sexta-feira, 29 de outubro de 2010

TALVEZ UM DIA EU VOLTE


O destino tem me provocado a não parar...
Continuar meus combates, seguir em devaneios com meus sonhos,
atravessar minha jornada, construir caminhos, insistir, perdurar,
lutar em competência, desafiar o inusitado, estremecer de medo,
travar peleja, fazer-se de rijo e temer somente em segredo.
E assim o fiz, e assim tenho existido,
planto ousadia...
Decolo em vôo nas noites de tempestades,
e aterro em manhãs de solidão.
Sou mais partida do que chegada,
parto em duelo às vezes com o mundo, às vezes comigo mesmo,
fomento... guerras existenciais em nome da minha verdade,
disputo um vão, um lugar vazio dentro da própria alma,
travo lutas íntimas em nome da minha liberdade.
Hoje não posso cessar o meu percorrer,
nem afugentar-me do talvez,
aventuro-me em saltar sobre os abismos da dúvida,
com toda a minha destimidez.
Parto... pelo prazer de recomeçar,
pelo deleite do novo, a delícia do verdejante.
Vou... umedecer de aragem fresca, abraçar em desejos novos olhares,
beijar outras bocas, amar em novas camas, outra amante.
Mudo... pelo gosto da distancia, pela singular volúpia da descoberta,
e tudo tem sido muito intenso, raro, descomunal,
torno-me maior nas partidas,
nos adeuses,
nas despedidas.
Dói o peito, dói à alma, fica um vazio visceral.
Mas, quando renuncio ao ficar... pelo ir embora,
levo sempre... amor,
na mesma intensidade que deixo.
Talvez um dia eu volte.

Ari Mota

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A GAROTA E A MULHER


Fui passear em memória, ao passado...
procurava apenas contemplar o que vivi,
reencontrar o esplendor da beleza,
a sutileza da juventude, a vivacidade do olhar.
Fui revolver o passado... bulir com o tempo,
não a procura, nem em busca de coisas,
nem ao encontro do que perdi,
mesmo porque... tive que jogar fora os excessos,
deixar pelo caminho os ressentimentos... magoas que senti,
pesos em demasia que no peito trazia... só para sofrer.
Fui de encontro ao tempo... da juventude,  
da ingenuidade do beijo,
da inocência do abraço,
da limpidez do gracejo, do bem querer.
Caminhei ao acaso, para rever nosso caso... que se fez amor.
E que de resto encontrei, em desvario... fiquei,
nossa praça vazia, nosso cinema em agonia, nosso jardim sem flores,
nosso passeio sem rumo, nossa ilha... sem amores.
Voltei à procura da menina moça, da garota da minha rua,
que ainda em noites de devaneios, sozinha reaparece... insinua.
Fui... bulir com tempo.
E em suspiro, dei-me casualmente com a lembrança,
e em delírios, foi-se a travessa menina,
a inquietante garota, a virginal criança.
O tempo fugaz... efêmero como uma ventania,
metamorfoseou a garota em mulher,
de frágil se fez beleza, de doce se fez leveza.
Fui... bulir com tempo,
minha alma... quando depara com a garota,
a olha com amor,
quando o faz com a mulher,
também.

Ari Mota

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

PERDER E DESISTIR


Inusitadamente o destino bateu em minha porta,
abordou-me, querendo uma entrevista.
Em desespero pensei fugir, escapar... desaparecer.
Trazer outra vez o pretérito, suscitar o tempo vivido,
remanejar do esquecimento... o esforço do combate,
o vigor das batalhas, o suor da solidão, as noites frias,
as duvidas que se apossaram em assalto... da minha alma,
das vezes que perambulei pelas calçadas a procura de horizonte,
das vezes que vaguei desmedidamente, mais que além da descoberta,
em caça, e em desespero... aos acertos, tentando construir pontes,
aventurando-se no novo, no inusitado, no incomum... no risco.
São segredos que nem mesmo eu sei contar, dar testemunho.
Não... não permitiria  este intento, esta ousadia, e como não bastasse.
Indagar-me: Qual a diferença em perder e desistir?
O destino ficará sem a minha resposta...
Fui um colecionador de derrotas, perdi demasiadamente,
mas, finquei, enraizei dentro do peito... sonhos.
E fiz deles... o meu caminhar, o meu existir.
E em tempo nenhum, e em nenhuma vez sequer... desisti.
Não consegui responder tal questão... não há diferença,
há um abismo que os separam.
Todas as vezes que perdi... tive coragem para superar.
Todas as vezes que a desistência rondou-me... tive medo.
E minha vida aconteceu assim... fui crescendo,
nunca temi perder, temia desistir.
Temia perder o sonho,
perder o amor.

E você...

Qual... a fase da tua vida?
Quais são seus medos? 
                 
Perder?
           Sonhar?
                      Desistir?                  
                                   Amar.?           

Ari Mota

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A JANGADA


Minha morada é de frente para o mar...
Muito embora... esteja a 260 km dele... eu o imagino,
e sua brisa vem passear todas as noites em minha pele,
chuviscar em minha alma,
sua aragem brinca de orvalhar meus cabelos,
em desalinho,
e seu azul vem luzir em meus olhos,
esplendor, delírios, e calma,
suas ondas em fúria e em estrondos,
me desperta em todas as manhãs e me acalenta ao sol,
em vespertino.
E em devaneios lanço minha jangada e saio a navegar,
vou pescar ilusões,
arremessar a minha rede em busca de sensações,
sou pescador de sentimentos.
Navego em temporais, em imensas ondas que me sacodem,
derruba-me a bússola, tira-me o norte,
faz-me perder na negrura da noite, sem medo da morte.
E tudo isso me fascina, o mar é duvida e desatino.
Em metáforas... sou jangadeiro errante,
amante do inusitado, do inesperado alento.
Resisto às tempestades, os vendavais repentinos.
E iço velas em jangadas invisíveis, fujo da solidão lacerante.
Sou jangadeiro em desvario, pescador em desafio,
busco travessias, saio ao mar em busca de aventura,
e faço dele o meu existir, uma procura.
Mas... tudo isso é pura fantasia de poeta,
que pesca emoções,
que pesca em mares revoltos:
a sutileza do riso,
a ternura do abraço
a leveza do encontro.
Saio todas as manhãs em minha jangada,
no mar dos meus anseios.
Pesco amor...
Para lhe dar.

Ari Mota

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

RESGATE


Se ouvir um pedido de socorro vindo de dentro do peito,
ouça em silêncio os gritos em desespero, a ofegante busca,
talvez sejam ecos da própria angustia,
reflexos da própria impaciência, da eterna aflição,
mas, pode ser o destino lhe convocando para transformá-lo
em socorrista de si mesmo.
Ao longo do existir, houve alguns desmoronamentos com o seu andar,
e suas atitudes soterraram dentro da própria alma... sentimentos.
E ficaram isolados pela rudeza do cotidiano,
verteram-se em ressentimentos,
e permaneceram ilhados pelo desamor.
E tudo o que tinhas de belo e puro,
toda sua delicadeza com o outro,
toda a sua brandura com as diferenças,
e toda sua suavidade no olhar,
perderam-se nas entranhas da duvida e mínguam em prantos,
desfalecem em solidão,
enfraquecem de medo,
e sozinho estremece na escuridão dos vazios.
E em vão espera ajuda, implora uma mão.
E a vida em desafio, em resiliência,
o convoca para transformar-se na mítica ave que renasce das cinzas... Fênix.
E fazer de ti... um superar, ressurgir, reaparecer,
reaprender a conviver com as verdades e consigo mesmo,
e em jubilo resgatar todo o amor que ainda resta soterrado dentro da alma.
Portando...
Resgate... o sonho... o afeto, o você que você soterrou,
o amor que escondeu.

Ari Mota

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

CRIANÇAS E BORBOLETAS

Quando a maturidade fez acampamento em minha alma,
passei a ver o existir de outro ângulo,
aclarou-me que atravessei toda minha existência por analogia,
e abraçado com a incerteza,
fiz da duvida um cismar eterno, nostalgia.
E na descoberta, tudo que ouvi, tudo que li... duvidei,
veio-me a memória que em todas as histórias que escutei,
em quase todas desacreditei.
Fiz desconfiança nos discursos... dos homens,
no seu olhar insolente, no seu desfilar em desaforo,
na sua infinita deformação da verdade,
no desvirtuar da decência, na ausência de choro.
O avistei ávido de mando,
sedento de cinismo,
coberto de mentiras.
Quando a maturidade fez acampamento em minha alma,
escapei dos que querem subjugar meus devaneios,
fazer-me menor, constranger meus saltos, meus vôos,
e meus delírios.
Hoje...
Abono como companhia... umas borboletas azuis,
uma doce e louca bailarina,
e crianças... que em metáfora... as concebo,
como se fora um diamante já lapidado,
reluzente,
com suas facetas refletindo o brilho da vida,
a beleza da inocência,
a pureza do existir,
e falando de amor.

Ari Mota

sábado, 9 de outubro de 2010

CONTEMPLAÇÃO

Meu existir, fugaz como uma ventania,
foi levando-me a eternos instantes.
E tudo durou,
e tudo aconteceu,
e tudo virou circunstancias.
Os temporais perduraram noites, e arrastaram-se pelos dias,
tornaram-se desmedidos momentos,
e em ocasião fez-se tormenta, encharcou a roupa, esfriou a carne,
sacudiu a alma... quase morri de medo.
E um dia... não tinha mais para onde correr, fugir, fingir... esconder.
E em desesperação, perdido...
Refugiei-me... dentro de mim mesmo.
E era tanto silêncio, tamanha quietude... que de calmo,
tornei-me sereno,
quietei-me em soluço,
repousei-me em contemplação.
Hoje amarrotado pelo tempo, esfolado pela experiência,
inda sonho... inda brinco de menino, inda fantasio-me de poeta.
Contemplo o existir... com toda a intensidade.
E o destino brindou-me com sentimentos e palavras,
e em devaneios... inda apercebo o murmúrio de uma lagrima,
que rola face abaixo de saudade.
Inda espio a toada breve de um sorriso,
em alegria pelo regresso, pelo encontro.
Contemplo a sutileza do olhar, a pureza do gesto,
a leveza da verdade.
Contemplo os que têm coragem de ser feliz.
Contemplo o amor.

Ari Mota
 

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A CHAMA


Um dia a circunstância expulsou-me do conforto,
e o destino repassou-me o dirigir, entregou-me... a estrada vazia,
fez de mim navegante em abandono,
doou-me o horizonte, e ofereceu-me o inesperado como endereço,
concedeu-me a vontade, o juízo da escolha...
a prudência do olhar e a certeza de ser fiador de mim mesmo.
E tudo, foi desmedido... fui deixando pelos caminhos fragmentos,
fui sangrando inocência, lastimando em choro a solidão.
Foi o tempo em que a rudeza dos homens esbarrou com minha
pureza de menino.
Comedido calejei a alma, para suportar a indelicadeza,
e em resiliência acendi dentro do peito esperança,
e fiz dela uma chama, um fogaréu descomunal.
E como se não bastasse, tornei-me senhorio do veemente fogo
do meu existir,
E passei em vigília, e em zelo... regrar suas chamas,
fomentar suas labaredas,
estimular sua intensidade.
Passei a reger a minha travessia, e não mais vaguear ao acaso
e nem errante, perder-se nos devaneios dos meus sonhos.
E o destino fez de mim guardião, acautelo-me para manter
a chama acesa.
A protejo... dos temporais e das ventanias,
a chama que carrego... arde,
queima
de amor.

Ari Mota

sábado, 2 de outubro de 2010

O BERÇO


Quando despontei para o existir deparei com a magnificência
dos que viviam em meus limítrofes.
Destilavam em pompa seus aparatos... e em abundância,
desfilavam fartura, cuspiam moedas
e a imponência do poder.
Apercebi que uns construíram seus impérios,
outros tantos se tornaram herdeiros,
e muitos subtraíram em destreza dolosa, em astúcia insana,
o que nunca lhes pertenceu.
E assim alcancei alguns entendimentos,
e em controversa ficaram as duvidas, e em suspeita a desconfiança,
brotou um cismar,
e um presumir de que tudo poderia ser apenas castelos de areia,
neblina ao vento.
Tenho em hipótese que a conquista de coisas pode na fugacidade
do existir,
tornar-se pouco diante da extensão do destino.
E diante de tudo isso, alterei o rumo, o foco e a direção,
agreguei em meus sonhos... outros valores de conquista.
E docemente passei a construir meu império...
dentro de minha própria alma.
E desde então, a nutro com esperança, avanço com coragem,
persevero na exaustiva lida... em ser feliz.
E tudo, tem sido sucessivos momentos de transformação,
sou sempre o novo que desponta e descubro.
Não consegui construir impérios de coisas,
somente de afeto e ternura.
Nem me deixaram nada como herança,
somente retidão e honradez.
E tímido não subtraí de outrem... matéria ou numerário,
somente abraços e beijos.
De tudo restou-me amor
e berço.

Ari Mota