Dia
desses esbarrei nos rascunhos da minha vida,
encontra-los
foi um acaso... e estavam ali,
nas
minhas profundezas... escondidos.
-
Num canto ermo da alma,
quase
adormecidos.
Eu
que os tinham como restos de mim,
fui
subjugado pela minha própria verdade,
e
percebi que eram fragmentos da minha construção.
-
De Tudo que me tornei,
da
minha imensidão.
Eram
rascunhos... das minhas tentativas,
adormeciam
ali... como se estivessem a minha espera,
compassivos
olhavam-me querendo me dizer: valeu.
-
Eram rascunhos dos meus sonhos,
rabiscos
da minha trajetória... era eu.
E
olha... cheguei a pensar que não mais existiam,
que
ficara perdido pelo caminho,
eu
só não sabia que eles estavam dentro de mim.
-
Ainda interferindo nos meus percursos,
e
definindo com quem ir... até o fim.
Há!
Esses rascunhos...
Estavam
ali... espalhados, rabiscados, desarrumados,
como
se fora remexidos por um vendaval.
-
mas só agora entardecido,
sei
que no inicio fui um rascunho, e hoje atemporal.
Eu
sei que já fui um esboço,
infinitos
ensaios, uma soma de reinícios,
e
hoje ainda estou aqui... como um aprendiz.
-
e continuo incompleto, evoluindo,
precisando
de muita coragem... para ser feliz.
E
assim... de inicio a vida me surgiu irreverente,
amedrontou-me,
quis conter-me, inibir o voo,
e
aí... fui tentar sem disfarce, experimentar o inusitado,
e
para conseguir gerei tantos rascunhos... sem querer.
-
aprendi a suportar as minhas tempestades,
e
intrépido... fui viver.
Ari
Mota
domingo, 24 de novembro de 2024
RASCUNHOS
domingo, 27 de outubro de 2024
REIMAGINAR
Se um
dia... acordar estranho,
e um
sentimento pretérito invadir sua alma,
o
sacudir sem dó,
e doer
sem tamanho,
o fizer
embriagar-se de passado,
e de
coisa que já tinha esquecido,
fazer-lhe
reimaginar o que se perdeu no tempo,
das
estradas vazias, e da cama sem ninguém,
dos dias
que caminhou... só.
Lembre-se...
você não está mais lá, você partiu,
agende
uma reunião consigo mesmo,
pode ser
nessas noites de silêncio e reflexão,
e
reimagine todos esses desertos que atravessou,
todas as
vezes que sobreviveu a solidão
e não
desistiu.
O que
tens a fazer é comemorar quando tudo mudou,
quando...
sem querer,
experimentou
a sua coragem,
quando
na verdade cansou dos seus medos,
e
extraiu os excessos que acumulou na alma,
essas
quinquilharias guardadas... sem serventia,
essas
inutilidades dos pensamentos,
que
ficaram sedimentadas visceralmente,
quando
teve que fazer uma assepsia.
Mas, que
de tudo... fique apenas,
o
quanto... extasiou-se por ter extraído de dentro,
quem um
dia tanto te... machucou.
E se
tiver que reimaginar a vida,
só reescreva
os dias de encanto e ternura,
só
reedite as gargalhadas infinitas que deu,
os
beijos proibidos que roubou...
e
aqueles dias insanos que viveu.
Só
reimagine... das vezes que amou,
faça uma
releitura da sua história,
arranque
aquelas paginas,
que
constam aqueles que te odiou.
Só
reimagine das vezes que foi feliz,
é
chegada a hora de apagar...
o que
não te fez bem,
e não se
importe se ainda restou... cicatriz.
Reimagine...
o
espetáculo que foi chegar aonde chegou...
o quanto
evoluiu,
o quanto
descobriu,
o quanto
te transformou.
Ari Mota
domingo, 29 de setembro de 2024
FUGIR DE SI MESMO
Acaso...
esse olhar para dentro,
dentro
do peito,
for uma
descoberta absurda,
do
próprio vazio,
e isso
lhe fizer andar a esmo,
e esse
medo que anda tatuado na alma,
for pelo
tamanho da estrada,
pela
distancia do sonho,
pela
lonjura do amor,
pelo
abismo do afeto,
pelo
tempo da solidão,
talvez
tudo isso... seja apenas,
- porque
andas fugindo de si mesmo.
Acaso
tudo for dúvida... talvez você,
não se
aceitou... assim como és,
espelha...
tanto nos outros,
que não
se achou ainda,
e foste
capturado por essa ilusão,
e ela
nunca lhe permitiu partir.
E tudo
não passou de uma fuga,
de uma
procura ensandecida...
de si
mesmo,
e não se
encontrou em lugar nenhum,
vaga
perdido,
sem
mensurar o quão grandioso é viver,
e
belo... suportar as intempéries do existir.
Acaso...
essa dúvida que te devora,
nessa
escassez de tempo que te consome,
na busca
de delicadeza,
que te
apequena,
e te
cala em noite de desespero,
e sem
querer... te silencia,
fazer
você não conseguir se encontrar,
- talvez
seja apenas porque você fugiu de si mesmo,
não
conseguiu se doar a um grande amor,
não
conseguiu povoar os seus desertos,
escrever
os seus poemas,
ouvir os
bem-te-vis,
e o fez
se perder ao meio dessa imensa insensatez,
não lhe
permitindo... levar a vida com mais leveza.
E, se
ainda procuras respostas,
e acaso
ainda se lembre...
daqueles
detalhes que foram ficando,
elas
estão todas ali, miúdas e imensas,
a sua
espera, a espera do seu olhar.
Mas...
procures não mais fugir de si mesmo,
basta...
reaprender a se amar.
Ari Mota
quinta-feira, 29 de agosto de 2024
NUNCA DESISTI DE MIM
Eu não
entendia de temporal,
nem de
ventania,
nem que
a rudeza do cotidiano...
poderia
me machucar,
e sem
conhecer das travessias:
Fui...
desvendar
os sonhos,
sem
bagagem,
sem
saber onde... ir.
E fiz da
inocência...
a minha companhia.
- Eu não
entendia de ir sozinho,
nem
das horas de solidão,
nem da
dimensão da estrada.
Mas... bom
mesmo que...
em uma
curva do destino,
uma
bailarina louca...
agarrou
na minha alma,
e
passamos um a construir o outro,
e foi
muito atrevimento... viver assim,
e fui...
fui mais longe,
conhecer
da minha imensidão.
- Eu não
entendia do caminho,
nem dos
desertos que ira encontrar,
nem da
aridez das pessoas.
Mas...
adotei o silencio,
escondi
os sonhos,
ocultei-me
do mundo,
e fui...
e na
hora do desespero,
mergulhei
em mim mesmo,
fui me
permitindo... apenas continuar.
- Eu não
entendia do que levar,
amealhei
tantas quinquilharias em vão,
e tudo
me pesou em demasia,
com o
tempo descartei os meus excessos,
e passei
a carregar tão pouco,
hoje não
levo nem a certeza,
e nem as
minhas dúvidas... deixo tudo fluir,
como se
não houvesse o outro dia.
Hoje...
cuido da minha alma,
a inundo
de amor,
e os
meus olhos... de contemplação.
- Como
ainda... tudo me é... teimosia,
pactuei com
a alma, não falarmos de... fim,
e não
posso admitir outra coisa, senão seguir,
embora...
e as vezes, o tempo me olha com desdém,
e eu nem
ligo... eu nunca desisti de mim.
Ari Mota
domingo, 28 de julho de 2024
DESADORMECER
Coisificaram
tanto...
Esvaziaram
tanto...
Parece
até... que a emoção desfaleceu lá dentro,
e os
olhos não resplendem mais,
nem com
vida,
nem com
o amor.
Ensoberbeceram
em demasia,
e foram
perdendo o encanto,
a magia
do contemplar.
Submergiram-se
em uma frieza coletiva,
parece
que tudo nos devora,
e não temos
mais tempo de se opor.
Mas...
Eu... tenho
agarrado em mim,
uma
energia descomunal.
Sempre
quis uma chance para fluir,
sempre quis
ser diferente,
uns a
chamam de sonho, outros de resiliência.
E ávido
por saber,
tive que
desadormecer.
Mergulhei
nos livros e conheci universos,
compreendi
dos acertos e dos meus fracassos.
E... foi
só assim que a alma ganhou afluência.
Mas..
nem tudo
foi tempestade,
nem tudo
virou sofreguidão.
Só
cresci depois que envelheci,
e tive
que enfrentar a mim mesmo,
e cuidar
desse templo.
Fui
experienciar de tudo um pouco,
desadormeci.
depois, me
arvorei em ser poeta,
e hoje
escrevo pra mim
- sou
quase solidão.
Mas... desadormecer,
foi o
que de melhor me ocorreu.
Encontrei
um universo só meu.
Na
solitude que lá existe,
aproveito
da minha própria companhia.
No
silencio que lá existe,
aproveito
para ouvir a própria alma.
E lá, ando
livre... com os meus amores,
restauro os sonhos e a emoção.
Ari Mota
domingo, 16 de junho de 2024
O QUE ME SALVOU
O que me
salvou, foi não ter certeza...
- De
nada.
Revesti-me... de todas as dúvidas possíveis.
E crível...
só foi o que encontrei por dentro... de mim.
E foi
uma vagareza sem fim,
tardou
uma vida,
quase
desisti.
E hoje
sei que:
- Livre
é o homem que jamais recusa ser o que é.
E assim,
sou eu...
Incompleto
e aprendiz.
E
inexorável foi-me o destino,
não sei
se me ofereceu tanto,
só sei
que tirei proveito de tudo.
Embebedei-me
de poesia,
embrulhei-me
de silêncio,
e
transcendi a todas as solidões,
e a vida
por diversas vezes,
quase me
fez perder o folego,
algumas
lagrimas desceram pelo rosto,
mas...
hoje por ter tantos amores,
sou
louco e feliz.
O que me
salvou foi só ter a certeza,
que o
meu amor é um tanto diferente.
E ele
não esconde nos meus olhos:
- ele um
dia se apagará.
Nem no
meu abraço:
- ele irá
enfraquecer.
Nem no
meu toque:
- ele
pode ser fugaz como um temporal.
Nem nas
minhas palavras:
- elas
podem desaparecer com o vento.
Nem adormecer
no meu coração:
- ele um
dia deixará de existir.
O meu
amor se eterniza em outro... lugar,
vou te
amar com a minha alma:
- Nesse
lugar sagrado... nesse templo.
E estará
comigo em todas as outras vidas,
e nesta...vou
sussurrar baixinho “eu te amo”,
até
quando eu partir.
Ari Mota
domingo, 19 de maio de 2024
EFÊMERO VENDAVAL
Sei
que o tempo se esgota,
mais
parece um efêmero vendaval,
mas...
mesmo assim, é um dispare existir,
um
desatino continuar.
Eu
muita das vezes esqueço-me dele,
e
nem sei por onde ele anda, e nem quero saber,
é
que ele, quase me fez não encontrar algo pelo que viver,
já
quis descontruir o meu maior sonho...
que
era nunca se esvaziar.
Verdade
foi que sonhei em demasia,
quis
ser e ter tanta coisa,
quase
me sufoquei, e tudo me doeu.
Mas...
optei em não acumular sonhos,
venho
realizando um por vez,
e
fiz todos caberem, dentro da minha ousadia.
E
hoje entardecido, o ultimo sonho é ser “eu”.
E
assim...
entre
eu e o tempo... instalamos um abismo,
e
jogamos lá dentro: o ontem e o amanhã,
pactuamos
só viver o momento,
e
continuar sonhando até o fim.
E
existir me foi apoteótico...
Saí...
desesperado à procura de um amor.
E
num descuido juvenil, uma bailarina louca...
esmurrou
a porta da minha alma,
e
saímos mundo afora,
vivendo
nossa doce loucura.
E
esse sonho se perpetuou nas estrelas,
e
um... nunca desistiu do outro, e até hoje dura.
Depois
três borboletas,
surgiram
rodopiando em nossa volta.
Preencheram
todos os nossos vazios,
povoaram
os nossos desertos,
inundaram
de amor a nossa solidão.
Passamos
a carregar leveza...
e
gratidão.
E
se de tudo,
tudo
for impermanência...
e
desafio,
que
venham os temporais, as incertezas,
-
que entro com a minha resilência.
Ari
Mota
terça-feira, 26 de março de 2024
UM AMOR VISCERAL
Não se
importe...
Se toda
a sua emoção,
estiver
guardada na timidez da sua alma,
e embrulhada
no silencio...
da sua
solidão.
Não se
importe...
Se... só
você sabe da sua dor,
da sua
loucura,
da sua
poesia,
desse
seu amor.
O que
vale...
É você saber
quem jamais,
largou
das suas mãos,
e ficou
ao seu lado... nas ventanias,
quando a
vida lhe presenteou os nãos.
O que
fica...
É quem
fica... por dentro,
e
sussurra... vem morar em mim.
É quem
te provoca a continuar,
e vibra
em silencio com suas conquistas,
e vai
ficando... como se não houve fim.
Não se
importe...
Se, doeu
viver,
se,
depois de tamanha busca,
você
tem... quem te ame,
e voa
com você sem medo do vazio,
e
conhece os seus desertos... sem se perder.
Não se importe...
Se não
conhecem da sua resiliência,
se tem
alguém... que sabe da sua verdade,
o seu
tamanho, e o quão é imperfeito,
e por
conhecer a lonjura do amanhã, te ama hoje,
é tão
você... que se misturou à sua essência.
O que
vale...
É que o
amor... que aí reside,
é
atemporal,
e foge ao
estereótipo contemporâneo,
é desses
que não existem mais...
desses
que saíram de moda,
mas...continuam
visceral .
Ari Mota
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024
PAREI DE CONTAR O TEMPO
Não sei
mais...
Se, foi
fácil ou não, chegar até aqui.
Lembro-me
bem quanto... intrépido fui,
ao fazer
as minhas escolhas.
E talvez
eu tenha só perdido,
a
imensidão do caminho,
ou na
interseção do destino,
quando
com delicadeza
atravessei
os meus desertos,
a
procura de um amor, e de sonhos,
que de
tanto, tudo se perdeu na lembrança,
e o fiz...
só para não seguir sozinho.
Só sei
que...
faria do
mesmo jeito,
até a
mesma estrada utilizaria,
e
enfrentaria todos os temporais,
que
enfrentei.
Não
editaria nenhuma das paginas,
que
escrevi.
E ratificaria
todas as histórias,
que vivi.
Amaria
as mesmas pessoas,
que amei
E
beijaria a mesma boca,
que
beijei.
Só sei
que tudo me foi...
Resiliência...
e emoção,
e o que
me restou foi arrastar,
tudo
para dentro da alma,
e de
mim... fiz contemplação.
E
continuo assim, ávido pela vida,
ouvindo pelas
manhãs o bem-te-vi,
rock and roll, blues,
Albinoni, silêncio e ventania,
e no por
do sol escrevendo a minha poesia.
E assim venho
negociando com o existir,
até pactuei
distancia com a solidão.
Também
pudera...
Quatro
dos melhores humanos,
orbita
em mim.
E eu os
nomeio como:
Uma
bailarina louca e três borboletas.
E assim
eu vivo e todos os dias me redesenho.
As
borboletas amenizam a rudeza,
e a
aridez da estrada.
E a
bailarina com toda a sua lucidez e loucura,
ensina-me
a não contar o tempo,
- só
contar os sonhos, que ainda tenho.
Ari Mota
domingo, 28 de janeiro de 2024
O QUE PRECISAS
O que
precisas...
É manter
essa sua versão diferente,
estão
todos iguais,
se
enchendo de nadas,
materializando
a solidão.
O que
precisas...
É partir
para o encontro,
de
pele... de alma,
de cama
e suor,
e
reinventar a emoção.
O que precisas...
É sentir
mais, se encantar,
com a
vida e consigo mesmo,
e não
seguir ninguém,
escolher
a sua poesia e sua canção.
O que
precisas...
É
quebrar todos os paradigmas,
todas as
cercas... todos os limites,
não
permitir a fragilidade fazer moradia,
e amar
em demasia a vida.
O que
precisas...
É que
fique uma parte de alguém em você,
e você
fique em alguém por inteiro,
e que
sejam uma entrega infinita,
um seja
o outro... sem medida.
O que
precisas...
Ainda
que tenham um ao outro,
é perceber
o abismo que os separam,
e os
dois se alimentarem da liberdade de cada um,
sem amarras
invisíveis e olhares de censura.
O que
precisas...
Ainda
que não compreenda:
- É que
a vida é um replantio,
e
plantas o que quiseres,
mas,
procure ao longo do existir, colher ternura.
O que
precisas...
Ainda
que não saiba:
- É que viver
é esse tropeçar em todas as dúvidas.
Mas, só
ame sem hesitar... e segue assim,
podes
até vez por outra carregar lucidez...
mas, não
esqueça de levar...um pouco de loucura.
Ari Mota