrepia.
 
Que existir não lhe doa,
que ao menos seja um espetáculo,
um ritual lúdico e não um desconforto,
que pequenas partidas virem saudades,
e chegadas... encantamento apoteótico,
e um olhe para o outro com amor,
e sejam assim... até o fim... um porto.
 
Que para os tormentos, tenha lenitivos,
e saiba reger com maestria a solidão.
Para a aridez da alma... o mais puro bálsamo,
e saiba transpor os seus desertos,
em busca do encontro, da entrega.
Que em seu último sentimento,
esse que habita em ti, ainda possa dizer:
Eu te amo.
 
Ari Mota.


terça-feira, 22 de março de 2022

EQUALIZE










Que durante as tempestades,
tente desvendar os paradoxos,
que incomodam a tua alma.
 
Talvez o que está aí dentro...
não seja solidão,
e o que você chama de vazio...
seja apenas a tua ausência:
- excessos de outros,
e escassez de si mesmo.
 
E nesta busca você perceba...
que sonhos escapam com tempo,
e por onde andou... você não mais cabia,
seu brilho ofuscou outros olhares,
e tentaram tolher a plenitude do seu voo,
e tudo isso o fez... seguir a esmo.
 
Que depois da tempestade...
Possa,
equalizar a tua loucura,
com a tua lucidez.
Viva como se tudo fosse hoje,
sem precisar ser... um outro,
sem precisar sair em sua própria procura.
 
Gaste todas as vidas agora,
exista para descortinar-se,
ame-se... sem se consumir,
dentro deste silencio que te devora.
 
Seja intenso num só dia,
transpasse-o com leveza,
seja mansidão invés de ventania,
e silencie em delicadeza.
 
Sofra de amor, mas nunca de lonjura,
e que ele resida na tua alma,
pulse livre, e exale entrega,
e que enquanto durar... seja por ternura.
 
E se um dia a tempestade voltar...
Vá ao fundo de si mesmo,
equalize as respostas,
reconstrua-se sem medo de amar.
 
Equalize o medo e a coragem,
se tiver medo...
que seja, o de não encontrar a coragem em ti.
 
Ari Mota