Se
acaso, pressentir com clareza a si mesmo,
e
perceber que, o que acumulou vida afora,
em vez
de... ter te libertado, te aprisionou,
e essas
quinquilharias,
e tudo
que conseguiu entesourar,
pode ter
te edificado um ser fútil e raso,
e que o
desespero às vezes te acena,
e lhe
rouba a emoção,
desconstruindo
a solidez que achas que tens,
e saber
que, essas coisas turvam o sonho,
inibem
os vôos, e só se apequena,
e
obscurecem o espetáculo do encontro,
ofuscam
a delicadeza do abraço,
ensombram
a percepção da flor,
impossibilitando
a singeleza de pactuar a vida,
e
repartir a solidão.
E neste
talvez, e nesta incomensurável dúvida,
perceberes
um desalento na alma,
uma
desmedida aflição,
- tente
o amor.
Se
porventura, olhar em profundidade,
mergulhar
nesta imensidão de dentro,
e
deparar com um vazio descomunal,
estéril,
e essa
coisa apertar o peito,
essa que
incomoda sem dilacerar,
e não
conseguir definir este ardor,
e dar-se
conta de uma ânsia descabida,
um
descontentamento estranho,
uma
apatia,
uma
insensibilidade pela comoção,
uma
ausência de energia:
talvez,
isso tudo, sejam os excessos,
essas
coisas penduradas do lado de fora da alma,
frias,
cinzas, frívolas, que só nos ilude,
mas, inda
há tempo de preencher este vão,
derramar
afeto e quietude.
- tente
o amor.
De todas
as hipóteses, só uma é factível.
- Ir...
sem nada levar.
Excetuando
a alma, essa sem limites,
essa que
não tem como mensurar,
essa que
armazena, a sutileza de uma entrega,
a finura
de um viver para o outro, até o fim,
a leveza
de um deixar o outro livre e nada impor,
essa que
cuida dos nossos devaneios, nossas desventuras,
essa que
aceita a nossa poesia,
e
silencia com as nossas loucuras,
e leva o
nosso amor.
Ari Mota
2 comentários:
Muito bonito
Quis reler eu e a vela. Linda. Mas nao esta mais disponivel
Postar um comentário