Demorei... a entender os sinais do destino,
quase fiquei preso a mesmice,
a chatice de achar que tudo era uma repetição,
e que nada se renovava no meu caminho,
e que meu existir era sem ação.
Até que em uma dessas retas sem fim,
apressei os passos, coloquei rapidez no andar,
e não consegui... concluir a curva à frente.
Estatelei no chão, esfolei a pele, sangrei sem chorar.
Levantei... bati a poeira... engoli a seco a timidez da queda,
o embaraço do tombo, o encontro com o chão.
Como não sei ser outra coisa... além de aprendiz,
fiz do tremor, do medo que nasceu na alma... ciclos,
e todas as vezes que sucumbo ao desalento,
reergo em altivez para mim mesmo,
respiro fundo, como se fosse buscar lá dentro... inspiração.
Recorro aos sonhos, aos devaneios, e aos ventos.
Não perco o simples prazer de recomeçar.
E ai... vem tudo outra vez... mas sempre diferente,
tudo que começo... crio um espaço para o fim,
e o defino de outras maneiras, e em novas descobertas.
Meu existir nada mais é que... ciclos de mim,
retiro os invólucros que aparentemente me protege,
arranco as cascas da minha aparência, desnudo minha essência,
e com brandura recolho para dentro do peito... o meu desfolhar.
E passo a ser eu... não muito, nem muito pouco... assim,
reconheço os meus ciclos, descubro os instantes de mudar,
de reeditar os paradigmas, as travessias.
Mudo tanto, altero-me tanto,
que há dias que volto por outros caminhos,
e quando chego... entro em casa portando alegria,
sorrindo sorrisos que nunca tive, olhando como nunca olhei,
amando como nunca amei.
Antes meus ciclos chegavam de tempos em tempos,
hoje... acontecem todos os dias, sem temor.
vi... que quem teme as mudanças permanece... perdido,
quem as descobre, inova:
o amor.
Ari Mota