terça-feira, 29 de junho de 2010

INSTINTOS


Se aperceber um sentimento encolerizado, emergir de dentro,
em fúria e transfigurar seu semblante, mascarar em ira sua face,
e fazer do seu olhar uma manifestação de furor,
controle-se...
São instintos que carregas de outras vidas,
de outras guerras,
de outras batalhas que travou no passado.
Esta aversão à paz, esta raiva absoluta, este rancor,
adormece dentro de ti, como um vulcão,
e este ímpeto, esta veemente força pode interromper sua quietação.
Não absorva e nem armazene dentro da alma a violência do mundo.
Já as teve outrora, e tudo isto já passou pelos capítulos da sua história.
Hoje é o tempo em que reputas apenas o crescer da própria essência.
Hoje é o tempo em que irá abster-se do medo, evoluir,
cultivar no cotidiano a coragem de ser melhor que ontem.
E aflorar instintos que o faça combater as inverdades,
e reagir a rudeza dos que querem destruir seus sonhos.
Que seus instintos possam, fazê-lo:
ouvir, ver, e falar, somente verdades.
E que doravante aprimore todos os sentimentos,
que saiba amar sem delimitar a intensidade,
que das batalhas que teve... esta seja a maior delas,
e que possa vencer todo o ódio que um dia teve,
todo o desamor que carregou vida afora.
Que o único instinto que guardas na alma,
seja o de amar... incondicionalmente,
todos, e a você mesmo.
Que em vez da espada, ofereça flores.

Ari Mota

sábado, 26 de junho de 2010

OLHE COM AMOR



Se não conseguir soltar a voz pra falar de amor,
se buscar as palavras dentro da alma,
e encontrar vazios,
ou dos lábios não brotar murmúrios,
e não tiver a viveza em segredar palavras de carinho.
Se não conseguir retirar do seu vocabulário doces expressões,
se por timidez ou medo não souber declarar em versos,
todo o seu sentimento.
Se não conseguir soltar a voz pra verbalizar uma declaração de amor,
e não atrever-se, e nem revelar-se ao outro com ternura,
e fazer de sua mudez um ato de solidão...
Podes até emudecer,
embriagar-se de silêncio,
ou calar-se por uma vida.
Mas, pode e precisas urgentemente refazer a própria essência,
repaginar seu destino, reconstruir tudo o que o trouxe até aqui.
Podes... falar com o silêncio dos olhos, o que de vivaz tem nele,
no seu luzir, no seu resplandecer, no fulgor do seu viver.
Olhe com a pureza de um menino, jamais deixe de falar com os olhos.
Olhe com amor, as criaturas e o universo.
Se não conseguir soltar a voz...
Afague com o toque a face de quem amas,
e com um leve e suave gesto manifeste o seu afeto... em silêncio.
Acalente-a, traga-a junto ao peito,
se não conseguir soltar a voz,
olhe-a com toda a suavidade da alma
e que em gritos... faça-se silêncio,
e que em silêncio... amor.

Ari Mota

quarta-feira, 23 de junho de 2010

PERSPECTIVA



Que em vez de olhar em retrospectiva o que viveu,
possa em perspectiva ter um olhar ao que ainda viverá.
Ao que ainda poderá em chance esculpir, criar, desenvolver,
ao que ainda terá que construir pelos caminhos da vida,
ao que sua imensa capacidade de resiliência suportar.
Que o desalento não envolva o seu existir,
nem sua infinita procura pelo recomeço, pelo resistir,
nem atropele o seu permanecer, ou ofusque o seu percorrer.
Que em perspectiva possa conjecturar a esperança,
e agendar para os próximos anos, pelo menos... ser feliz.
Não deixar pela estrada fragmentos da alma,
nem em descaso... o pranto do medo, da inquietação,
do olhar em desespero, em vazios... ao acaso.
Que saiba suportar a solidez da solidão,
e o silencio em gritos... dos que partem, sem dizer adeus.
Que em perspectiva possa esculpir um riso resoluto,
um criar despretensioso, sem a avidez do lucro,
sem o despertar da voracidade do poder.
Que em perspectiva projete para o seu andar,
a singeleza do afago, do carinho sem permuta,
do abraço ingênuo, do toque sincero, do beijo sem culpa.
Que nunca perca o desabrochar do riso, e a sutileza da graça,
que ao agendar a vida para os próximos anos,
agregue aos sentimentos... uma intensidade maior de amor,
e faça dos sonhos perspectivas para a continuidade,
do existir... um transitar lúdico,
uma comemoração sem igual.
Exista por amor.

Ari Mota

domingo, 20 de junho de 2010

AINDA HÁ TEMPO


Desengavete projetos esquecidos no fundo da alma.
Os retire do ostracismo que você impôs aos seus sonhos,
ao banimento que causou aos seus devaneios.
Faça ressurgir as ilusões perdidas e
redescubra o despertar das fantasias.
Não leve a sério seus fracassos,
nem queira morrer de vergonha de suas quedas.
Brinque com seu destino, gargalhe futilidade ao seu ouvido,
e retire esta sisudez da cara, e a substitua por um difuso sorriso.
Desengavete aquela pureza da juventude... que escondeu do mundo,
e que lamentavelmente a substituiu pela velocidade contemporânea.
Ainda há tempo da descoberta... da reconstrução dos sonhos.
Se... optou em amealhar coisas, em vez de sentimentos,
ainda há tempo, de se entregar ao amor e amar.
Se... destilou repulsa a alguém, em vez de cobri-la de afagos,
ainda há tempo, de render-se aos delírios do apaixonar-se.
Se... desafiou a delicadeza e distribuiu rancores,
em vez de cultivar a paz, e fez de seu existir uma guerra sem fim,
ainda há tempo, de deixar-se seduzir pela leveza do encontro.
Desengavete o sentimento que por timidez não esboçou,
o abraço que por insensatez não ofertou,
o olhar coberto de ternura que renegou,
ainda há tempo... de você ser feliz.

Ari mota

quinta-feira, 17 de junho de 2010

REATAR


Haverá um tempo em que não necessitará nem começar,
nem recomeçar.
Tão pouco celebrar o início da sua vida, ou preparar o fim.
Haverá um tempo em sua vida que deverá solenizar o reencontro,
reatar.
Reatar amores, canções, amigos, e sonhos.
Vasculhar o passado e retirar dele o que ainda resta de puro,
de belo, de humano.
E invadir a alma e remexer nos depósitos do esquecimento,
no exílio involuntário que o existir lhe impôs,
e reatar todos os sentimentos... os que ficaram perdidos,
ou os que se perderam com os desafetos,
os desamores, o adverso.
E reatar é... de todos os momentos da vida, o mais imaculado,
é na plenitude, o acontecer da existência.
É permitir uma nova chance para o afeto, o amor.
Reatar... é ainda aceitar e refazer um abraço, um carinho.
É ainda fazer ressurgir o doar-se...
quando não pode,
quando não quis,
quando não permitiram.
Reatar é permitir a benevolência sobrepor ao ódio,
e a delicadeza suprimir a indiferença.
Reatar é reencontrar o amor que se perdeu de si próprio.
É olhar para o passado
e não permitir esquecer o que se pode
amar eternamente.

Ari Mota

segunda-feira, 14 de junho de 2010

UM POVO INVISÍVEL


  
Emerge um País abstrato a cada 4 anos,
explode um patriotismo ufanista em todos os recantos,
são trinta dias que o povo faz eclipsar a realidade,
e somos acometidos de uma euforia coletiva,
de um vociferar exacerbado na hora do gol,
e de repente... acontece o despertar de um povo invisível.
E somos assim...
E realmente somos vencedores no drible majestoso,
no toque suntuoso com a esfera de couro,
que cai dentro da rede do adversário.
E haveremos de vencer sempre... e como é bom.
Mas, ser brasileiro de forma sazonal é hipocrisia,
temos que sê-lo uma vida, gerações, toda uma existência.
Nada adiantará o despertar de um povo invisível,
de tempos em tempos.
Temos que vencer primeiro nossos medos,
e num tempo posterior... vencer:
Os corruptos que nos arrancam o futuro.
Os narcotraficantes que irão dissuadir nossas crianças.
Os vendedores de vazios que nos templos iludem os incautos.
Temos que vencer na amplidão da cidadania.
Fortalecer e transformar pessoas talentosas,
em instrumentos de crescimento para uma sociedade mais justa.
Que saibamos emergir da invisibilidade... sempre,
que não sejamos patriotas de chuteiras,
que saibamos vencer todos os dias,
e fazer desta nação um lugar melhor para se viver.

Ari Mota

sexta-feira, 11 de junho de 2010

NAMORADA


Tudo começou como uma paixão,
e paixão é a arte da descoberta,
do descortinar, do abrir a alma,
entregar-se como o vento entrega-se ao mar.
E o fiz a você...
sem confins, sem dimensão do horizonte,
sem ser cerceado pela incerteza do encontro,
ou render-se ao medo do abandono,
da solidão.
Tudo começou com um partilhar de olhares,
uma sensação singular, um encontro de outras vidas,
um toque de pele, um desejo inconcebível,
uma aflição juvenil.
Tudo começou com um beijo retirado as pressas dos teus lábios,
um cercar de braços em seu corpo, e um aperto junto ao meu,
em delírios,
e depois, um aspirar do explicito perfume da sua pura inocência,
da infinita fantasia,
e do extremo capricho em apaixonar-se em demasia.
Tudo começou como uma paixão, um gracejo da juventude,
e o tempo foi passando, vertendo a companhia em convivência,
e a intimidade como caminho essencial para aceitar nossas diferenças,
passei a não saber existir sem você, sem sua alma junto a minha.
Tudo começou como uma paixão desinquieta,
um encontro do acaso, uma escassez de afago,
uma ausência, um descuido... uma falta de abrigo.
Mas, deveras tudo escapou ao tempo, que de tão intenso,
que de tão imenso, tudo foi muito pouco, 
fiz do efêmero... uma vida, um encontro.
Fiz de ti, minha bailarina louca...
E rodopiei ao luar, enamorei coladinho ao seu corpo,
ao som de uma orquestra de borboletas azuis.
Tudo começou como uma paixão,
e no final e em algum momento um compromete-se ao outro,
apaixonar-se para o resto de suas vidas.
Fiz de ti... minha namorada,
com amor.

Ari Mota

 

quinta-feira, 10 de junho de 2010

QUANDO EU FOR EMBORA



Se algum dia me procurar,
e se por acaso, não me encontrar.
Fui passear do outro lado do sonho.
Todas as vezes que quis voar,
sempre, os temporais não deixaram,
alçar o meu vôo... foi sempre difícil,
e todas às vezes, as amarras me deixavam
preso ao chão e nunca, na verdade
pude ir embora, sem dizer adeus.
Mas, se por ventura não me encontrar,
faça um esforço para me achar.
Posso estar neste vento frio,
que fere sua pele... e você não sente.
Posso estar nesta chuva, que molha
sua alma... e você não sente.
Posso estar neste chão, que pisas,
e você não sente.
Posso estar um pouquinho adiante dos seus olhos,
um pouquinho além do horizonte.
Posso estar no entardecer, no amanhecer,
posso ser um pouco de sol, de lua,
um pouco de estrelas, posso estar às vezes
um pouquinho acima do seu coração.
Mas, na verdade se não me encontrar,
posso ter transformado em universo.
E se caso... tenha ocorrido,
podes-me... encontrar no silêncio,
na suavidade de uma musica,
numa montanha,
num rio profundo e calmo,
num vôo de um pássaro,
ou na suavidade de um sorriso franco
ou num olhar de um louco.
E se acaso não me encontrar,
nestes infinitos lugares,
posso estar suavemente
escondido dentro
de você.

Ari Mota

segunda-feira, 7 de junho de 2010

SILÊNCIO



Que o seu silêncio não seja um templo de solidão,
mas, um refúgio da alma.
Que encontre nele abrigo,
uma estrada,
uma trilha,
uma passarela que o leve ao outro lado,
o lado da consciência,
da lucidez.
Que o seu silêncio permita coexistir com suas verdades,
e que seja um instrumento que dimensione seus medos,
amenize suas angústias
e lhe dê equilíbrio.
Que sobre tudo possa, dar-lhe razão onde houver fúria,
e que possa fazê-lo... julgar menos,
inquirir somente a si próprio,
tolerar as diferenças,
e os desejos e sonhos dos outros.
Que o seu silêncio resgate o seu desespero,
que o faça aquietar-te,   
que tenha cátedra, e possa-lhe ensinar:
A morrer de amor, em vez de saudade.
Rir de si mesmo, em vez de verter-se em lagrimas.
Esperar mais, em vez de correr à frente do tempo.
Não subjugar-se pela ânsia,
e nem desdenhar o riso.
Que o silêncio o faça encontrar consigo mesmo,
para que jamais se sinta... só.
Que o silêncio possa fazê-lo encontrar com a própria alma,
a infinita e eterna companheira,
de todos os tempos,
de todas as vidas,
para sempre.

Ari Mota

sábado, 5 de junho de 2010

A VISITA



Não verbalize suas verdades,
elas escondem no silencio de sua alma,
resplandecem no brilho dos seus olhos,
e na expressão do seu sorriso.
Não adorne seus movimentos gesticulares,
para convencer,
nem amplie a tonalidade da voz
para dissimular ou persuadir.
Não procure subterfúgios sociais
para obter reconhecimento,
faça emergir os seus talentos,
sua infinita capacidade de criar,
inovar, fazer o diferente,
o mundo virá até você.
Não verbalize seus medos
eles são alicerces do seu existir,
são instrumentos de suas vitórias,
são intimidades do seu destino.
Não procure em outros olhares,
o que você mesmo pode ver,
nem esboce sorriso,
quando ele espelhar mentira.
Nem finja afeto,
quando houver distancia.
Não maquie em sua face afetividade,
nem unte de afeto seus abraços,
tudo vem de dentro.
Não procure em outras almas... amor,
prepare a sua... em silencio,
para que todos possam te visitar.

Ari Mota

quarta-feira, 2 de junho de 2010

SEMEAR



Se durante o caminho não conseguir semear,
não destrua outros plantios.
Se plantar cuide até a colheita,
mas, não compare a sua semente, com as dos outros.
Se, contudo os temporais destruírem o seu trabalho,
arrasar todos os sonhos, todas as sementes do existir,
lavre novamente a terra onde pisas,
semeei ali esperanças,
reinvente o caminhar.
Se durante a sua apresentação no palco da vida,
pedirem ajuda... estenda a mão,
mas dê o que podes,
sem culpa, sem censura, sem pieguice,
não simule ajuda com as coisas dos outros,
se não tens,
não dê o que não é seu.
Se durante a sua permanência, carecer de sua atuação,
não dissimule o que não és,
o que não faz,
semeei verdades.
Se durante a sua passagem, reclamar afeto,
abra a sua alma,
ame com toda a intensidade,
semeei delicadeza.
Se durante a sua vida... a vida lhe cobrar emoção,
semeei risos, abraços,
derrame sobre outras almas... alegria,
semeei amor,
por toda a vida.

Ari Mota