Quando o brilho da meninice espelhava avidez nos meus olhos,
preparei-me para a guerra, para os conflitos sem fim.
Bem que minha coragem foi e é fruto das espadas que afiei,
bom mesmo foi que apenas temperei o corte, as afinei para a luta,
mas nunca as utilizei na incisão insana, nem sangrei a carne,
somente as guardei dentro de mim.
E por um bom tempo... fiquei indefeso,
vivi escondido em uma rua descalça... na solidão das gerais.
Temia... me perder se ultrapassasse a esquina da minha rua,
em cautela voltava sempre correndo... o inusitado me atemorizava,
presumia em alucinação ser vencido pelo caminho, que extenua.
E em desespero fazia do medo um refugio, do meu quarto um abrigo,
fiquei apavorado com o mundo, com a avenida desconhecida,
com a praça esquecida, com os becos adormecidos e outras vicinais.
E assim o destino um dia me empurrou ao acaso, em descortesia,
não tive outra saída, arranquei de dentro... toda a agonia.
E na descoberta, vi que de bárbaro nada tenho, sou apenas um poeta,
combato apenas com a escrita, uma gramática discreta.
Quando o ofuscar da meninice foi embora,
e o existir, esfolou-me a alma, arranhou o sonho,
fiz de mim um crescer, um ser que se aprimora.
Tudo foi muito lento, mas, aprendi que vencer é a arte da teimosia.
Atrevido, tive um olhar para fora, em demasia,
depois, ternamente olhei para dentro... de mim, delineei outros lugares.
Saltei os muros que moderavam os meus vôos, e inibiam os meus olhares.
Avistei outras existências, novos paradigmas e maravilhei-me com tudo,
rompi o temor de me perder, joguei fora as armas, o escudo.
Eu, que quando menino temia me perder na própria rua,
já fui um cidadão do mundo... hoje, tornei-me um ser universal.
Envelhecido, aprendi a amar o que sou,
ter a coragem de ser eu,
como não ficarei aqui para sempre,
de mim... só o amor será imortal.
Ari Mota
4 comentários:
Vc se supera a cada escrito que brota de tua alma, Ari.
Este, tocou-me na emoção [forte] de quem se viu em alguns trechos desse caminho chamado viver, talvez numa temporalidade diferente, já que esse olhar voltado para si e o sair para o mundo, deu-se num tempo que ainda lateja em meus dias atuais.
"Rompi o temor de me perder" ganhando a coragem de ser eu, polindo o Ser que construí. Faço de mim um ser que se aprimora dessa forma lenta, mas que não tem volta.
Saio encantada - e ensimesmada...
Beijo, amigo querido!
suas palavras possuem uma barbárie pálida, desenhada em aquarela.
na solidão das gerais.
terra boa no fabrico de poetas, sô!!
belíssimo blog.
acompanharei porque tenho muito q aprender.
abraçoss..
Olá meu querido amigo Ari,
Sempre é bom passar por aqui e saber que você continua dando um show com as suas palavras. Profundo, poético e transparente, como continua.
Amar-se é o segredo de ser feliz até o último suspiro.
Beijos e um bom domingo prá você,
Que texto mais pungente e descoberto, Ari! Mandou bem mesmo, assim é o escritor, cata aqui e ali pedacinhos de vida e transforma em arte "escrevinhada"...Beijos meu lindo.
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