sábado, 27 de novembro de 2010

A ALMA EM GUERRA


O mundo talvez esteja em guerra, e homens em conflitos,
sua rua em desordem, sua cidade em chamas,  
calçadas vazias... praças em solidão,
vidas aos gritos.
Tudo é desarranjo, desconcerto, imensa confusão.
Os olhos em desespero... buscam ternura, vagam em desalinho,
procurando abrigo, respostas, procurando um caminho,
em sofreguidão.
São dias de tormenta, vendavais, noites em desalento,
que tudo passa, muda e atravessa o tempo.
São instrumentos de evolução, transformam o humano,
aperfeiçoa corações,
em sofrimento.
Mas não é ainda a pior das guerras:
a que aniquila o sonho, obstrui os vôos, impede os saltos.
Porque a pior delas... esconde, disfarça em medos,
dentro de sua própria alma.
E isto é guerra...
E é preciso que crie uma estratégia para invasão,
planeje os combates, ataque em noites de silêncio,
assalte em madrugadas de ocupação,
e que tudo seja para vencer os conflitos existenciais,
os inimigos utópicos, os medos imaginários.
Que possa invadir sua própria alma, e aniquilar os confrontos pequenos.
Que resista, persevere, tenha resiliência aos reveses do destino,
e não permita guerras íntimas, desconforto de alma,
ausência de coragem, e não tenha medo de ser feliz.
E quando olhar o mundo e deparar com os seus horrores,
não atemorize, ofereça flores.
Prepare sua alma para defrontar com a intolerância,
com a indiferença, a arrogância,
se um dia, em companhia, chegar a dor...
possa oferecer
amor.

Ari Mota

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

MEDITAÇÃO


Tive períodos de impaciência,
provoquei celeridade no tempo,
quis rapidez, tentei urgenciar a minha vida.
Na percepção a defini efêmera, no existir... de curta duração.
E quis tudo as pressas, tudo ao mesmo tempo, tudo na emoção.
Quando a juventude fez-me companhia, tudo foi transitório,
pareceu-me breve o riso, fugaz a brandura, passageiro o amor.
E assim... velozes foram os beijos, os toques, finito os desejos.
Houve momentos que fui lacônico, os demais só discursei,
e de tão repentino, de tão superficial, fiquei comum, trivial.
Tive períodos de inquietação, provoquei desespero nas horas,
quis adiantar os amanheceres, antecipar os tremores,
sofrer antes da dor, abandonar os amores.
Mas, tudo passou... sobrevivi ao rigor da pressa,
a ligeireza da marcha, as intempéries do caminho,
e na descoberta e sozinho,
encontrei o tempo da delicadeza,
fiz de mim reflexão.
Garimpo nas profundezas da alma... essência.
Nas entranhas da carne, argumentos.
Cavo profundamente e de forma visceral, minhas verdades.
Embrenho para dentro de mim, atrás dos meus medos,
negocio sua saída, os arranco um a um, como um guerreiro.
Hoje... envelhecido, não tenho mais pressa,
deixei de ser corredeira para transformar em lago profundo.
E sem segredo... medito desmedidamente,
todos os dias, em busca...
de uma consciência
que continue abastecendo 
minha alma
de amor.

Ari Mota

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

HOJE ESTOU MELHOR QUE ONTEM


Quando volto o olhar para o passado,
encontro-me em pedra bruta, rústico,
tempos de ausência... falta de raciocínio, coerência,
estradas tomadas de túneis, curvas infindáveis,
época... das dúvidas, das incertezas, da falta de caminho,
procurava um acesso à alma, um despertar, um desprender.
Era bravio nas emoções, tímido no afeto, severo no soluço,
áspero no abraço, rude nas lagrimas, ríspido nas respostas,
exigente nas coisas,
sentenciava como relâmpagos em noites de tempestades,
sem fluência... caminhava sozinho.
E percorri todas as estradas que o destino me concedeu,
andei ao léu, vaguei pelos sonhos, pelas veredas utópicas,
dei ensejo às vontades, aos desejos e nada aconteceu.
Busquei minha verdade em outros braços, em outras narrativas,
quis para mim o existir dos outros,
em retrospectivas,
comparei... confrontei... quis tudo igual, em simetria.
Na descoberta... vi que nada era possível, tudo era utopia,
e antes que a solidão me fizesse companhia,
caminhei em busca do fulgor da quietação, do sossego da alma,
do silêncio que me acalma,
de mim mesmo.
E desde então, no mais veemente encontro,
deparo-me...
corrigindo-me, acertando-me, sucessivamente.
Melhoro todos os dias, prospero a cada amanhecer.
Desprendo dos medos, tenho todas as emoções,
o soluço e as lagrimas já não são mais segredos.
Abraço... em demasia, faço silencio nas perguntas,
desapego... das coisas, já não julgo em teimosia.
Diferencio-me em cada principiar de dia,
faço tudo ficar melhor,
faço tudo ser
amor.

Ari Mota

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O ÚLTIMO DIA DO AMOR

Quando jovem... amei em pedaços,
em partes,
em gotas,
em momentos...
Planeei ser eterno, constante,
e em tempo nenhum atingir o fim,
tive pressa, realcei o disfarce, o instante,
e desmedido quis todas as emoções só pra mim.
Tudo me tocou ao ritmo, e ao descompasso da fugacidade,
desviei-me do aconchego, afastei-me dos abraços,
beijei diversas bocas, dormi em varias camas,
acomodei em colos inertes, em almas estranhas.
Beberiquei gotas de fingimentos,
lagrimas dissimuladas de gratidão.
Tive momentos prazerosos, amores de curta duração.
E tudo foi pouco...
faltou-me a cumplicidade com tempo, com o amor.
Mas o destino, em desatino e magia, eterna loucura.
Colocou no palco da minha vida, uma louca bailarina,
que em fantasia, se faz mulher, se faz menina,
e com toda a avidez de afeto, com toda a sinceridade em ternura,
transforma tudo em contentamento, a todo o momento,
com todo o esplendor.
Hoje... envelhecido,
amo por inteiro,
ao todo,
com toda a intensidade, e tudo.
Tenho tido êxito em lograr o destino,
o iludo todos os dias, o seduzo todas as noites,
“ele acredita que meu amor terminará somente amanhã”
E assim sigo minha trilha:
Amo somente hoje, desmedidamente.
Como se amanhã... fosse o último dia
do amor.

Ari Mota

terça-feira, 16 de novembro de 2010

LICENÇAS E DESCULPAS


Quando a voracidade da juventude fez-me companhia,
atropelei o meu próprio silêncio.
Apressei-me no grito, no gesto, fiz do olhar atrevimento,
afoiteza na conquista, arrojo na descoberta.
Aventurei-me no inusitado, encorpei vaidade,
quis ser mais veloz que o vento.
Quando a inconstância balizou a fugacidade do risco,
e a ousadia ritmou o percorrer, fiz do manifesto um atacar,
demasiadamente... sangrei almas, debilitei sonhos,
usei da franqueza, quando podia amenizar a critica,
renunciei a paradigmas, achei-me singular.
E o existir cobrou-me postura, atitude de alma,
o destino pediu-me que amenizasse o julgo, o supor.
Evoluísse na compreensão, habilitasse na inteligência,
tivesse... mais altura, mais volume, mais intensidade,
quis de mim amor.
E que pedisse mais licença que desculpas.
Quando a serenidade da velhice fez morada em minha alma,
fez-se calma, quietação no andar,
fiz do silêncio uma arma, da contemplação um costume.
Hoje... ao por do sol... peço licença à vida, para continuar,
peço licença à partida... para mais um pouco ficar.
Hoje, deixei em desamparo as desculpas, e sem culpa,
peço licença ao existir... e que me suporte mais um pouco,
com minhas verdades...
peço licença a vida, para amar mais um tanto.
E que eu possa ainda oferecer flores,
em devaneios,
em teimosia,
aos meus
amores.


Ari Mota

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

INVENTARIANDO A VIDA


Quis o destino, um inventário da minha vida.
E em retrospectiva regressei ao passado,
fui perambular em devaneios aos trechos que atravessei,
nas veredas que me perdi, no imprevisto do acaso,
no improviso do gesto e nas circunstâncias que me achei.
Voltei...
Encontrei escondido dentro da alma, três grandes momentos.
Minha meninice, sonho infantil.  
Minha inebriante juventude, mais que dúvida... inquietude.
Minha reta final, rugas na alma, calma... quietude.
voltei...
Fui catalogar coisas... e vi que quase nada tinha.
Tive que listar em metáforas outras riquezas,
deparei com emoções, outros sentimentos, belezas.
Da infância, que ainda na lembrança, pouco listei:
um pião de corda, um estilingue, uma bola de gude.
Da juventude, que ainda resta-me alguma atitude:
sonhos em disparate, desatino nos combates, e vigor.
Da velhice, que me é o tempo da descoberta:
da lucidez que desperta, do luzir de um pensador.
Fui inventariar a minha vida, catalogar as minhas coisas,
e de tão pouco, não coube em uma linha,
de tão ínfimo, não tive coragem de imprimir,
de tão pouco, de quase nada, nada posso dividir.
Fui inventariar a minha vida, catalogar o meu existir,
de tão belo, de tamanha primazia, que em risos, em ufania,
descobri que tinha todas as riquezas, preciosidades em afetos,
cataloguei intensa convivência em alegria.                                             
Hoje... depois que o tempo redefiniu a minha alma,
pude inventariar a minha vida, e tudo é deslumbramento,
a transformei em esplendor...
não consegui ter coisas... nada tenho...
só amor.

Ari Mota

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

ABRIGO


Mesmo com toda a aridez do existir,
com toda a rispidez da convivência entre os homens,
com toda a aspereza do olhar,
do intratável preconceito,
da rigidez da intolerância,
e a severidade do desprezo.
Você possa...
e procure não sucumbir à voracidade do subjugar,
nem a avidez da conquista, tampouco a impetuosidade do dominar.
De tudo isso... só não permita,
e não deixe fugir das mãos que semeiam,
do peito que sonha, dos olhos que colhem...
o evoluir.
Não proíba, não impeça as transformações que brotam,
que emergem de dentro como desejos.
Não proíba, nem vede os anseios, nem pode as asas do seu voar.
Não proíba o seu grito, nem estanque o suor da sua dúvida,
nem a fantasia do encontro, nem a vontade de amar.
Que de tudo isso... sua metamorfose espelhe excelência,
que passe por aqui... como missionário de si mesmo,
incumbido de encontrar sua própria verdade, sua essência.
E que...
reserve um canto, um ângulo, uma esquina dentro da sua alma,
e a preserve,
faça ali um abrigo,
um refúgio.
E que não deposite ali... nem ressentimentos,
nem magoas,
nem coisas,
nem medos.
Que possa armazenar apenas o acaso em ternura,
o talvez em loucura,
e as vicissitudes que acometem... quem ama.
Que neste refugio possa abrigar dos temporais,
o amor.

Ari Mota

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

MAGIA

Pareceu-me efêmero o destino,
pareceram-me tão somente épocas de instantes.
E assim resisti, sobrevivi...
O tempo intentou imputar-me a inércia, o desuso,
escapei à indolência.
O tempo enrugou a alma, cobriu de flacidez a carne,
mas não conseguiu vencer o sonho,
escapei à indiferença.
Reinventei o fascínio do começo, o impulso do princípio,
fiz de mim... iniciação,
reinicio-me todas as manhãs,
em rituais mágicos, em soberba alegria,
encanto-me com o despertar, com o romper do dia.
Evoco luz, atraio calmaria,
brisa silenciosa,
purifico a intenção, asseio as palavras, alinho a emoção,
acometo-me do prazer pelo ínfimo, nele encontro grandeza,
quebro o encanto da ilusão, harmonizo-me com a solidão,
e em segredo vou escapando das minhas incertezas,
e abandonando pelos caminhos, todos os meus medos.
Sou guardião da minha própria alma,
mago de mim mesmo.
Reinicio-me todas as manhãs, em pura magia.
Procuro desmedidamente o equilíbrio, a sabedoria,
sou um crescer, um aumentar, um aprendiz em teimosia.
O existir concedeu-me a coragem para ser feliz.
Reinicio-me em todas as manhãs,
derramando, transbordando pelo chão...flores
em fantasia,
em feitiço,
em magia,
para os meus amores.

Ari Mota

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O BEIJO


Em constante procura...
percorri o meu existir no desejo do toque,
na súplica de um beijo.
Fitei tantas bocas, contemplei tantos lábios,
ensaiei tantos encontros.
Aflito reclamei tantas fantasias, beijei no escuro do cinema,
escondido... depois de um poema,
Em desespero... em agonia, beijei nos bares, nos botecos,
beijei bocas embriagadas... em pandarecos,
beijei bocas indiferentes, solitárias, amarguradas, inocentes.
beijei bocas vis, acanhadas, preparadas, desinfeliz.
beijei bocas estúpidas, desesperadas, abandonadas, e feliz.
beijei dançando na chuva, na praça, no banco do jardim,
na cama, no chão, ao vivo... em cores, ao som de um bandolim.
Beijei bocas escandalosas, nervosas, proibidas,
desnecessárias, inibidas.
Beijei bocas gostosas, frias, indolentes, atrevidas.
Beijei tantas bocas...
E nada sobrou... sequer um gosto, um sabor,
sequer a leveza do olhar, sequer a pureza do amor.
Mas um dia... o destino em capricho, atirou-me... em seus lábios,
minha alma em festa, saiu.. em seresta,
e bailei ao som das mais românticas cantigas,
colei meu rosto na mais aveludes das peles,
e como um traiçoeiro... fiz-me de posseiro,
e furtei-lhe a doçura do beijo.
Beijei todas as bocas... em todos os bailes,
em todas as camas, ao despertar do sol, ao pôr da lua,
mas só uma...
deixou-me essência,
a sua.

Ari Mota