sexta-feira, 4 de abril de 2014

O ENCANTAMENTO DE MORRER... E TER QUE VOLTAR

Olhe... com desvelo,
esse nada… esse vazio... esse vão,
que anda permeando o peito, fustigando a alma.
Essa sensação de que, te esqueceram aqui,
esse olhar de procura, de abandono,
esse desprazer em ressurgir... depois do descair,
esse desgosto... pelo gosto do atrevimento,
esse melindre com os tombos, com o relento,
com essa sinestesia... do desassossego e da solidão.
Talvez tudo isso... seja o que anda assombrando,
os loucos e os homens que só eram brutos...
por desconhecerem a poesia,
e que assustados, hoje temem a hipocrisia,
e vivem carregando esse descabido... descontentamento.
Sabido é... que, este modelo de homem que aí desfila,
mais parece um protótipo, que não deu certo,
perdeu-se na evolução, e no seu intento.
Mas... talvez, o que nos esteja faltando...
é de um socorro das estrelas, de uma espécie mais evoluída,
para nos... devolver o "encantamento,"
fomos acometidos pela incerteza do afeto, do cansaço,
pela dúvida do sonho... pela ausência do centro,
já não mais percebemos o fluído dos anjos,
estamos com tanta pressa... que só lemos textos rápidos,
estamos com tantos amigos... e não conhecemos ninguém,
já não percebemos... que efêmero ficou o abraço,
e que vitimizamo-nos , quando nos pedem coragem,
abatemo-nos , quando é hora dos vôos da descoberta,
apequenamo-nos, quando inda é possível reinventar o afeto,
aviltamos o próprio talento, quando pedem o nosso espetáculo,
e arriscamos buscar lá fora... a força que está... aqui dentro.
Olhe... com desvelo,
inda é possível romper o que nos reveste... o que nos prende a alma,
faça a vida começar todos os dias... com calma,
e que... quando formos embora... das lembranças, levemos doçura,
e que possamos deixar as futilidades... as dúvidas em amargura,
e o uso que fizemos da vida...
seja o encantamento de ter sido... o que fomos:
sereno em todas as batalhas... as que vencemos, as que perdemos,
e em resiliência... saber reinventar o amor em encantamento,
e só levar as emoções, sem as coisas carregar,
e que em todas as outras vidas... que ainda virão,
possamos vivê-las... sem muita solidão,
morrer é ... ter que voltar.

Ari Mota


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