Sem perceber foi chegando à mansidão no meu existir.
Óbvio... foi que na juventude criei passos largos, acelerei o olhar,
quis chegar antes de partir, quis emudecer antes de falar.
Fui vendaval em noites de calmaria, silêncio em manhãs de gritaria,
saí em desatino, querendo mudar o mundo... o meu destino.
E assim... desnudei-me em fraqueza, fui perdendo o sabor da pureza,
fugaz foram os meus desejos, efêmero a delícia dos beijos.
E cheguei ao meio da existência, na metade da minha vida,
e um dia fui testado pelo acaso... ganhei dinheiro e poder,
o primeiro escapou-me como uma folha seca em noites de ventania,
o segundo... fui espalhando pelo caminho, em agonia.
Das provas, a verdade da derrota foi a que mais me sacudiu,
bateu forte, cravou um vazio no peito, feriu.
Mas, foi o momento de maior crescimento, passei a ser eu em demasia.
Resiliente... tive que reinventar o caminho, redescobrir o horizonte.
Abandonei o esboço do que fui... passei a ser eu por inteiro, uma ponte.
E percebi que na verdade... fui me construindo sem saber,
e depois de tanto cair, eu e minha alma pactuamos... ressurgir.
Mas... há que se ter... momentos de lucidez,
e os tive... em fantasia, pura imaginação.
Em devaneios resolvi semear sonhos,
aclarar as sombras que habitavam minha essência,
evidenciei em mim, e pela vida... paixão.
Passei a não sentenciar as diferenças, nem outras escolhas.
Modelei um novo “eu”, redefini novos hábitos, encontrei outras virtudes,
tive que, ir retirando as mascaras que usei,
tive que oferecer os beijos e os abraços que não dei.
Sem perceber, a mansidão... apossou-se do meu existir,
eu que fui desespero, hoje sou contemplação.
Sou uma obra... inacabada, cresço desmedidamente,
passei a edificar... a mim mesmo,
vivo em desafio, sem ilusão, sem clamor
construo esperança, em silêncio,
e o meu caráter,
com amor.
Ari Mota
2 comentários:
Maravilhoso. Não encontrei palavras além dessa (e isso não é algo ruim).
Ari, fico sempre encantada com teus textos.
Ricos , bem escritos, para mim um dos melhores blogs, tenha certeza!
Sempre que posso aqui venho e sua leveza na exposição de sua alma é divina!
Já escreveu algum livro, amigo?
Eu lhe pedi certa vez permissão para postar lá no Memórias um texto teu que amei. Meu Deus, quando voltei para procurá-lo, tinham outros e mais outros.Me perdi...
Amigo , sua mente e coração têm o poder de acessar a sua alma desperta, certamente!
Beijos. Boa Noite!
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