um dia olhei a estrada... e
fui,
claro... que abandonei
aquelas margens de conforto, aquele colo,
aquela cama aquecida, aquele
afago, aquela proteção... fui viver.
E foi... um intrincar de
coisas...
embaracei-me com a dúvida...
mas, fui indo,
visível foi... que quase me
perdi no vão dos acontecimentos,
nos desvios do destino, nos
descaminhos do envelhecer.
Chegou um dia que... depois
de ter sobrevivido a tudo isso,
enojei-me com a fala dos
homens, com o deserto dos discursos,
com a temeridade do culto a
si mesmo, com o desamor ao outro,
quis ir embora para a casa,
esconder do mundo, dar em mim... um sumiço.
Os sensíveis não sobrevivem
tanto, somente os tolos suportam a insensatez.
Olha... quis por vezes
abandonar o posto... de resiliente, fugir da lucidez.
Sumir... levantar
acampamento,
achei que seria fácil... ir
embora... fugir de mim... fugir do sonho,
aposentar o atrevimento.
Mas alguém me chamava...
alguém... seguia-me pelos
cantos da casa, me cutucava,
como quem grita em solidão.
E ai... não tive outra
maneira, e toda faceira... tive que desaposentar a alma.
E ela atrevida... metida como
tal, não me permitiu a inércia... a indolência,
passei a buscar... outro,
norte,
a reiniciar-me em manhãs de
delírios, em vez de esperar a sorte.
Hoje... eu é que... corro
atrás da minha alma, e desesperadamente,
desvairo-me ao saber que tudo
pode findar em um instante,
e isso, me fez a vida mais
interessante.
Desalojo o medo em madrugadas
de desespero,
desvisto-me de toda a incerteza.
Eu e minha alma... todas às vezes,
que o destino nos convoca
para uma conferência,
saímos dançando em
alucinação... e em pura inocência,
já até sabemos o teor da
conversa... “tudo acaba”,
e então... amamos o fim... só
assim, poderemos recomeçar,
tudo com mais delicadeza.
Tive que desaposentar a minha
alma,
inda temos muitos combates,
preciso... inda cuidar do meu jequitibá,
dançar enlouquecido com
aquela bailarina louca,
cuidar das minhas borboletas,
inda tenho outras almas parar
amar.
Ari Mota