Vislumbrei achar que tudo seria fácil, calmaria,
e que brisas, vindas do sul trouxessem aromas de alfazema,
e as ventanias recendessem sândalos em alegria.
Devaneei em espera, como se a perspectiva fosse iludir a vida,
e a aparência em disfarce fosse uma mascara pegada a alma.
Fingi alegria, simulei emoção, dissimulei afeto em alucinação.
Fantasiei-me de outros, e não de mim mesmo, fui ilusão.
Enganei-me, e em desacertos cometi algumas tolices,
mais tudo coisas da meninice...
E tudo passou como uma tempestade, resiliente que sou,
catei todos os cacos, recolhi todos os fragmentos,
colei os pedaços, recompus os sentimentos,
lavei a alma, arranquei do peito toda a dor,
abandonei os discursos, fiz do olhar franqueza,
do abraço beleza, da declaração um ato sem temor.
Fiz silêncio onde tinha ausência, e me encontrei.
E hoje envelheci... sem cair em desuso,
fiquei seletivo... às vezes ando só, e comigo mesmo, recluso,
sem estar em solidão, existo em calmaria, em mansidão.
Falo comigo, em noites de isolamento, me chamo,
grito o meu nome, berro para dentro a procura de eco,
e para mim, sempre é todo dia, e nunca estou sozinho,
nem quando me passam e me deixam a beira do caminho.
Vislumbrei achar que seria fácil... e tudo vivi, e tudo aconteceu.
Hoje é o meu tempo de calmaria, nada ficou, nada se perdeu.
Quando me pedem coisas, corro ao jardim e ofereço flores,
quando indagam meus afetos,
suspeitam dos meus beijos,
duvidam dos meus abraços... olho com ternura...
para todos os meus amores.
Vislumbrei redimensionar o meu existir em calmaria,
e o fiz... com todo o esplendor,
e hoje tenho coragem de viver em alegria,
e amor.
Ari Mota
3 comentários:
Como previ, muita coisa linda por aqui, meu amigo querido - e inspirado.
Hoje estou em calmaria tb, compreendo essa quietude depois da tempestade que atravessou os desertos comigo...
É no silêncio que a gente encontra - a si e às respostas.
Dá saudade este cantinho recheado de emoções e sentimentos profundos. Deixo um bjo e o desejo de uma ótima semana!
Meu querido amigo
Passando para deixar um beijinho.
Sonhadora
Ari..Quanta emoção, serenidade vertidas em calmaria fruto da tua resiliência...No final tanta beleza reunida. Parabéns , meu querido este é o verdadeiro espírito de Natal...renascer!
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