Houve um momento que achei que a juventude ia perdurar por mais tempo,
em alucinação.
em alucinação.
Cismei que iríamos assistir o reapresentar do Woodstock em delírios,
e em paixão.
E que Joe Cocker cantaria no coreto da minha cidade, perdida nos confins
das gerais.
E Jonis Joplin cantaria só pra mim, e eu dançaria com minha louca
bailarina na praça, com toda a graça, e um bando de borboletas azuis,
bailarina na praça, com toda a graça, e um bando de borboletas azuis,
aplaudiria em vôos radicais.
E depois... já na madrugada, sairia em serenada com Elvis Presley,
e embebedaria com os Beatles, até desfalecer na calçada.
Mas tudo ficou esquecido nas noites geladas dos meus sonhos.
E o tempo inexorável, não cedeu um intervalo maior...
para a minha jovialidade.
Impiedoso... roubou-me o olhar de menino e a inocência,
rigoroso... afugentou a doçura dos devaneios,
implacável... escondeu a fantasia da adolescência.
Só não foi mais cruel, porque aceitei as transformações,
adaptei-me ao deformar da expressão.
Mas confesso...
tentei escapar das marcas do tempo, das dobras na pele,
da falta de negrura nos cabelos, do passado em solidão.
Até corri aos tratamentos terapêuticos, atrás do remoçar,
e tudo foi muito pouco, inútil até... não consegui voltar.
O corpo desfigurou-se da beleza de outrora,
só a alma manteve-se intacta, não foi tocada pelas estações,
nem sequer a rudeza do inverno, nem o vigor do verão a mudou,
alterava somente nos outonos, e renascia em cada primavera, sem demora.
E eu que achava poder abandonar a fugacidade do tempo,
esconder a velhice... e fazer como nada acontecia,
tive que brincar de passado e de saudade, enganar o dia.
Houve um momento que achei que a juventude ia perdurar por mais tempo,
passou como uma ventania.
Não teve jeito, agarrei-me ao dever de cuidar da minha alma,
deixá-la sempre jovem, fazê-la existir.
Na descoberta, e resiliente... criei o seu melhor remédio:
amar
e rir.
Ari Mota