quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

TEMPESTADES

Que suas tempestades... seja uma breve ventania,
que a chuva torrencial... vire brisa,
que as trovoadas... transmudem em acordes musicais,
e os relâmpagos que brilham e deslumbram... desvaneçam,
e tudo volte a ser... calmaria.
Mas, se até lá... o temporal teimar em ficar mais um tanto,
e se ver sozinho...
nunca deixe de desdenhar a solidão,
dispa-se, desnuda-se por inteiro,
vire pelo reverso, pelo avesso... se, preciso for,
aclare esses segredos aí... na alma,
escondidos, infiltrados nessas suas lonjuras,
na imensidão dos seus entardeceres,
na lucidez das suas loucuras,
no silencio do seu amor.
E se essas intempéries... impor um novo caminho,
não hesite... em atravessá-lo, enfrente as vicissitudes,
vá... sem qualquer certeza,
se não conseguir ver a direção,
siga o vento... o perfume do talvez,
vá... onde seus olhos se encantam,
onde outros amores te recebam,
e sintam... o que você tem de melhor,
a sua mais delicada porção.
Mas... se mudarem o seu destino, o ponto de chegada,
ou ofuscarem os seus devaneios...
que possa... se achar ao meio desses temporais,
e rastelar as folhas secas,
recolher os galhos ressequidos no chão,
e preencher esses vazios abissais.
E se... os caminhos se cruzarem,
e perdido... e na dúvida não ter um rumo a seguir,
ver esvaziar o horizonte, ficar a esmo,
faça brotar alma adentro, faça reacender a sua luz,
o que de entranhável reside em si mesmo.
Existir é... essa temeridade, esse desatino,
é esse equilibrar-se a beira dos abismos,
perder-se ao meio da ilusão,
achar-se no acaso das circunstâncias,
e continuar sem aflição.
Que... todas as vezes que acabar o caminho,
possa... se encontrar depois do medo, com suas verdades,
com outros sonhos... em outro alinho,
permitindo a alma fazer novas escolhas,
sem criar novas tempestades.
Que... todas as vezes que descompassada ficar a vida,
tenha coragem de continuar feliz,
e... se, lhe tirarem a estrada, atravesse o mar,
e... se, quebrarem as velas, atreva-se... a nadar,
nem que seja... entre as ondas e o rochedo,
entre o vento... e o próprio medo.

Ari Mota


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