Quando a juventude acariciava os meus sonhos, e era tempo de aprender,
saí em desespero e em busca de elegância.
Cismei que a encontraria no encanto do porte ou na maneira de trajar,
até usei os adornos da moda, desfilei com as tendências da época,
alonguei-me na gíria, alterei até a maneira de falar.
Mas tudo era sazonal, fugaz como vento,
e eu necessitava de algo que durasse por mais tempo,
e que perpetuasse na minha postura, no meu existir.
Poderia ser... uma vida, talvez,
ou apenas residir para sempre dentro da minha alma, em solidez.
Não tive êxito, não consegui ser reflexo de alguém,
precisava ser eu, senhorio das minhas vontades, do meu aguerrir.
Mas, um dia... no mais puro acaso, na mais linda descoberta,
e como o tempo se esvai...
passei aperceber os gestos, o olhar de ternura, de amor... do meu pai.
E eu que não o compreendia, e nem o percebia... o via, como solidão,
descobri que a sua elegância... residia no seu silêncio, na sua mansidão.
Ele falava com os olhos, expressava com brandura,
seus movimentos eram de um maestro, ouvia todos com doçura,
orquestrava as relações, recebia a todos no singular... até os desiguais,
nunca o vi... vociferar em rancor descontentamento, nem ódio,
tinha um sorriso maroto quando não concordava, ia embora em quietude,
ouvia as histórias dos mais velhos, e também os devaneios da juventude.
Era gentil em demasia, era tomado de simplicidade o seu dia,
jamais tolheu os vôos individuais, nem a franqueza de expressão,
retribuía o riso, era solidário na dor, sua elegância estava na atitude.
Tinha apreço pelos desvalidos e deferência aos que viviam em solidão,
viveu assim, ao meu lado... tinha um olhar de gentileza,
em tempo nenhum o vi fazer perguntas pessoais, ou outra indelicadeza.
Vez por outra achava que pertencia a uma nobreza,
era um cavalheiro, não dava para confundi-lo com outro, era distinto.
Era sublime a sua alma... olhava-me ternamente... com calma.
Eu que procurei elegância... a recebi como herança.
E aprendi, que se não conseguir ofertar uma flor:
abrir uma porta, um sorriso.
Ser mais tolerante... elegante com a vida,
falar mais de amor.
Ari Mota
Um comentário:
Ari, duas coisas preciso te dizer, além de ressalvar a beleza ímpar de teu texto - estou emocionada...
Posso levá-lo para demonstrar no meu trabalho?
Segundo, e não menos importante: vc não percebeu a auto-descrição que fez (e isso se explica por sermos reflexo daquilo que vemos), fazendo a linda referência à herança recebida, confirmas as características reproduzidas por teu modelo mais expressivo: o pai. Todos os meninos têm esse herói, essa referência forte.
Lindo demais o que escreveu!!
Um beijo encantado, boa semana!
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