que sempre voltava em
retrospectiva,
tentava recolher os meus pedaços,
ou inadvertidamente colar um ao
outro,
para esconder os meus fracassos.
Findou o ciclo... que transcrevia
um poema,
por comprazer e o revia em... exaustão,
corrigia uma rima... mudava uma
expressão.
Perdeu-se o prazo, quando
compunha uma musica,
e repaginava muitas vezes... a
partitura,
alterava a melodia... para disfarçar
a minha loucura.
Acabaram ao alento, os traços clássicos
dos meus quadros,
as cores sóbrias... tudo aquilo
que fugia do inusitado,
quando espelhava... nos outros,
nunca em mim, o resultado.
Mas... um dia, não me recordo
quando,
vasculhei os meus recantos...
enfim,
esses vazios, esses espaços
abissais, que carregamos,
e deparei com os meus sentimentos
mais íntimos,
escondidos, perdidos... dentro de
mim.
E depois, de tanto ser esfolado
pela própria insensatez,
e ao meio das minhas batalhas,
aprendi a me dar... uns instantes
de alívio... uma trégua,
e, é aí... que escrevo os meus
poemas,
ouso as melodias que amo... que
me fascina,
mudo os meus paradigmas, encaro
os meus medos,
reconstruo os meus sonhos... que
minha alma imagina.
E me... olho... demoradamente,
dou uma passada... no passado,
nada busco... nada deixo e nada
trago,
e vejo que lá, não há vestígio
deste que sou... hoje,
e naquele lugar, tudo fica... os
desassossegos, as indelicadezas,
como não posso mudar o que
passou... nada apago.
Mas... um dia, não me recordo
quando,
encontrei-me... vasculhei os meus
recantos,
e passei a renascer em cada
fragmento que me resta,
em cada poema que deixo... em
cada silêncio que faço,
em cada encanto que se manifesta.
Hoje... pareço solidão... mas é
pura contemplação.
Consegui abandonar pelo caminho,
pequenezas, frivolidades...
ninharias,
passei a não frequentar os
lugares onde não existe amor,
e ando com pouca coisa, ando
leve,
aprendi a me segurar nas
ventanias.
E quando saio na chuva...
lavo a minha pele envelhecida, a
alma atrevida,
e sem essas vaidades descabidas, recolho-me,
e nos meus recantos... fico... sem
se ferir... ou ferir alguém,
e em lugar de dilacerar... provoco
devaneios, em demasia,
e se for para sangrar... o faço,
apenas...
com a tinta da minha caneta,
ao escrever... a minha poesia.
Ari Mota