quarta-feira, 31 de julho de 2013

A MINHA SAGA

Às vezes me encontro...
nas imensas cavernas, nas grutas internas... que tenho na alma.
Passo lá vez em quando... só para me abrigar,
ponho-me quieto, sei que é... onde, com o silêncio conspiro,
e com ele... das rudezas do cotidiano me... retiro,
e sereno recolho-me... em mansidão.
Quem me olha... vê um tímido em desamparo, parece olhar de solidão,
é que...  este é o meu único refugio, não consigo ir noutro lugar.
E tudo em mim... iniciou assim...
ao toque de um tambor... em torno, e ao lume de uma fogueira,
tive que acolher a rosa, o espinho, sem me intimidar com a roseira.
Mas, tudo isso é apenas um cerimonial... onde, me acho, me vejo,
e ao meu caminho... o destino sempre me reconduz.
Verdade é, que ali... viro pelo avesso a escuridão que me habita,
e descubro o rito de ser incomum e o atrevimento de não ser mais um,
e de encontrar com a própria luz.
Depois, olho para fora de mim...
Não conto os amores, só sei que tenho poucos... intensos, imensos,
e os tenho dentro do peito, da alma... sem ferida ou cicatriz.
E na tela branca, escrevo o que vivi, tentando ver além do que pretendo,
descrevendo as minhas escolhas, os meus descaminhos, e acertos,
e das coisas que tive que abandonar para ser feliz.
Serei sempre uma obra inacabada, em reforma,
estarei sempre construindo pontes, entre os meus desejos e sonhos.
E todos os dias... pela manhã, acendo a minha luz, e estico o meu passo,
tenho que andar muito, descobrir o que ainda não sei,
amar o que ainda não amei, abraçar o que ainda não... encontrei.
Às vezes me olho... com espanto,
tive a coragem de desistir da culpa e das desculpas,
dos medos e do passado, do apego e do pecado,
de achar que tinha limites, e que não posso mudar.
E esta reengenharia... me reconstrói, me coloca de pé... levanto.
Do que vivi, não encontrei nada a tirar... nem pôr.
Como não sei se estou pronto:
Só sei, que a minha saga é jamais perder o ritual do encontro,
o ritual do amor.


Ari Mota

domingo, 21 de julho de 2013

A LUZ QUE VOU DEIXAR

O melhor de mim estava no começo...
A expressão do meu olhar era de perguntas, ceticismo.
Era de dúvida mesmo!... e o fiz para ter certeza do que estava vendo.
E nem tudo, que me disseram... acreditei.
Nem tudo que li, me... convenceu.
Espantei-me com tudo isso, e para não ficar um vazio,
carreguei a alma de resiliência e sonho... e nada em mim esmoreceu.
Fui tecendo os meus dias... fui construindo as minhas buscas,
e tudo foi sucedendo, mudando... e assim vivi... e a tudo experimentei.
Enojei-me com alguns, outros em demasia... amei,
fiz alguns ensaios, tomei distancia e fui... saltei,
houve abismos... que quase não consegui atingir o outro lado,
quase me enrosquei pelo caminho... quase fiquei em desalinho.
Mas, fui me reconstruindo, desapegando das ninharias,
estremeci com as escolhas, com as triagens que fiz,
e com todas as noites de agonia... que passei,
mas, fui me dilapidando, extraindo as cascas mortas,
desvestindo-me, despojando da mesquinhez do ter coisas, sem ser livre.
Lembro-me bem... um dia,
em desespero fui bisbilhotar o futuro, ele me olhou acintosamente,
vi que ele não me queria lá, nem me receber... franziu a testa.
E como não tive outra forma de me antepor, fui com o passado conversar,
e falamos dos desacertos, dos tombos, dos consertos... do levantar.
Mas... nem o temor do futuro, nem o que ficou perdido no passado,
acalenta-me tanto: como o “presente”... que me abraça,
afaga a minha alma, e com ela me eleva, me faz voar,
faz-me pulsar enlouquecido pela vida... faz-me festa.
E assim...
vivi com vários “eus”... e fui descartando alguns... pelo caminho,
outros... desfiz, por ausência de convivência, e tive que seguir sozinho,
outros tantos... rejeitei por incompatibilidade intelectual, achava-se o tal.
Recusei a companhia de vários “eus”, e outros foi um desprazer.
E assim...
Fui transmudando-me, me refundido, sem nenhum certificado de grandeza,
hoje luto... só para ser o melhor de mim.
Das mesas que participei, nunca fui o centro, e nunca pretendi,
ali não se define o sonho pessoal e este não abro... mão.
Sou mais que matéria em evolução, sou alma fugindo da solidão,
não vou conseguir iluminar todos os caminhos, pela vida... afora.
O melhor de mim na verdade não estava no começo,
descobri depois de um longo tempo... que, nem no fim.
O melhor de mim estará... num raio de amor, na minha luz,
que vou deixar na sua alma,
- depois de ir embora.


Ari Mota

quinta-feira, 11 de julho de 2013

PARA NÃO DESISTIR...

Eu... às vezes saio de mim... só para me contemplar,
só... para asseverar se aquele ali sou eu.
Olho-me... encaro-me, vou além de mim, com toda a calma.
Não procuro similitude à beleza, nem a expressão da imagem,
o que busco... o que vasculho, é o que cativei na alma,
o que vivi...  a força que tive para nunca desistir,
e das tantas vezes que tentei... experimentei acreditar em mim,
e na minha coragem.
Eu... às vezes saio de mim... só para me observar,
só... para assegurar se o que carrego é meu.
E eu, que queria tanto, saí... tresloucado a procura de tudo,
tentei juntar tesouros, respostas, coisas,
tentei até descobrir quem eu sou,
e inadvertidamente o destino me fez... conter-me com o necessário,
e tudo isso me bastou.
Eu às vezes saio de mim... só para me ver,
só... para ter certeza se aquele ali... sou eu.
Visível foi que o tempo disfarçou o que de moço eu tinha,
e veio me testando... carregou o ombro de desanimo, me apoucou.
Mas, resiliente... fui contornando os descaminhos, os medos,
semeei teimosia, destemor e afastei de tudo que me amesquinha.
Eu às vezes saio de mim... só para ter saudade... e depois voltar,
achei que tudo estava sempre depois do horizonte, além de mim,
e na verdade... tudo está aqui dentro:
A solidez da luta, a firmeza para combater as vicissitudes,
e a temeridade para afrontar os desafios,
e não desmoronar.
Eu às vezes saio de mim... só para ver o que tem depois... da alma,
e me vejo ali... sozinho, vazio,
sem ninguém para dizer-me: não desista.
E daí... volto correndo para dentro... em festa,
eu, minha alma... a bailarina louca, duas borboletas,
dois bem-te-vis, e um beija-flor...
e vamos bebericar taças de vinho... ao pé do meu jequitibá,
e docemente celebrar o silêncio... a nossa resistência,
a nossa coragem para ser feliz.
- a força do nosso amor.

Ari Mota


quinta-feira, 4 de julho de 2013

OS EXTREMOS DE MIM

Assimilei muito bem, ao longo dos meus dias,
dos meus acasos, do que vivi... todos os sentimentos.
Confesso, experimentei todos eles,
houve aqueles, que invadiram a minha alma... sem avisar,
e disfarçados... travestidos de pura indelicadeza,
instalaram dentro do meu peito... incerteza,
mas, já os mandei embora, mandei... andar.
Outros tomaram de assalto com brandura,
e acomodaram candura no meu olhar.
Como falei pouco de mim, do meu universo interior,
o tempo me permitiu... depois dos descaminhos,
jamais desplugar dos sonhos, do meu caminhar.
E na descoberta, e depois de tudo isso...  só existe a chegada,
estou indo não sei para onde, nem sei o lugar,
eu tenho é que atingir esta distancia com todo o resplendor.
Por tempos... venho afogueando a energia da minha alma,
encontro atalhos... altero a sua freqüência,
faço-a emanar para fora de si mesma, em resiliência,
e em noites de solidão... brincamos de silêncio,
lavo a minha alma com as estrelas, e dormimos ao luar.
De todos os sentimentos...
somente de dois, tenho o maior desvelo:
o tamanho da minha coragem e a do meu medo...
e sempre entre eles, estimulo e provoco o confronto,
sem nenhuma inquietação, cuidado até... sem atropelo,
e com coragem, ao medo... eu afronto,
um tem que ser maior que o outro, pura disputa
e esses são os meus abismos, são os meus extremos,
a temeridade da minha luta.
Minha fraqueza... supro com os meus amores,
com almas comuns, com as minhas escolhas, sem fingir.
Olho-me com coragem, meus olhos vibram como sempre,
e isso me faz seguir.
Como falei pouco de mim, do meu universo interior,
talvez toda essa batalha, esse medo... seja só, para...
quando chegar ao topo... encontrar,
nada além de mim,
nada além da minha coragem,
nem do meu amor.


Ari Mota