A rudeza do dia... transforma-nos em autômatos,
repetimos gestos sem criar emoção,
não permitimos a delicadeza transpor a carne,
passar para dentro e tocar-nos profundamente,
e chegar a alma sem aflição.
Despertamos em defesa, portamos escudos, mascaras,
e em severidade omitimos o riso,
e colocamos aspereza no olhar,
inibimos o que descortina em afago,
e disfarçamos a leveza do acalentar,
petrificamos em gelo...
quando o destino nos brinda com a chance de amar.
Fingimos atitudes, formatamos imagens aparentes, vazias,
e de tão individualistas... tornamo-nos clandestinos no existir,
calculista no interesse, frios no mentir.
E ficamos assim toda uma vida... dissimulando brandura,
teimamos em desaplaudir outros talentos,
reinventamos distancias, afastamos da ternura,
perdemos-nos ao meio de tanto sentimento.
Escondidos e em medos... e em solidão,
não extasiamos diante de uma melodia,
nem encantamos... aos versos de um poeta,
nem deliciamos ao toque, ao que acaricia,
perdemos a força da contemplação.
Impermeabilizamos a alma...
Sem fôlego agonizamos em madrugadas frias,
temos vergonha de desmanchar em risos, em alegria,
em fuga, em disparada correria, e em pavor,
fugimos do encontro, dos abraços,
dos beijos,
dos desejos,
e do amor.
Ari Mota
3 comentários:
Meu querido amigo
Passando para deixar carinhos e um beijinho.
Sonhadora
Ari,
Mesmo sendo de uma realidade muito severa, o texto está pungente e manso, como se pudesse adentrar o mar de pedra que fingimos dentro do peito.
Não sei em que parte da vida a gente confundiu fortaleza com fingimento e dor com singeleza e afeto.
Que seu texto seja um clamor ao retorno à essa nossa origem.
Lindo, Ari.
Realidade em que eu me encontrava.
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