sexta-feira, 12 de novembro de 2010

INVENTARIANDO A VIDA


Quis o destino, um inventário da minha vida.
E em retrospectiva regressei ao passado,
fui perambular em devaneios aos trechos que atravessei,
nas veredas que me perdi, no imprevisto do acaso,
no improviso do gesto e nas circunstâncias que me achei.
Voltei...
Encontrei escondido dentro da alma, três grandes momentos.
Minha meninice, sonho infantil.  
Minha inebriante juventude, mais que dúvida... inquietude.
Minha reta final, rugas na alma, calma... quietude.
voltei...
Fui catalogar coisas... e vi que quase nada tinha.
Tive que listar em metáforas outras riquezas,
deparei com emoções, outros sentimentos, belezas.
Da infância, que ainda na lembrança, pouco listei:
um pião de corda, um estilingue, uma bola de gude.
Da juventude, que ainda resta-me alguma atitude:
sonhos em disparate, desatino nos combates, e vigor.
Da velhice, que me é o tempo da descoberta:
da lucidez que desperta, do luzir de um pensador.
Fui inventariar a minha vida, catalogar as minhas coisas,
e de tão pouco, não coube em uma linha,
de tão ínfimo, não tive coragem de imprimir,
de tão pouco, de quase nada, nada posso dividir.
Fui inventariar a minha vida, catalogar o meu existir,
de tão belo, de tamanha primazia, que em risos, em ufania,
descobri que tinha todas as riquezas, preciosidades em afetos,
cataloguei intensa convivência em alegria.                                             
Hoje... depois que o tempo redefiniu a minha alma,
pude inventariar a minha vida, e tudo é deslumbramento,
a transformei em esplendor...
não consegui ter coisas... nada tenho...
só amor.

Ari Mota

6 comentários:

Anônimo disse...

Oi Ari,

Que amor mais bonito, cheio de um passado bem construído...

Lindíssimo!!

Beijos e bom final de semana,

Marilu disse...

Querido amigo e poeta, os melhores bens que podem sobrar de um inventário, é ter a certeza que só sobrou o amor. Muito lindo. Beijocas

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Meu querido amigo

Quando se tem o que tu tens...não há vazio, lindo texto...vida apenas.

Beijinhos
Sonhadora

Nara Sales disse...

E não há nada maior (nem melhor) que o amor.
Bj.

maria claudete disse...

Inventariar a alma e catalogar o existir...só você mesmo Ari para escrever vertendo palavras com rara sutileza e emoção.

Marcello Lopes disse...

E do que se precisa mais se já se tem o AMOR ?

Amor de pai
Amor de mãe
Amor de filhos
amigos,
desconhecidos.

Com amor do Marcello.