sábado, 11 de fevereiro de 2012

TESTAMENTO DE UM POETA


Eu, um tímido escritor, cidadão do cosmo, aprendiz de poeta,
residente e domiciliado onde o vento brinca de solidão.
Estando em magistral juízo,
e em pleno gozo de minhas virtudes intelectuais,
e sem nenhuma interdição.
Livre de qualquer induzimento,
lavro o presente testamento, revestido de delírios e liberdade,
no qual exaro minha última vontade:
Ao longo do meu existir não consegui amealhar coisas,
como inda tenho a sutileza do olhar,
vou doar a minha contemplação.
Só agora no final, que ando economizando sentimentos,
não... por não ofertá-los, mas, por tê-los em demasia.
Fui me achando, vasculhando a minha alma, me encontrando,
claro... que houve noites de desespero, mas... alvorecer de teimosia,
sobrevivi ao medo de mim mesmo... e foi como um ritual.
E hoje, resolvi... sentado em uma esquina do meu destino,
deixar a quem assim querer, minhas riquezas, em desatino.
Obvio... que todas são subjetivas, não dá para tatear com mãos,
somente... senti-las de forma visceral.
Estou deixando meus versos, meus poemas,
minha coragem em ser feliz, e minhas loucuras... para nunca desanimar.
Tenho ainda as batalhas que travei... com as minhas duvidas, meus dilemas,
confesso... perdi em varias delas, mas, foi ali que cresci para dentro.
Como inda tenho a sutileza do olhar,
vou doar a minha contemplação.
Ando encarando tudo com carinho, mesmo quando perco o caminho.
Percebo o acordar do sol, e o seu crepúsculo vespertino,
as borboletas em algazarra, brincando de ciranda em torno do Jatobá,
e ainda... extasio-me aos acordes de uma canção, dedilhada em um violino,
que me acalma, faz graça com minha alma,
emociono-me com a delicadeza de uma flor,
de um sorriso verdadeiro, de regras justas, de escolhas,
de amigos, de ausência e de saudade.
Portando ofereço o que sou... silêncio.
E minha maior herança... amor.
Nada mais tenho a lavrar,
dou, assim, por concluído este meu testamento particular.

Ari Mota

4 comentários:

Denise disse...

Esta tua delicadeza de oferenda pôs de joelhos minha alma - que aceita, sem contestação ou preâmbulos, este teu legado particular. Faço deste presente um hino contemplativo às palavras que tua percepção e subjetividade, aprendi a entender-te e saber-te assim mesmo, emocionando-me com você...ofereces-te o que és, e isto não é pouco - espetáculo de "herança", Ari!

O título já aguçou-me...linda esta postagem!
Um beijo, amigo querido e generoso!

Anônimo disse...

Meu querido amigo, Ari,

Há de convir que o seu silêncio possui muito o que dizer...!!: "Portanto ofereço o que sou...silêncio."

Ari, não fico mais sem passar por aqui. Sempre admirei os seus textos, mas agora que sei que fez esse testamento, vou explorar até...!! Quero parte dessa fortuna para mim...

Minha nossa, homem!!, que sensibilidade aguçada, maravilhosa...!! Gosto mesmo de você, de suas linhas escritas...

Agradeço pelo dia em que o descobri.

Beijos grandes, de sua amiga, sempre,
Ana Lúcia.

Solange Maia disse...

são essas riquezas que fazem valer... são os presentes que só os homens de sorte herdam...

silêncios são plenos...

olhares também.


lindo seu texto... sempre lindos, todos eles... me tocam... me emocionam.

beijo carinhoso Ari

Sonia Pallone disse...

E quer herança maior do que essa? Lindo texto pincelado com as tintas da sua sensibilidade...Beijos amado.