Olhe... com desvelo,
esse nada… esse vazio... esse
vão,
que anda permeando o peito,
fustigando a alma.
Essa sensação de que, te
esqueceram aqui,
esse olhar de procura, de
abandono,
esse desprazer em
ressurgir... depois do descair,
esse desgosto... pelo
gosto do atrevimento,
esse melindre com os
tombos, com o relento,
com essa sinestesia... do
desassossego e da solidão.
Talvez tudo isso... seja o
que anda assombrando,
os loucos e os homens que
só eram brutos...
por desconhecerem a
poesia,
e que assustados, hoje
temem a hipocrisia,
e vivem carregando esse
descabido... descontentamento.
Sabido é... que, este
modelo de homem que aí desfila,
mais parece um protótipo,
que não deu certo,
perdeu-se na evolução, e
no seu intento.
Mas... talvez, o que nos esteja
faltando...
é de um socorro das
estrelas, de uma espécie mais evoluída,
para nos... devolver o
"encantamento,"
fomos acometidos pela
incerteza do afeto, do cansaço,
pela dúvida do sonho... pela
ausência do centro,
já não mais percebemos o
fluído dos anjos,
estamos com tanta
pressa... que só lemos textos rápidos,
estamos com tantos
amigos... e não conhecemos ninguém,
já não percebemos... que efêmero
ficou o abraço,
e que vitimizamo-nos , quando
nos pedem coragem,
abatemo-nos , quando é
hora dos vôos da descoberta,
apequenamo-nos, quando inda
é possível reinventar o afeto,
aviltamos o próprio talento,
quando pedem o nosso espetáculo,
e arriscamos buscar lá
fora... a força que está... aqui dentro.
Olhe... com desvelo,
inda é possível romper o
que nos reveste... o que nos prende a alma,
faça a vida começar todos
os dias... com calma,
e que... quando formos embora...
das lembranças, levemos doçura,
e que possamos deixar as
futilidades... as dúvidas em amargura,
e o uso que fizemos da
vida...
seja o encantamento de ter
sido... o que fomos:
sereno em todas as
batalhas... as que vencemos, as que perdemos,
e em resiliência... saber reinventar
o amor em encantamento,
e só levar as emoções, sem
as coisas carregar,
e que em todas as outras
vidas... que ainda virão,
possamos vivê-las... sem
muita solidão,
morrer é ... ter que
voltar.
Ari Mota
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