tudo era eterno... eu semeava
estrelas em fantasia,
trazia candura no olhar,
ouvia os homens sem nenhum desfavor.
Mas... um dia, o tempo foi me
escapando, indo embora sem me convidar,
sua fugacidade mais parecia
uma ventania,
e eu tive a impressão... que
na verdade... ele queria me abandonar,
fugir, evadir-se... como um
desertor.
Mas... descabido temor... ele
confiou-me o acaso,
compassivo com o meu assombro...
inda me permitiu a última reflexão.
Passei a entender a
insensatez dos homens e seus desatinos,
e desmereceram a minha
reverência, já não ouço os seus discursos vazios,
á eles... distancia... para
eles... só contemplação.
Como estou com escassez de
tempo... e só me resta talvez um instante,
vou transmudar o que ainda me
resta em... prece.
Aclamar... aplaudir a minha
alma, que sobreviveu a tudo isso,
e que desesperadamente
combate a estupidez... para não se apequenar.
E que eu... mantenha esta
chama, e que saiba resistir aos temporais,
e continue até ao final dos
tempos suplicando menos... agradecendo mais,
retribuindo em alegria...
estar aqui... evoluir sem odiar,
e assim convenço-me... o que
sai de mim é vida... gratidão,
consegui perceber a
delicadeza de uma melodia, a sutileza de uma poesia,
a grandeza do meu jequitibá,
a pureza do canto... do sabiá,
e a sabedoria de vibrar com o
florescer das outras almas,
e não desabar... por não mais
encontrar o caminho,
ou chegar ao fim do dia e não
mais ver a estrada... e ter que seguir sozinho.
Bom mesmo... que me foi
permitido respirar a minha alma, sonhar.
E coexistir com os recomeços
de mim mesmo... sem desesperar.
E em êxtase oferecer o meu
afago ao esplendor do dia,
ao sol que me desperta, ao
bem-te-vi que me acorda,
ao vento que brinca com os
meus cabelos,
ao meu deslumbramento em
provocar a minha lucidez,
ao meu encanto em contemplar o
céu azul, a montanha ao longe... o mar.
Delicio-me ao sabor do
existir, das pequenas coisas... rir,
extasio-me com as minhas
dúvidas, sem abandonar a beleza dos jardins,
da delicadeza das rosas
vermelhas, o flutuar do beija-flor.
A minha prece... é por ter
nascido com uma luz na alma,
e a coragem de mantê-la acesa,
fazê-la...
arder de amor.
Ari Mota
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