sexta-feira, 29 de novembro de 2013

NADA MAIS A FAZER

Cansou de odiar... vai amar.
Cansou da esquina... vai andar.
Ficou esperando a morte... vai viver.
E se nessas intemperanças... saiu trocando,
em vez de consertar.
Se... disparatou com outras almas, deixando cicatriz,
inda possível... é, se redirecionar.
O tempo é agora, neste instante, inda permitido... é, mudar.
Mas... se você não tiver nada mais a fazer...
vai ser feliz.
Se, contudo... fatiga-se pelas calçadas... arrastando as desilusões,
lagrimejando em demasia... contando as frustrações,
como quem tudo escancara e nada segredas,
e apieda-se com as próprias quedas...
precisas... é, não esperar a tempestade passar... tens que se molhar.
Se por vezes perdeu-se, e estacionou o sonho à margem de si mesmo,
esperando, escondido... o vendaval acabar,
e estagnou no meio do caminho e ficou neste desdiz,
precisas... é, engolir as lagrimas... e no rosto alegria... estampar.
Mas... se você não tiver nada mais a fazer...
vai ser feliz.
Se... cruzou os braços a espera de aplausos ou de um olhar,
vais... ter que ser platéia de si próprio, e nos olhos, brilho...colocar.
Mas, se achas que tudo tem um fim...  existir não é assim,
podes até tremer na base, nos ossos... ter até calafrios,
podes até desmedir o destino, mas nunca fugir dos desafios.
Nada acaba... tudo continua... nos céus ou na rua.
Se não conseguiu ser o arquétipo desejado... perfeição,
rebrote... reinvente-se, mas... não vá embora de você,
nem deixe ninguém drenar esta tua energia,
o que tens aí... é resquícios de outras vidas, sinergia:
vestígio de chegada, de adeuses, de encontro... de solidão,
fragmentos de desespero, de calmaria,
sobras de carinho, de amor, de combate e destemor,
restos de saudade, encanto, desencanto... sofreguidão,
por tudo isso, você está aqui... para a sua evolução,
e sabido... é, que depois de tanto tempo, tem que se transformar,
e deixar de ser aprendiz.
Já viveu tanto, aprendeu tanto, perdeu tanto, ganhou tão pouco,
que os seus dias de gloria... terão que ser sempre: hoje.
Não viva garimpando o passado, nem especulando o futuro,
se não tens mais nada a fazer...
vai ser feliz.

Ari Mota

terça-feira, 12 de novembro de 2013

LEVEZA

Bom mesmo... é,
abrir o peito... como se fosse arrancar a alma,
e despertar esse anjo que aí... mora,
e sereno... tudo transmudar em sutileza,
e depois... ao longo do trajeto, jogar as coisas... fora.
Abandonar os excessos de si mesmo, sem mentir,
desancorar a intolerância dos olhos e da voz,
margear as magoas, e desfazer dos desprazeres,
e contemplar a finitude do existir,
sem estar entorpecido com os sonhos, com as ilusões,
e nem se perder num desalento atroz.
Bom mesmo... é,
abrir o canto... de alegria, transfigurar-se em contemplação,
falar pouco... quase nada... emudecer,
mas... quando pedirem o seu grito:
Que ele ecoe sem ferir, sem machucar,
e que seu discurso tenha a leveza de uma brisa,
e a intensidade de uma tempestade.
Podes... até ter uma vida monástica... e vire silêncio,
sem se enclausurar.
Podes... até caminhar por todas as estradas em dias de temporal,
mas, eternize o seu sorriso em dias de solidão.
Podes... até, ter no caráter um traço inabordável,
mas seja aberto... a luz, nem que seja de um vaga-lume,
não basta contemplar uma rosa, tens que tomar de assalto o seu perfume.
Leveza não é somente ouvir uma musica, é sentir a sinfonia,
e pouco é molhar-se ao mar, tens é... que ouvir o murmúrio das ondas,
e ínfimo é viver dizendo eu te amo... assim fica incompleto,
tens é... que ter um lugar na alma para o afeto.
Mas, se passou por aqui e não conseguiu arrepiar a alma...
com as emoções da vida, com a doçura de um poema,
com a beleza de um riso, com a delicadeza de uma flor,
pouca coisa valeu... só passou por aqui e embruteceu.
Leveza... é andar suavemente sobre suas escolhas, suas conquistas,
seus deslizes, suas culpas e a tudo recompor,
e depois... saltar sobre os abismos do medo e se encontrar.
Leveza... é,
se tiver que partir não ter nada para levar...
além do amor.

Ari Mota

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

ABRAÇOS NA ALMA

Vou te contar...
O que me fartou não foram às coisas... nunca as carreguei,
o que me provocou escaras... foram os sentimentos,
e trazê-los quase virou tormento, quase que desabei,
anuí em demasia, e aos outros, emprestei-lhes muito o meu sim,
e em recusa não ponderava nada para mim,
e foram tantos os tropeços, as surras que levei,
que o destino me achou em deleite... foi indulgente... enfim.
Peguei... outra estrada, outra coordenada,
foi um salto quântico, que me levou além dos sonhos, mudei...
Não tive escolha, vim embora do meu passado,
desisti de lá morar,
como o tempo... que há de vir, não me pertence,
e por não saber do amanhã... tive que acontecer hoje,
ínvia... foi-me ir e depois... voltar.
Hoje... se me vires passando como um mago em descompasso,
talvez... carregando um semblante austero, aparência sóbria,
- não se assuste... não passo de um menino... atrás de um abraço,
que no final procura compensar o começo,
das razões erradas, e dos desacertos que hoje desfaço,
e não mais... sufocar-me com a ausência de emoções,
nem vivenciar dogmatismos, ou outros olhares... em provocações,
passei a ser eu, sem me arrepender.
Hoje não mais abraço o corpo... virou um lugar comum,
em alucinação... hoje, abraço... a alma.
E todas as vezes que assim faço... troco alegria... provoco sinergia,
sem fingir, sem ninguém saber.
Hoje... se me vires... cabisbaixo... passando na rua,
- não se preocupe,
fui ficando transparente... se me olhares bem, verás... além de mim,
- enxergarás a minha alma,
e se fechares os olhos, sentirás o que nunca sentiu,
- eu abraçando a sua.
Vou te contar... no mar da minha vida, tudo se reproduz,
ondas são brisas, vento vem e vira calmaria, e a tudo... amenizas,
e assim vou seguindo... poucas sombras e muita luz.
Existe dentro de mim uma janela aberta ao universo,
para que todos os dias eu possa... sem temor,
abraçar a alma do mundo,
com amor.


Ari Mota