De tudo ficou a certeza da dúvida, e que nada sei.
Quando menino, o mundo cobrava-me o que ser,
quando crescer.
Vieram às desconfianças patológicas, quase virou maluquice.
Saí à procura de referência, corri aos livros,
desespero de juventude... pura tolice.
Fui procurar o “eu” em outra história e outras almas,
quase fui abatido pelo vazio, pela ausência de mim.
O tempo implacável fluiu como um vendaval,
fui esticando sem crescer.
Por um triz, quase nasceu um vão aqui dentro, sem igual,
sorte foi que a circunstância não me deixou fútil,
nem a necessidade, vil.
Sobrevivi à rudeza do cotidiano e a estupidez juvenil.
Eu que necessitava ser alguém quando crescesse,
tornei-me “eu” sem saber.
Errei em demasia, corrigi sem temor e acertei em analogia,
houve tempos de derrotas, outros de alegria,
e eu que não sabia quem seria... encontrei-me.
E na descoberta, cresci... sou assim, do meu tamanho.
Hoje não mais me pergunto o que vou ser quando crescer,
a pergunta do agora é o que vou ser quando envelhecer,
e esta é a questão do amanhã, acontecer sem iludir.
Como já fui surrado pelo existir,
hoje quem faz as escolhas sou eu e minha alma,
vivo em volta dos meus desejos, que me acalma,
e antes que vá a lucidez.
Danço em madrugadas de solidão e ao léu,
e sempre... com uma louca bailarina, outra vez,
ao som de uma orquestra de borboletas azuis,
tocando Ravel.
De tudo ficou a certeza do sonho,
e como sou aprendiz... de mim.
Hoje sei o que vou ser quando envelhecer:
Feliz.
E você?
Ari Mota