Vez em quando... vem à memória,
os idos tempos, em que à míngua... eu andei,
quando a aridez tomou de assalto a minha alma,
e a tudo... desamei:
Virei folha seca, deserto sem fim,
abismo, poço sem água,
- e, era tudo... na verdade... escassez de mim.
E nesse fluxo e refluxo de coisas, dúvidas... até,
o destino... irônico como tal,
ofereceu duas vertentes, duas infinitas estradas,
e nesta busca... você já não sabe quem é,
e assim tudo chega... acontece,
e duas emoções instalam por dentro,
como se fossem... uma prece,
e perplexo... disperso, sem saber ,se... ama ou odeia,
perdido... nesta fronteira tênue,
descobre a demasiada condescendência de odiar,
desconstruindo outros sonhos, outros vôos...e a tudo pisoteia,
- e passa a existir da forma mais fácil... mais veloz,
e inicia a desdenhar outras alegrias,
e em vez de silenciar... enfim,
imprudente... grita... emudecendo a outra voz,
inibindo outros saltos... nos abismos de si mesmo,
e passa quase uma vida... sem amar.
Vez em quando... vem à memória,
os idos tempos... e confesso... já fui assim.
E hoje envelhecido... e sem rancor,
tenho poucos amores, e são intensos, imensos,
é que... ao longo do tempo... abandonei as mascaras,
sei que não consegui amar a todos como devia,
é que... fiquei célere, rápido como um relâmpago,
não demoro com quem não exala amor.
E hoje envelhecido... como um mago em descompasso,
aprendi que odiar é... acorrentar-se... a uma outra alma,
e deste medo eu não sofro, e esse não é mais o meu
disfarce,
não fico preso em outro... destino, a espera de um ressarce,
amo em demasia... é o que eu faço.
Consegui me desgarrar destas pequenezas,
bom, foi que... embora o tempo tenha encarquilhado a
pele,
esqueceu... e inadvertidamente...
abasteceu a minha alma de brandura, e singelezas,
desfiz todas as dúvidas... hoje já não sofro de escassez,
e o que me ultrapassa... é só o amor,
entrego-me tanto... que não sinto a minha falta,
tornei-me silêncio... roubaram-me a insensatez,
não sou constância exacerbada, sou presença suave... sem
fim,
descobri que amar é... tocar o intocável,
atingir o inatingível... e em resiliência redescobrir a
alma...
que se recompõem diante de tanta doação,
é um desapego a infinitude... à solidão,
é o que de excesso... há em mim.
Ari Mota
Nenhum comentário:
Postar um comentário