sábado, 21 de julho de 2012

SOLIDÃO COLETIVA

Primeiro, entrou sem pedir licença,
depois se instalou ao meu lado, esbarrou na minha pele,
como quem viesse me roubar o perfume, a minha essência.
Ficou ali de vigília... com as mãos no queixo me olhando,
como quem acintosamente fosse invadir a minha alma,
e tudo virou quietude, sumiu o barulho... e chegou a calma,
achei que o silencio era solidão,
e que o meu isolamento era desespero,
minha angustia... resignação.
Mais tudo era fantasia, pura utopia...
Eu na verdade estava fugindo da agonia,
e absorto na imensidão da rua, no vazio que se acentua,
temia estar imerso na coletiva solidão,
perdido... sozinho, no meio da multidão.
Mas, o que fiz... foi escassamente entrar para dentro... de mim,
e o destino me obrigou a fazer uma reengenharia do meu existir,
fiz de mim um lugar de contemplação, um refúgio de mim mesmo.
Vivo assim... parece que estou em retiro, só... em remanso.
Mas... sou ousadia, destemor... sou amanhã,
jamais deixarei de imprimir o atrevimento do meu grito,
nem recolher em desanimo o meu olhar, ou desistir.
Solidão é para os que em excesso esquecem o hoje,
e antecipam o amanhã, e arrastam em desassossego o ontem.
E como não bastassem... vivem esse descomedimento de voltar,
vasculhar o passado, remastigar em aflição as saudades,
restaurando em melancolia as derrotas...
E remoendo em inquietação as magoas e as verdades.
Existir é um extasiar diante do inusitado e do medo, mas continuar,
não é permitir o esvaziamento da energia da alma, e perdê-la ao vento.
Meu caminho...
bifurca em vários trechos, tento atalhos,
veredas em imaginação... às vezes me perco, outras me encontro...
vou sozinho,
tenho uma luz própria, vem da minha alma... sou pura tentativa,
só não sou e nem parte faço... desta solidão coletiva,
desta ausência de perspectiva...
e amor.

Ari Mota

sábado, 14 de julho de 2012

ANTAGONISMO DO CAMINHO

Um dia...
o destino inadvertidamente esqueceu em meu caminho:
uma caneta e uma espada.
Confesso... a espada brilhou nos meus olhos,
sua lamina com a agudeza dos seus gumes, deu-me coragem,
atrevimento.
Até pensei que doravante meus confrontos, meu corpo-a-corpo,
seria de um soldado de infantaria e iria me trazer todas as vitórias,
em contentamento,
e eu iria combater em todos os terrenos com todo o destemor.
Por um tempo a portei no coldre, a carreguei no ombro,
deu-me força, vitalidade.
Houve um momento... com ela em punho,
quase... sai por ai, julgando os outros sonhos,
e sentenciando outros vôos, este é meu testemunho.
Mas... sorte que nunca a usei, nem a desembainhei em luta,
e com ela nunca feri, nem sangrei.
E o tempo passou... ela não só pesou no corpo, como na consciência.
Um dia... em desilusão a abandonei pelo caminho.
E em delírios... resolvi utilizar a caneta, transformei-me em poeta.
Obvio é... sou quase uma peça de museu, uma coisa em desuso,
sou um escritor prolixo, um escriba difuso, com uma rima em abuso.
Transcrevo linhas atrevidas, teclo sempre a palavra: amor.
Sou às vezes obstinado, repetitivo... em dizer:
É preciso ter coragem para ser feliz, sempre.
Minha escrita é lúdica, quase incompreensível, ataco sem machucar,
sangro às vezes sem ferir, travo diálogos com a própria alma.
Redijo somente para os loucos, e aos que ainda insistem em amar.
Falo aos que ainda conseguem ver as borboletas, os anjos,
e dançam com loucas bailarinas, se emocionam diante de um Jequitibá,
e em devaneios extasiam-se perante uma flor.
Componho para os que tracejam um caminho, em esperança.
Para os que jamais irão abrandar a luta, ou desistir,
poeto para os que dançam com o medo,
e não fazem segredo do seu aguerrir.
Sei que é pouco... ínfimo até,
mas, falo para os que sabem dos perigos do cotidiano,
e sem engano, continuam... enfrentam os temporais,
o mar bravio... as incertezas do destino, os ventos... a maré.
Um dia... abandonei a espada, que todos a tem em mãos,
a portam como um troféu, um símbolo de poder,
e ficam assim, toda uma vida, e são... mais um na multidão,
perambulam como autômatos... nesta coletiva solidão.
Eu... virei poeta, silêncio... olho para a vida com amor,
sou quase isolamento... em tudo encontro beleza,
poetizo a vida... com singeleza...
hoje, sou contemplação.

Ari Mota

domingo, 1 de julho de 2012

UMA ALMA EM SOBREAVISO

Houve um tempo que tentei voltar, desistir...
Mas eu não sabia... o destino estava atrás de mim,
removendo o caminho,
destruindo as pontes, as referências, os retornos...
Quando olhei para traz encontrei um nada abismal,
não tinha como voltar sozinho,
além da solidão, do frio... e o vazio do regresso,
morreria ao meio do vendaval.
E fui apreendendo a apagar o passado,
mas... bom mesmo, e ao meio de tudo isso,
foi que, consegui colocar na minha bagagem:
Valores... de alguns, que comigo conviveram.
Coragem... de outros, que ao meu lado enfrentaram os temporais.
Valentia... de outros tantos, que me ensinaram nunca desistir,
e assim tem sido minha viagem.
Como não posso e nem consigo voltar,
fui apreendendo a morrer... todos os dias,
e renascer no alvorecer dos meus sonhos, em todas as manhãs,
nelas... sempre encontro um novo dia,
uma nova vida, um novo olhar.
E existir tem sido um acinte a teimosia, um passeio descomunal,
não desisto...
mesmo estremecendo diante da incerteza,
rompo às vezes o silêncio de mim mesmo e de forma visceral,
aprendi a me destemer,
sem se acabar, ou achar que vou morrer,
e assim... como desconheço o voltar,
tenho ido... um passo de cada vez, e sei que posso,
sim eu posso...
dentro de cada um, existe, “um” outro... que pode mais,
uma... outra alma em sobreaviso, em prontidão,
e eu acredito neste outro... que na verdade sou eu mesmo,
que me acalenta em madrugadas de aflição.
Houve um tempo que tentei desistir, voltar.
Mas eu não sabia... o destino só me deu uma direção... ir, caminhar.
Em vista disso, eu sei somente seguir... com todo o destemor.
Vou ao chão muitas, das vezes... e levanto...
Porque, o que busco nesta minha passagem... aqui,
é amor.

Ari Mota