domingo, 26 de agosto de 2012

INCANDESCER A PRÓPRIA ALMA

Olhei muito para fora... de mim,
busquei desesperadamente uma luz na distancia do meu horizonte,
fui prudência com os olhares dos outros,
fugi da negrura da incerteza, e da ousadia,
demorei em arrancar do corpo o que em mim existia de insegurança,
só deixei... devaneios, loucura, tolice poética e um resto de criança,
esperei em demasia um brilho no meu caminho, tive medo do sozinho,
da escuridão do meio dia.
E em quase desalento... pensei que melhor seria... voltar,
eu queria um farol a me guiar,
achei que o destino iria me dar um guia, para seguir... caminhar.
E tudo foi muito intenso, imenso.
E quando olhei o que vivi... nada mais estava em seu lugar,
tudo... fora desfeito, sem respeito pelo tempo e pelas ventanias,
não tive como voltar.
Bom...
como não encontrei saída, abaixei a cabeça e fui.
Bom mesmo que achei nesta minha travessia... três amores.
Um chegou desavisadamente... como quem me roubasse à solidão,
alcançou-me... dançando nas pontas dos pés como uma louca bailarina,
enroscou na minha alma... feito uma rede de pescador,
aprisionou-me com o seu olhar... foi deleite... loucura.
O outro foi plantio, espera, fascinação... procura,
convivência de outras vidas, equilíbrio, sensatez.
O terceiro trouxe inadvertidamente o sonho, a alegria,
o descomedimento do recomeçar, a garra dos reinícios, o destemor.
Incandesceram a minha alma... encontrei a luz... virei sol.
Hoje... ando de bem comigo.
Tenho como companhia: a loucura, a sensatez e o sonho,
ingredientes inexoráveis para ser feliz... e somos.
E assim...
Ateei fogo na minha escuridão, avivei uma chama no meu caminho.
Como incandesceram a minha alma,
perdi a temeridade de me ensoberbar com as coisas, com a matéria,
ando iluminando o que trago por dentro, o que sou em verdade,
o que posso garimpar, lapidar,
e entregar em forma...
de amor.

Ari Mota

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O QUE GUARDAS NA ALMA?

Entre uma batalha e outra, ou entre todas as que ainda virão,
faça uma breve pausa... mais jamais descanse.
Refugie-se em silencio dentro de si mesmo,
e em descuido, ou em devaneios... cante, dance,
leia um poema, abandone esta voracidade extrema,
e faça um inventário do que ainda guardas na alma.
O que ainda tem em estoque, ou avoluma em demasia.
Talvez, com a rudeza do cotidiano, tenhas mais ressentimentos, rancores,
acumulou mais ódio... que amores.
Foi descomedidamente mais sôfrego... que alegria.
Terás que ter um tempo para estancar o sangue que brota de dentro,
e tratar desta hemorragia ocasional nos sonhos.
Os reveses da luta, às vezes esvaziam em timidez a própria coragem.
Necessitas reconstruir o seu olhar sobre si mesmo,
e fazer do destino um novo norte, uma nova abordagem.
Há que se... dar fio a espada da ousadia,
curar este ardor no peito, este vazio sem explicação, esta rua sem direção,
este frio descabido, estas madrugadas de agonia.
Há que se... preciso for... até bailar enlouquecido com a solidão.
Entre uma batalha e outra... faça um inventário do que ainda tens.
Guardamos com intemperança tudo aquilo que nos cansa,
ficamos reféns das coisas, e dos outros olhares.
Existe só um momento na vida para ser feliz... agora.
Proveja, reabasteça a alma sem demora.
A fugacidade do tempo pode lhe nocautear na esquina,
e perceber mais tarde que não viveu na verdade o que te fascina.
Bom mesmo é ter em estoque na alma... sentimentos,
risos soltos, aventura descomprometida, graça... destemor,
algumas doses de atrevimento, o descaro do risco,
a insolência de recomeçar sempre, e a petulância de nunca desistir.
E depois de tudo, o arrojo de renunciar ao medo e dele não fazer segredo,
e prosseguir, sem interromper o sonho.
Entre uma batalha e outra... não basta afiar a espada, nem cair no sono.
O que fica... não é a dimensão da vitória, ou o infamar da derrota.
Na verdade nada fica, leva-se tudo... aqui é apenas uma paragem,
antes de voltar para casa, e entre uma batalha e outra,
neutralize o ódio, caminhe com brandura, lute com bravura,
muna a alma,
de amor.

Ari Mota

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

É NA ALMA QUE SE REFUGIA O SONHO

O tempo agiu com ironia comigo, roubou-me coisas,
e sei que também envelhece o meu corpo... sem o meu consentimento,
agarra na minha pele, enruga a minha face, e a mim fica afeito,
e tem... subtraído os meus amores, os meus abraços, e deixa... vazios e saudade.
Hoje mais pareço um mago em descompasso, e antes que desapareça a lucidez,
e tudo se evapore, ou acabe em solidão ou perca-se no tempo... em voracidade,
vivo intensamente o que me resta, o tudo que ainda me cabe, e ainda me pertence.
Sou insistência, persistência... uma tamanha resignação.
Tenho que cuidar da alma que jamais me traiu, e está aqui alojada dentro do peito.
Não sou este espectro que se apresenta, sou o interior que ninguém vê e não conhece.
E assim... sou sentimentos, mais alma,
e a apalpo, tateio vez por outra para sentir sua maciez, o afável do seu existir.
Não a deixo endurecer com as pancadas do cotidiano, nem enrijecer com a desilusão,
a guardo em noites de temporais, a escondo em madrugadas de vendavais...
Não permito a sua aspereza, nem a deixo petrificar... espero tudo passar.
Faço, às vezes um retiro, parece até que desisti... e que tudo vou abandonar.
Mas... tudo não passa de uma estratégia, manha de quem sabe esperar.
Preciso de silencio, tapar-me das ventanias.
Preciso de brandura, para não se perder ao meio das agonias.
Obvio é... que engulo as lagrimas com os meus sorrisos,
e faço o que for preciso... para sempre continuar.
Viver é sempre assim... dar mais um passo, como se nunca fosse o último.
Cuido da minha alma como um jardineiro da sua flor,
a rego em noites de desespero, a adubo em dias de sol escaldante.
trocamos caricias... ela é minha calma, e eu o seu calmante,
ela não me abandona... nem eu a ela, como estamos de passagem,
ela me causa deleite, me sacode por dentro e me dá coragem,
mas de todas as qualidades que carregas: uma das mais bonitas é a verdade.
Perdi coisas, e achei assustador. Perdi a juventude, e achei muito.
Como não me permiti perder tudo, fiz dela:
um refúgio dos meus sonhos,
e do meu amor.

Ari Mota