domingo, 27 de outubro de 2024

REIMAGINAR


 








Se um dia... acordar estranho,
e um sentimento pretérito invadir sua alma,
o sacudir sem dó,
e doer sem tamanho,
o fizer embriagar-se de passado,
e de coisa que já tinha esquecido,
fazer-lhe reimaginar o que se perdeu no tempo,
das estradas vazias, e da cama sem ninguém,
dos dias que caminhou... só.
Lembre-se... você não está mais lá, você partiu,
agende uma reunião consigo mesmo,
pode ser nessas noites de silêncio e reflexão,
e reimagine todos esses desertos que atravessou,
todas as vezes que sobreviveu a solidão
e não desistiu.
O que tens a fazer é comemorar quando tudo mudou,
quando... sem querer,
experimentou a sua coragem,
quando na verdade cansou dos seus medos,
e extraiu os excessos que acumulou na alma,
essas quinquilharias guardadas... sem serventia,
essas inutilidades dos pensamentos,
que ficaram sedimentadas visceralmente,
quando teve que fazer uma assepsia.
Mas, que de tudo... fique apenas,
o quanto... extasiou-se por ter extraído de dentro,
quem um dia tanto te... machucou.
E se tiver que reimaginar a vida,
só reescreva os dias de encanto e ternura,
só reedite as gargalhadas infinitas que deu,
os beijos proibidos que roubou...
e aqueles dias insanos que viveu.
Só reimagine... das vezes que amou,
faça uma releitura da sua história,
arranque aquelas paginas,
que constam aqueles que te odiou.
Só reimagine das vezes que foi feliz,
é chegada a hora de apagar...
o que não te fez bem,
e não se importe se ainda restou... cicatriz.
Reimagine...
o espetáculo que foi chegar aonde chegou...
o quanto evoluiu,
o quanto descobriu,
o quanto te transformou.


Ari Mota


domingo, 29 de setembro de 2024

FUGIR DE SI MESMO


 










Acaso... esse olhar para dentro,
dentro do peito,
for uma descoberta absurda,
do próprio vazio,
e isso lhe fizer andar a esmo,
e esse medo que anda tatuado na alma,
for pelo tamanho da estrada,
pela distancia do sonho,
pela lonjura do amor,
pelo abismo do afeto,
pelo tempo da solidão,
talvez tudo isso... seja apenas,
- porque andas fugindo de si mesmo.
 
Acaso tudo for dúvida... talvez você,
não se aceitou... assim como és,
espelha... tanto nos outros,
que não se achou ainda,
e foste capturado por essa ilusão,
e ela nunca lhe permitiu partir.
E tudo não passou de uma fuga,
de uma procura ensandecida...
de si mesmo,
e não se encontrou em lugar nenhum,
vaga perdido,
sem mensurar o quão grandioso é viver,
e belo... suportar as intempéries do existir.
 
Acaso... essa dúvida que te devora,
nessa escassez de tempo que te consome,
na busca de delicadeza,
que te apequena,
e te cala em noite de desespero,
e sem querer... te silencia,
fazer você não conseguir se encontrar,
- talvez seja apenas porque você fugiu de si mesmo,
não conseguiu se doar a um grande amor,
não conseguiu povoar os seus desertos,
escrever os seus poemas,
ouvir os bem-te-vis,
e o fez se perder ao meio dessa imensa insensatez,
não lhe permitindo... levar a vida com mais leveza.
 
E, se ainda procuras respostas,
e acaso ainda se lembre...
daqueles detalhes que foram ficando,
elas estão todas ali, miúdas e imensas,
a sua espera, a espera do seu olhar.
Mas... procures não mais fugir de si mesmo,
basta... reaprender a se amar.


Ari Mota

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

NUNCA DESISTI DE MIM


 








Eu não entendia de temporal,
nem de ventania,
nem que a rudeza do cotidiano...
poderia me machucar,
e sem conhecer das travessias:
Fui...
desvendar os sonhos,
sem bagagem,
sem saber onde... ir.
E fiz da inocência...
a minha companhia.
- Eu não entendia de ir sozinho,
nem das horas de solidão,   
nem da dimensão da estrada.
Mas... bom mesmo que...
em uma curva do destino,
uma bailarina louca...
agarrou na minha alma,
e passamos um a construir o outro,
e foi muito atrevimento... viver assim,
e fui... fui mais longe,
conhecer da minha imensidão.
- Eu não entendia do caminho,
nem dos desertos que ira encontrar,
nem da aridez das pessoas.
Mas... adotei o silencio,
escondi os sonhos,
ocultei-me do mundo,
e fui...
e na hora do desespero,
mergulhei em mim mesmo,
fui me permitindo... apenas continuar.
- Eu não entendia do que levar,
amealhei tantas quinquilharias em vão,
e tudo me pesou em demasia,
com o tempo descartei os meus excessos,
e passei a carregar tão pouco,
hoje não levo nem a certeza,
e nem as minhas dúvidas... deixo tudo fluir,
como se não houvesse o outro dia.
Hoje... cuido da minha alma,
a inundo de amor,
e os meus olhos... de contemplação.
- Como ainda... tudo me é... teimosia,
pactuei com a alma, não falarmos de... fim,
e não posso admitir outra coisa, senão seguir,
embora... e as vezes, o tempo me olha com desdém,
e eu nem ligo... eu nunca desisti de mim.
 
Ari Mota


domingo, 28 de julho de 2024

DESADORMECER


 









Coisificaram tanto...
Esvaziaram tanto...
Parece até... que a emoção desfaleceu lá dentro,
e os olhos não resplendem  mais,
nem com vida,
nem com o amor.
 
Ensoberbeceram em demasia,
e foram perdendo o encanto,
a magia do contemplar.
Submergiram-se em uma frieza coletiva,
parece que tudo nos devora,
e não temos mais tempo de se opor.
 
Mas...
Eu... tenho agarrado em mim,
uma energia descomunal.
Sempre quis uma chance para fluir,
sempre quis ser diferente,
uns a chamam de sonho, outros de resiliência.
 
E ávido por saber,
tive que desadormecer.
Mergulhei nos livros e conheci universos,
compreendi dos acertos e dos meus fracassos.
E... foi só assim que a alma ganhou afluência.
 
Mas..
nem tudo foi tempestade,
nem tudo virou sofreguidão.
Só cresci depois que envelheci,
e tive que enfrentar a mim mesmo,
e cuidar desse templo.
Fui experienciar de tudo um pouco,
desadormeci.
depois, me arvorei em ser poeta,
e hoje escrevo pra mim
- sou quase solidão.
 
Mas... desadormecer,
foi o que de melhor me ocorreu.
Encontrei um universo só meu.
Na solitude que lá existe,
aproveito da minha própria companhia.
No silencio que lá existe,
aproveito para ouvir a própria alma.
E lá, ando livre... com os meus amores,
restauro  os sonhos e a emoção.
 
Ari Mota


domingo, 16 de junho de 2024

O QUE ME SALVOU


 







O que me salvou, foi não ter certeza...
- De nada.
Revesti-me...  de todas as dúvidas possíveis.
E crível... só foi o que encontrei por dentro... de mim.
E foi uma vagareza sem fim,
tardou uma vida,
quase desisti.
E hoje sei que:
- Livre é o homem que jamais recusa ser o que é.
E assim, sou eu...
Incompleto e aprendiz.
 
E inexorável foi-me o destino,
não sei se me ofereceu tanto,
só sei que tirei proveito de tudo.
Embebedei-me de poesia,
embrulhei-me de silêncio,
e transcendi a todas as solidões,
e a vida por diversas vezes,
quase me fez perder o folego,
algumas lagrimas desceram pelo rosto,
mas... hoje por ter tantos amores,
sou louco e feliz.
 
O que me salvou foi só ter a certeza,
que o meu amor é um tanto diferente.
E ele não esconde nos meus olhos:
- ele um dia se apagará.
Nem no meu abraço:
- ele irá enfraquecer.
Nem no meu toque:
- ele pode ser fugaz como um temporal.
Nem nas minhas palavras:
- elas podem desaparecer com o vento.
Nem adormecer no meu coração:
- ele um dia deixará de existir.
 
O meu amor se eterniza em outro... lugar,
vou te amar com a minha alma:
- Nesse lugar sagrado... nesse templo.
E estará comigo em todas as outras vidas,
e nesta...vou sussurrar baixinho “eu te amo”,
até quando eu partir.


Ari Mota

 

domingo, 19 de maio de 2024

EFÊMERO VENDAVAL


 








Sei que o tempo se esgota,
mais parece um efêmero vendaval,
mas... mesmo assim, é um dispare existir,
um desatino continuar.
Eu muita das vezes esqueço-me dele,
e nem sei por onde ele anda, e nem quero saber,
é que ele, quase me fez não encontrar algo pelo que viver,
já quis descontruir o meu maior sonho...
que era nunca se esvaziar.
 
Verdade foi que sonhei em demasia,
quis ser e ter tanta coisa,
quase me sufoquei, e tudo me doeu.
Mas... optei em não acumular sonhos,
venho realizando um por vez,
e fiz todos caberem, dentro da minha ousadia.
E hoje entardecido, o ultimo sonho é ser “eu”.
 
E assim...
entre eu e o tempo... instalamos um abismo,
e jogamos lá dentro: o ontem e o amanhã,
pactuamos só viver o momento,
e continuar sonhando até o fim.
 
E existir me foi apoteótico...
Saí... desesperado à procura de um amor.
E num descuido juvenil, uma bailarina louca...
esmurrou a porta da minha alma,
e saímos mundo afora,
vivendo nossa doce loucura.
E esse sonho se perpetuou nas estrelas,
e um... nunca desistiu do outro, e até hoje dura.
 
Depois três borboletas,
surgiram rodopiando em nossa volta.
Preencheram todos os nossos vazios,
povoaram os nossos desertos,
inundaram de amor a nossa solidão.
Passamos a carregar leveza...
e gratidão.
 
E se de tudo,
tudo for impermanência...
e desafio,
que venham os temporais, as incertezas,
- que entro com a minha resilência.


Ari Mota

terça-feira, 26 de março de 2024

UM AMOR VISCERAL














Não se importe...
Se toda a sua emoção,
estiver guardada na timidez da sua alma,
e embrulhada no silencio...
da sua solidão.
 
Não se importe...
Se... só você sabe da sua dor,
da sua loucura,
da sua poesia,
desse seu amor.
 
O que vale...
É você saber quem jamais,
largou das suas mãos,
e ficou ao seu lado... nas ventanias,
quando a vida lhe presenteou os nãos.
 
O que fica...
É quem fica... por dentro,
e sussurra... vem morar em mim.
É quem te provoca a continuar,
e vibra em silencio com suas conquistas,
e vai ficando... como se não houve fim.
 
Não se importe...
Se, doeu viver,
se, depois de tamanha busca,
você tem... quem te ame,
e voa com você sem medo do vazio,
e conhece os seus desertos... sem se perder.
 
Não se importe...
Se não conhecem da sua resiliência,
se tem alguém... que sabe da sua verdade,
o seu tamanho, e o quão é imperfeito,
e por conhecer a lonjura do amanhã, te ama hoje,
é tão você... que se misturou à sua essência.
 
O que vale...
É que o amor... que aí reside,
é atemporal,
e foge ao estereótipo contemporâneo,
é desses que não existem mais...
desses que saíram de moda,
mas...continuam visceral .
 
Ari Mota

  

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

PAREI DE CONTAR O TEMPO


 









Não sei mais...
Se, foi fácil ou não, chegar até aqui.
Lembro-me bem quanto... intrépido fui,
ao fazer as minhas escolhas.
E talvez eu tenha só perdido,
a imensidão do caminho,
ou na interseção do destino,
quando com delicadeza
atravessei os meus desertos,
a procura de um amor, e de sonhos,
que de tanto, tudo se perdeu na lembrança,
e o fiz... só para não seguir sozinho.
 
Só sei que...
faria do mesmo jeito,
até a mesma estrada utilizaria,
e enfrentaria todos os temporais,
que enfrentei.
Não editaria nenhuma das paginas,
que escrevi.
E ratificaria todas as histórias,
que vivi.
Amaria as mesmas pessoas,
que amei
E beijaria a mesma boca,
que beijei.
Só sei que tudo me foi...
Resiliência... e emoção,
e o que me restou foi arrastar,
tudo para dentro da alma,
e de mim... fiz contemplação.
E continuo assim, ávido pela vida,
ouvindo pelas manhãs o bem-te-vi,
rock and roll, blues,
Albinoni, silêncio e ventania,
e no por do sol escrevendo a minha poesia.
E assim venho negociando com o existir,
até pactuei distancia com a solidão.
 
Também pudera...
Quatro dos melhores humanos,
orbita em mim.
E eu os nomeio como:
Uma bailarina louca e três borboletas.
E assim eu vivo e todos os dias me redesenho.
As borboletas amenizam a rudeza,
e a aridez da estrada.
E a bailarina com toda a sua lucidez e loucura,
ensina-me a não contar o tempo,
- só contar os sonhos, que ainda tenho.

Ari Mota

domingo, 28 de janeiro de 2024

O QUE PRECISAS


 








O que precisas...
É manter essa sua versão diferente,
estão todos iguais,
se enchendo de nadas,
materializando a solidão.
 
O que precisas...
É partir para o encontro,
de pele... de alma,
de cama e suor,
e reinventar a emoção.
 
O que precisas...
É sentir mais, se encantar,
com a vida e consigo mesmo,
e não seguir ninguém,
escolher a sua poesia e sua canção.
 
O que precisas...
É quebrar todos os paradigmas,
todas as cercas... todos os limites,
não permitir a fragilidade fazer moradia,
e amar em demasia a vida.
 
O que precisas...
É que fique uma parte de alguém em você,
e você fique em alguém por inteiro,
e que sejam uma entrega infinita,
um seja o outro... sem medida.
 
O que precisas...
Ainda que tenham um ao outro,
é perceber o abismo que os separam,
e os dois se alimentarem da liberdade de cada um,
sem amarras invisíveis e olhares de censura.
 
O que precisas...
Ainda que não compreenda:
- É que a vida é um replantio,
e plantas o que quiseres,
mas, procure ao longo do existir, colher ternura.
 
O que precisas...
Ainda que não saiba:
- É que viver é esse tropeçar em todas as dúvidas.
Mas, só ame sem hesitar... e segue assim,
podes até vez por outra carregar lucidez...
mas, não esqueça de levar...um pouco de loucura.
 
Ari Mota


domingo, 26 de novembro de 2023

NÃO DEMORES MUITO


 








Que desinteligência é essa?
Só amanhã?
Amanhã é muito longe,
é uma eternidade descabida,
é um tempo distante, quase inalcançável.
Desvista dessa espera,
levante deste chão, e encare as ruas,
emerge desse ostracismo,
mergulhe na incerteza do existir,
e não demores muito...
vá realizar... todos os sonhos,
todas as fantasias... que são só suas.
Podes até pegar uma carona com o vento,
nem que seja preciso enamorar com a solidão,
e ter como companhia o medo:
Só não deixe nada para depois do por do sol,
e nem que tudo vire ilusão.
Sabe... aquela escolha,
que ficou enroscada na garganta,
e virou silencio.
Aquela taça de vinho que você não tomou,
naquela noite de desespero.
Aquele salto... que ficou estancado,
a beira de todos os abismos que encontrou.
Aquele amor adormecido,
que você deixou partir...
e nunca declarou.
Sabe... aquela cama que ficou cheia de vazios,
e aquele corpo desnudo que você não abraçou:
- Continuam por aí...
a cama continua fria, espelha-se nos invernos,
e aquele corpo vaga sozinho... com o desamor.
Mas, não demores muito...
Não permita a vida permanecer inacabada,
tudo é tão fugaz, maior que uma ventania.
Corra... há ainda tempo.
Sabe... aquelas dúvidas infantis,
esqueça-as em um canto qualquer,
abandone-as pelo caminho.
e não demore para espantar os seus fantasmas,
esses que te rondam dia e noite,
essas inverdades de te corrói,
essas pequenezas que te destrói.
Desperte... provoque a vida,
e a si mesmo.
Não demores muito para ser feliz.


 Ari Mota


domingo, 8 de outubro de 2023

RESQUÍCIOS DE ONTEM


 












Que saibamos concluir o ontem,
e não arrastar resquícios do que foi ficando,
margeando a estrada.
Que posamos encerrar cada dia,
como se fosse o último,
e com gratidão.
Que posamos desfazer de coisas,
principalmente as desnecessárias,
e colecionarmos sentimentos,
esses incomensuráveis,
esses que sustentam a alma,
e não nos deixa passear com a solidão.
 
Que todo o resquício de ontem,
esses que nos atormenta,
nos inquieta, assombra,
e desequilibra
fique pelo caminho.
Que possamos ter novos sonhos,
um novo amor ou revitalizar o que existe,
e fazê-lo um desatino,
um disparate,
vivê-lo como uma poesia,
para não morrer sozinho.
 
Que sobras de ontem...
não nos ofusque, nem sufoque,
somente seja, o que restou da luta,
e mostre o tamanho da nossa resiliência.
Que possamos...
preparar-nos... para outros desafios,
agora mais resolutos,
esses de desafiar a si mesmo,
e a própria existência.
 
Que nas sobras de ontem...
não fique nem o nosso grito,
e nem o nosso silêncio,
e que nesses restos,
fique somente o medo.
 
Ari Mota

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

SEM PERMISSÃO


 







De início...
Não se preocupe se já fruiu o tempo,
ou se já entardeceu o olhar,
tens é que redescobrir sonhos,
tens é que ter mais profundez,
inda há espaço para se redesenhar.
 
E se tiver que sentir medo,
ou enamorar com a solidão,
aprecie o caminho,
e mesmo sozinho,
torne-se imensidão,
e aproveite para se encontrar.
 
Só encontre o que te faz... sentir vivo,
e viva sem ter que ter permissão de alguém,
que o amor transite livre dentro da sua alma,
e saiba lidar melhor com suas imperfeiçoes,
e saiba que... nada aqui lhe pertence,
e nem... ninguém.
 
Viva sem ter que ter permissão,
para criar o seu mundo, colher a sua flor,
não permita que escolham...
a sua musica, o seu riso, ou defina a sua lágrima,
nem em qual boca ira deixar o seu beijo,
nem quem terá o seu amor.
 
Viva sem ter que ter permissão,
e tenha coragem para ser feliz,
e dance... enlouquecido pelo caminho,
pode até ser à beira de um abismo,
pode ser até com uma louca bailarina,
ou sozinho.
 
Viva sem ter que ter permissão,
experimente despregar essas etiquetas,
esses rótulos da pele... que vicia,
e conhecerás a leveza das coisas,
e o alivio de estar liberto dos outros,
que tanto asfixia.
 
Viva sem ter que ter permissão de alguém.
Que todas as escolhas sejam suas,
que conduza seus erros e acertos,
e nada lhe aprisione,
e que só do amor pela vida...
fique refém.
 
Ari Mota.


domingo, 16 de julho de 2023

REFUGIADO DE SI MESMO


 








Não esqueças...
o que abandonas pelo caminho,
às vezes vai ficando... se perdendo,
revestindo-se de desimportante,
e de tão imperceptível, nem sua alma,
sua maior cúmplice... te a avisa.
E de repente... foi um olhar,
um encontro, um desejo, um amor,
depois à distância,
e você... ao se olhar, se vê... sozinho.
 
Não esqueças...
o que abandonas.
Vez por outra isso, torna-se um hábito,
e passas a não notar:
o que te fere, o que te machuca,
nem do que de hostil te oferecem,
e vai ficando rastros de vazios.
E depois... bem depois, vai-se o sonho,
e essa empatia que tanto falam,
essa que dizem... ser para com os outros,
você já não as tem,
- nem com os seus sentimentos,
nem com suas emoções... seus desafios.
 
E aí, você desperta...
faltando-lhe o toque humano,
e em quase completo desnorte,
vê que... o que te assombra,
é que ao estar conectado no mundo virtual,
estava... tornando-se refugiado de si mesmo.
 
Cuide-se...
de tudo que em você habita.
Conheça o seus desertos,
mas, não faça ali o seu refúgio.
Tenhas os seus medos,
mas, os enfrente com destemor.
Quando a vida lhe provocar,
enfrente-a com o seu silêncio.
Não tenhas horas vazias, leia,
ousa musicas... pássaros,
cascatas, a própria alma,
e só ande com quem exale coragem.
- Faça- lhe... sobrar amor.
 
Ari Mota

quarta-feira, 31 de maio de 2023

O QUE EU PRECISO...









O que eu quero...
e a mim mesmo proponho,
não é a juventude de volta.
Só preciso...
que ela não escape da minha alma,
- que a pele desbote... enrugue,
a visão turve...
as pernas entrelacem no andar,
mas não me deixe abster da estrada
nem deslembrar do sonho.
 
O que preciso...
é muito pouco,
ainda careço de horizonte,
e de lonjura,
vou lento, mas tenho ido em frente,
estou no tempo da vagareza,
e do silêncio.
Já não intento chegar primeiro,
quero mesmo é contemplar o caminho,
existir até aqui... já me bastou,
encontrei todos os meus amores,
já não estou mais... a procura.
 
O que preciso...
É que o tempo se alongue,
e a vida não anoiteça.
 
Ari Mota 

domingo, 30 de abril de 2023

QUANDO VOCÊ ME OLHA









Verdade foi que...
eu não me dei ainda,
com a sua imensidão.
Quando lhe vi... encantei-me,
quase enlouqueci,
com tanta ternura.
O seu olhar me tomou por dentro,
você me olhou com olhos de outras vidas:
Aquelas... que não tive tempo de despedir,
e fui embora.
Aquelas mal resolvidas,
aquelas que nos perdemos pelas circunstâncias,
aquelas esquecidas pelas distâncias,
aquelas... que me virou pelo avesso,
e me restou à solidão.
 
Confesso que...
eu não me dei ainda,
com a sua beleza,
nem com essa luz que brota dos seus olhos.
Você chegou arrastando estrelas,
querendo segredar-me o que foi vivido,
sem derramar os silêncios que teve,
as ausências que experimentou.
E ofereceu-me certeza,
e contentamento,
olhou-me... com olhos de amor,
extasiando-me... em noites de delicadeza.
 
Quando você me olhou...
eu não me dei ainda,
com o esplendor dos seus olhos,
nem que eles estavam falando comigo,
dentro desse seu... encarar que me humaniza.
- Só agora... esbarrando um no outro,
com a alma,
que percebi os sussurros,
que escapam desse terno olhar,
que ainda me reconhece, e quer o reencontro.
Quando você me olha...
eu não me dei ainda,
com a nitidez... do que é isso,
- Só sei que me... eterniza.
 
ARI MOTA


sexta-feira, 31 de março de 2023

ORGULHE-SE


 








Que essa magia do existir,
o faça transcender a si mesmo,
e o permita... desgarrar das pequenezas.
 
Orgulhe-se:
De ter suportado os adeuses,
esses passageiros,
ou aqueles que transfiguraram em sofreguidão.
De ter preenchido os vazios,
esses incomensuráveis...
- com sonhos que duram toda uma vida.
De ter entendido as ausências,
as necessárias,
ou as definitivas.
De ter atravessado,
os seus desertos,
sem se enamorar com solidão.
 
Orgulhe-se:
De estar aí...
insistindo,
descobrindo a aridez do caminho.
De entender que tudo é fugaz,
um relâmpago,
uma rajada de vento, uma ventania.
E que as dores que brotam na alma,
passam,
e tudo... transforma-se em leveza,
só dependerá da sua teimosia.
 
Orgulhe-se:
Daquele dia que sentado,
na solitude da estrada,
esbarrou na própria doidice,
e decidiu ser feliz.
 
Orgulhe-se:
Da sua exuberante vida,
e de tudo que viveu.
- que na última pagina da sua historia,
a última linha não tenha a palavra... fim.
Que você possa registrar:
- tudo VALEU.

Ari Mota


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

QUISERA










E se houvesse um lugar...
que não fosse tão longe assim.
Desses... que é só virar a curva.
Desses... que é só descer a rua,
e encontrar leveza.
 
E se houvesse um tempo...
que não demorasse tanto.
Desses... revestidos de recomeços.
Desses... que se parecem ventania,
transvestidos de delicadeza.
 
E se houvessem humanos melhores,
que não fossem tão hostis.
Esses... com coragem de dizer “eu te amo.”
Esses... que ainda cuidam da alma.
Esses... que ainda sonham sem ilusão.
 
E se houvessem aqueles...
que não tropeçassem em seus próprios vazios,
e soubessem enfrentar a si mesmo,
amenizando o seu desespero,
sem alimentar a sua solidão.
 
E se houvessem os que não tivessem tanta certeza,
Esses... que não morrem por dentro.
Esses... que se reinventam.
Esses... que vão se construindo vida afora,
e manifestam gratidão.
 
Como estou entardecendo...
e já não há duvidas que caibam em mim.
Quisera eu... por um descuido...
por um instante... “estar” nesse lugar e tempo,
e chama-lo de meu,
e leva-la para passear com o meu silêncio,
conhecer do meu amor,
da minha loucura,
sem se importar com o fim.
 
Ari Mota

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

A SENSATEZ DO TEMPO


Que sensatez foi-me... o tempo,
olha-me inofensivo e com ternura.
Às vezes me remete,
naquelas ruas desvestidas que vivi,
onde fluíam momentos invisíveis,
e ensejos de abandono.
Mas, foi lá... que cresci,
e hoje envelhecido,
sei que crescia para dentro e não sabia.
Foi lá... que distraído,
encontrei a minha resiliência,
o meu amor.
E nunca sofri de solidão,
nem de lonjura.
 
Que sensatez foi-me... o tempo,
rememora tudo que passei.
Ocupei-me, tanto em resistir,
que nem me lembro... se sofri.
E hoje o tempo... 
olha-me... como se eu fora um menino,
sussurra-me noite adentro,
como uma aragem descomprometida,
e confessa-me que sobrevivi aos vazios.
É que todas às vezes,
que eles atreveram-se a entrar,
invadir a minha alma...
encontrou despertando,
todos os sonhos que guardei.
 
Que sensatez foi-me... o tempo,
vivi tão intensamente,
que nenhuma espera me foi infinita,
tudo foi uma apoteose sem igual,
uma magia descabida,
e efêmero foi... existir.
Sacie-me de amores,
e envelheci amando,
carregando leveza, lucidez,
e silêncio.
Como, ainda tenho sonhos...
ando seduzindo o tempo:
- a estender o dia de partir.
 
Ari Mota


terça-feira, 13 de dezembro de 2022

OS MEUS AMORES


 









Eu de mim, nada sei...
ainda assim, continuo sendo eu,
nunca procurei ser outro,
fiz tudo o que coube em mim,
e a tudo amei.
E quando tudo for solidão...
nada mais, me será relevante,
existir me foi um assombro,
fui resiliente, fui silêncio,
convivi com quatro dos melhores humanos,
que conheci...
e tudo me foi um encanto... pura emoção.
 
Eu de mim, nada sei,
ainda assim, continuo sendo eu,
não aprendi a ser mais ninguém,
vivi todos os meus temores,
tive fome de estrada,
de destino,
sofri de vazios,
e os preenchi com os meus amores.
E quando tudo for tempestade,
nada mais, me será assustador,
nem relâmpagos, nem ventania,
já não terei mais sentimentos inferiores,
restará contemplar o que vivi,
por amor...
restará transcrever em poesia:
- o que ficou como saudade.
 
Eu de mim, nada sei...
ainda assim, continuarei sendo eu,
e nem quero me aprofundar tanto,
nem descobrir tantas vidas que vivi,
essa me foi o bastante,
foi nessa que eu... os conheci.
 
Ari Mota