quarta-feira, 26 de outubro de 2011

CONSTRUIR A SI MESMO


Se a voracidade da conquista um dia for embora,
e as coisas que amealhou ficar ofuscadas, perderem o brilho,
e o que edificou ao longo da caminhada o entediar em aflição,
causar desprazer, e desenhar vazios no olhar,
e tudo perder a graça, transformar em inquietação.
Se todas as vezes que o crepúsculo lhe vier fazer companhia,
procurar em vão o horizonte, e se ver sentado à beira do caminho,
acompanhado... apenas e tão somente, dá ausência de si mesmo,
e depois... um nó brotar garganta adentro e sentir sozinho.
E mais tarde... bater um cansaço... querer, talvez sumir, talvez fugir,
e em desassossego, o expor lhe incomodar, do mesmo modo o existir.
E, além disso, descobrir-se... achar os seus desacertos,
aperceber suas atitudes em deselegância,
o encarar que ainda tem... de indolente,
e sua frivolidade em arrogância.
Ainda, dá tempo de mudar...
Talvez...
Só... tenha construído coisas, esqueceu de construir a si próprio.
Nada edificou dentro da alma, colidiu com sua inabilidade,
andou vagueando, colecionando futilidade.
Mas, como inda tudo está um vão... ermo, vastidão.
Sacie-se de silencio, farte-se de sentimentos,
coloque ali ternura, plante ali um jardim,
convide umas borboletas azuis, faça amigos,
dance em demasia, em alegria.
Ainda dá tempo de regar corações,
ser feliz, viver todas as emoções.
Faça diferente... não dê uma coisa, uma jóia,
apanhe dentro de si mesmo, da alma... uma flor.
Se não conseguir ter mais que isso... para presentear,
tenha apenas... para os outros...
um olhar de amor.

Ari mota

sábado, 15 de outubro de 2011

ILUMINAR A PRÓPRIA ALMA


Óbvio será...
não permitirem romper a escuridão de si mesmo,
iluminar a própria alma,
afoguear o seu candeeiro e sair clareando o seu caminho.
Visível também será... o encarcerar do sonho, o impedir do vôo,
o podar do grito, não consentir o seu brilhar sozinho.
Haverão de restringir os saltos, provocar o medo, o que acalma,
e definir que o seu retiro, o seu isolamento... é pura solidão.
Será... arremessado, as estatísticas, ao homem massa,
irão mapear o seu trajeto, esculpir o riso em dor,
lagrimas em pingente, em objeto.
Depois, em nome de um ceticismo descabido:
proibir o arder do amor,
e o enlouquecer da paixão.
Mas... é preciso ter coragem para ser feliz, até o fim,
mesmo quando os outros... detestem –  vê-lo assim.
Transgrida, desobedeça aos paradigmas, acenda a sua luz interior,
diferencie, distingue-se... da multidão.
Depois... brilhe... dance com sua liberdade, em cortesia,
ria, olhe o mar, obedeça as loucuras que chegam em alegria,
ou refugie-se, na mais alta... das montanhas,
e salte por cima dos abismos imaginários, ame em demasia.
Corra, sinta o vento... pressinta você, a sua intrepidez,
cintile harmonia, destile sensatez.
Toda luz vem do equilíbrio da alma,
do olhar que suaviza, das mãos que tocam em calmaria.
Devolva em mansidão o que lhe ofertam em gritaria.
Evidencie o seu luzir para o mundo, para o universo,
seja uma referência, um lenitivo,
para o desespero dos que vivem na escuridão.
Seja um norte, em noites de ventania.
E ao meio de uma tempestade, seja... um farol.
Ilumine-se por dentro, e resplandeça para fora,
ilumine a sua estrada, e a dos que vagam em indecisão.
Revele-se em amor,
exista...
como o sol.

Ari Mota

domingo, 9 de outubro de 2011

RETOCAR OS SENTIMENTOS


Quando menino, achei que a vida iria me ofertar a direção,
e que era só seguir um roteiro, ou trazer no bolso, um manual.
E fiquei ali na esquina do tempo... a espera de um destino,
inequívoco foi, que só encontrei ventania, temporal.
Tive que agarrar aos desafios, as desventuras, ao recomeço,
fui me acomodando ao desconforto da perda, da solidão,
fui me aquietando a invasão do tempo, ao sumiço da juventude,
e tudo foi crescimento, aprendi a tirar da vida o que ela não oferece,
arranco dela... os meus ensaios, as minhas tentativas,
provo todos os sabores, enxugo às vezes... todas as lagrimas,
engulo em silêncio as minhas derrotas,
e emudeço com minhas vitórias,
são meus exercícios, minha vicissitude.
Sei... que me foi à robustez do corpo, e sem prantos,
quando nos entardeceres, um vazio rompe de dentro,
atormentando a calma,
e o peito embrutecido apercebe um vão despegar a alma,
e um vácuo quebrantar em desassossego e me furtar à quietação:
Retoco os meus sentimentos, jogo fora outros tantos,
e depois... abro outros caminhos, outros horizontes,
ando desprendendo das vaidades, despregando das coisas,
substituindo valores, redefinindo o fim... os amores.
Retoco tanto o que tenho por dentro, reinicio-me a todo momento.
Garimpo dentro de mim coragem para ser feliz,
caminho ao acaso em busca de equilíbrio, sensatez.
Retoco os meus sentimentos, os corrijo em demasia,
hoje sou menos desespero... mais calmaria.
Ando retocando, reinventando os meus afetos,
e como aprendiz... sei que a grandeza da vida são os detalhes,
hoje já não busco sem prudência os aplausos,
nem a fugacidade da evidência, do glamour,
nem tão pouco, os altos píncaros... sou mais planície,
ando em devaneios com a singeleza.
Retoco os meus sentimentos em busca de beleza,
e amor.

Ari Mota

domingo, 2 de outubro de 2011

FUGAZ É O TEMPO

Sentado naquela rua descalça, nos confins das gerais,
despercebido, não conseguia mensurar a fugacidade do tempo,
quase que efêmero foi à meninice, quase que me fugiu o sonho.
Mas, um dia em metáfora, sentado na plataforma da estação,
esperando o trem... fiz dele a minha vida.
Espiava as chegadas em risos, os abraços precisos,
os beijos ardentes, os afagos comoventes, o choro de emoção.
Depois, abalava-me com as partidas: os adeuses, as lagrimas perdidas,
as dores, os vazios de alma... as renuncias em solidão.
Mas, tudo aquilo era um fascínio, um encantamento,
deslumbrava-me, era um insólito salto, uma linda travessia,
alucinava-me o ir embora, o desconhecido, outro vento.
Mas de tudo... o que mais me tocou, bateu fundo,
esmurrou a alma em desespero... não foi chegar, nem partir,
não foi nem a tristeza dos acenos, nem o silencio do olhar,
nem a ternura do encontro, sentindo a distancia acabar.
Na verdade, já menino, e na descoberta... sem se iludir,
e no sentido figurado, a maior desilusão,
é não conseguir chegar a tempo, perder o trem na estação.
Óbvio, foi que tive que arrumar as malas e seguir o meu caminho.
Sempre estou chegando, sempre estou partindo,
às vezes e sempre chego sorrindo, muitas... parto sozinho.
Mas, são viagens, são tentativas, cresço a todo o momento,
aquele trem, aquela estação... foi mais que um passado.
Hoje... não espero o destino me conceder nenhum prazo,
antecipo até as minhas emoções, sou feliz hoje.
Estou sempre pronto, chego primeiro sempre,
abro a porta da minha alma, e antes que entre o ódio, coloco ali amor,
instalo equilíbrio, antes que descortine... desespero,
sorriso antes que manifeste a lágrima, beleza antes da estúpida rudeza,
se não posso dar coisas, ofereço uma flor.
E assim aquele trem, não só me ofereceu carona,
direcionou o meu destino, o que trago por dentro.
Passei a amar em demasia o que me resta e o que sou.
Sei que sou um poeta tímido, meio que ultrapassado,
faço poesias, versos sem rima, falo de amor, para não chegar atrasado.
Ando saltando profundamente,
em cima dos abismos, onde escondo os meus medos,
e tudo é esperança, nada são descrenças.
Ainda assim... corro tanto, atrás de vida, de exemplos, do que tenho,
aceito o que é meu, e dos outros nada desdenho,
nem as diferenças.

Ari Mota